por Adriano Costa
Tem um samba antigo que diz assim: “Sei que choras palhaço (…) enxuga as lágrimas e me dê um abraço. E não te esqueças que és um palhaço, faça a platéia gargalhar. Um palhaço não deve chorar”. De autoria de Nelson Cavaquinho junto com Oswaldo Martins e Washington Fernandes, essa música reflete bem o momento da vida pelo qual Benjamin, mais conhecido como o palhaço Pangaré, vem passando a frente do seu circo que viaja com o lúdico nome de “Esperança”.
No Brasil dos anos 70, o circo que Benjamin comanda junto com o pai Valdemar (o palhaço Puro Sangue) se mete em cidades pequenas espalhando um pouco de alegria e batalhando para sobreviver. Junto aos dois palhaços interpretados por Selton Mello e Paulo José (em um trabalho soberbo), se reúne uma turma de desajeitados que a sua maneira própria constituem uma espécie de família. Uma família que, na cabeça de Benjamin, parece que não lhe serve como antigamente.
Assim funciona “O Palhaço”, novo filme de Selton Mello como diretor após o bom “Feliz Natal”, de 2008. Contando novamente com a ajuda de Marcelo Vindicatto no roteiro, o cenário que se vê é quase que plenamente diferente do primeiro trabalho. Em comum aos dois filmes talvez fique somente o silêncio imposto em alguns momentos. No mais, “O Palhaço” é uma alegoria de drama com comédia em tom menor, onde o pano de fundo é a busca por se encontrar.
Enquanto o circo se apresenta para públicos de 30, 40, 50 pessoas e repete as mesmas piadas envolvendo o prefeito, o vagabundo e o local de prostituição da cidade, Benjamim parece cada vez mais distante e sem tesão para continuar. As coisas não vêm dando certo e falta dinheiro para comprar desde um ventilador até um sutiã novo para uma integrante da trupe. Mesmo sem muita habilidade emocional, cresce cada vez mais a vontade de mudar, de conhecer novas estradas.
A situação pela qual o personagem de Selton Mello passa é comum a todos em algum grau da vida. Chega sem explicar aquele dia em que você pensa seriamente se o que está fazendo te faz feliz, te completa de alguma maneira. A esse sentimento tão comum, “O Palhaço” insere pequenas pinceladas de fantasia e emoção, embarcadas com sabedoria na direção de arte de Claudio Amaral Peixoto, na fotografia de Adrian Teijido e na música de Plínio Profeta. Um mosaico de beleza e dor.
O longa também é um balcão de homenagens que vai desde “Bye Bye Brasil” (filme de Cacá Diegues de 1979) e Os Trapalhões até Charles Chaplin e Oscarito. Presenças rápidas como a de Moacyr Franco e Ferrugem dão um brilho ainda maior a um trabalho feito na medida certa para encantar. Quem morou no interior e viu circos iguais ao Esperança na juventude, vai sentir uma doce nostalgia no coração enquanto assiste a busca do palhaço Pangaré por sorrisos também na sua própria vida.
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– Textos: Adriano Mello Costa (siga @coisapop) assina o blog Coisa Pop
Pouca gente, tenho certeza, teve o privilegio de ver o filme como eu assisti. Numa comunidade ribeirinha, às margens do rio Madeira, em Porto Velho, Rondônia. era parte da programação do Festcine AMazonia. Choveu e soba lona de circo, a comunidade pode contemplar esse belo filme e depois ainda ter a apresentação do palhaço Kuxixo, que aparece no filme de mello.
momento pra se guardar na memoria.
Que massa, Ismael.
Nessa eu queria ter estado.
Não tem jeito, as coisas simples são as que o coração mais gosta.
O Palhaço é a música mais linda do Nelson Cavaquinho.
Tem um trecho que diz: “Sei que choras, palhaço, por alguém que não te ama”
O palhaço nessa frase serve como substantivo e adjetivo.
Fodona!
Infelizmente ainda não vi o filme. Tem essa música na trilha, Adriano?
Zé, não tem a música do Nelson Cavaquinho na trilha não (pelo menos durante o filme). E Ismael, deve ter sido muito especial esse momento. Queria ter estado lá também.
Se fosse pra dar nota daria um Bom – (menos). Bom por causa da história e atores e menos porque em muitos momentos fica chato. E eu gosto de filmes “chatos”. 🙂
Vale a pena ver o documentário que a GNT passou chamado Palhaço.doc com o making of do filme e comentários dos atores. Passou ontem (domingo), talvez reprise outro dia…