texto por Pedro Salgado, de Lisboa
foto por João Salema
Um recinto lotado de garotos e garotas com roupas alternativas, vários clones femininos de Lovefoxxx, alguns Warhol boys, muitos casacos e um predomínio ainda maior de máquinas fotográficas digitais. Todos os caminhos iam dar à Sala TMN ao Vivo, em Lisboa, onde as meninas do Cansei de Ser Sexy iriam se apresentar ao vivo (sem a presença de Adriano Cintra, que deixou a banda em meio a polêmicas no último dia 11/11).
A new wave dos locais d’Os Lábios iniciou a primeira parte da noite fria de 28 de Novembro, numa prestação empenhada, ancorada na seção rítmica do grupo e no appeal da cantora San de Palma. Os hits “Diva Não!” e “Ocupa O Teu Lugar (Olho Em Ti)” aqueceram os presentes e a base de fãs da banda portuguesa seguramente ficou alargada.
Não demorou muito para que o fogo ateasse a valer com a chegada do CSS. Sem perder tempo, as meninas detonaram uma dose tripla de rock pesado, com expoente máximo em “Off The Hook” e “La Liberación”, levando os espectadores a loucura. Lovefoxxx ainda é o centro das atenções e surge usando um casaco vistoso e uma peruca negra (que quando retirada vislumbra seu novo visual: ela agora é loura), bamboleando e fazendo coreografias no palco e enveredando mais do que uma vez num stage-diving sendo celebrada pelo público como uma autêntica diva.
A correnteza de hits, geradora de histeria total, continuou com a oitentista “Hits Me Like A Rock” e “Music Is My Hot Sex”. E se é verdade que Lovefoxxx é a enfant terrible, não convém esquecer que a música das paulistas respira muito da serenidade em combustão de Luiza Sá ou da pegada insistente de Carolina Parra e Ana Rezende sem esquecer o dinamismo do baixista e baterista de serviço. Um dos exemplos mais claros de um modo de fundir o som de diferentes elementos num só chegou na veraneante “Echo Of Love”, mas a rendição pop chiclete mais dançável de “Move” foi um dos grandes momentos do show.
Durante o concerto, a cantora arrancou sorrisos da multidão quando referiu que “A banda está muito feliz por estar em Portugal”, depois da chuvosa passagem pela Escandinávia, e acrescentou: “Já comemos pencas de bacalhau”. Depois revelou que “O Cansei de Ser Sexy estará em São Paulo no mês de Abril de 2012”. Após o exercício de punk canónico de “Fuck Everything”, seguiram-se “Alala”, qual festa colegial americana com as meninas em pleno hedonismo (algo que “Let’s Make Love” já tinha anunciado), cabendo a “City Grrrl” o papel de ampliar a agitação dos corpos.
No encore, prolongou-se a melhor segunda-feira da vida de muita gente. Pela força percussiva de “Art Bitch”, no retomar das coordenadas roqueiras em “Beautiful Song” e no final catártico com “Superafim” (veja o set list completo aqui). Mais do que uma noite em que o favorável público português aclamou o electropop do CSS, foi uma apresentação que celebrou a amizade entre as quatro garotas concretizada no bom ambiente geral, num rap conjunto, na cumplicidade de olhares e até em momentos divertidos. Convém dizer que o som do Cansei de Ser Sexy está mais poderoso. Efeito pós-Adriano Cintra? Veremos.
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui
Leia também:-
– Marcelo Camelo ao vivo em Lisboa, agosto de 2011, por Pedro Salgado (aqui)
– Entrevista: Os Lábios, despreocupação, provocação e alma, por Pedro Salgado (aqui)
– CSS ao vivo em São Paulo, abril de 2011, por Tiago Agostini (aqui)
– Scream & Yell entrevista Adriano Cintra, novembro de 2005, por Marcelo Costa (aqui)
Pelo que entendi no comunicado do Adriano Cintra, o que ele proibiu de tocarem foram as bases que ele gravou para os shows, e não as canções em si.
A declaração tá aqui, ele fala aos 36 segundos do vídeo: http://movethatjukebox.com/adriano-cintra-fala-sobre-sua-saida-do-css-e-divulga-faixa-inedita-de-novo-projeto/
Valeu, Gregório. Num primeiro momento ele dava a entender que havia proibido o uso das músicas, mas ele estava mesmo falando das backing tracks, as bases.