por Marcelo Costa
O mercado de música passa por uma transformação intensa, mas as pessoas não deixaram de ouvir canções. Para os artistas independentes, distantes das grandes gravadoras e dos meios de comunicação, a internet tornou-se uma poderosa aliada, e a cada ano que passa aumenta o número de novos discos disponibilizados gratuitamente pelo próprio artista. O que interessa é ser ouvido, parece ser a frase de ordem.
“É assim que se distribui a música de hoje”, acredita Romulo Fróes defendendo os downloads. Romulo criou um blog para disponibilizar “Um Labirinto em Cada Pé”, seu quarto disco – que se aproxima dos 2.400 downloads. “É desse modo que minha música encontrará seu público”, defende o compositor.
Para Diogo Soares, vocalista da banda acreana Los Porongas, a facilidade de contato com o público influenciou na decisão de liberar “O Segundo Depois do Silêncio”, novo disco do quarteto: “A gente decidiu fazer isso por vários motivos, mas o principal foi a facilidade com que o público poderia acessar nosso novo trabalho. Acho que é uma atitude elegante e condizente com esse tempo em que a gente vive e faz música”.
O carioca Lê Almeida, responsável pelo selo independente Transfusão Records, já lançou single em compacto de vinil, mas todos os seus discos (e de seu selo) estão disponibilizados gratuitamente no endereço online – incluindo “Mono Maçã”, seu novo álbum. “Minha ideia sempre foi atingir pessoas que curtem os bons sons com facilidade. Acho que basicamente foi só isso já que quem quer ter o disco vai ter independente dos downloads”, aposta Lê Almeida.
Pélico, por sua vez, não colocou “Que Isso Fique Entre Nós”, seu segundo disco, imediatamente para download, mas agora disponibilizou um link em seu próprio site para que as pessoas possam baixar o álbum. “O CD físico nas lojas é mais uma comprovação de que ele existe e foi lançado, do que uma boa forma de negócio. A venda de MP3 em lojas virtuais ainda é confusa e burocrática no Brasil. Então resolvi botar meu bloco na rua”, diz o músico.
Já para Pedro Bonifrate, que mantém uma carreira solo paralela ao Supercordas, disponibilizar o álbum é um escolha óbvia. “Mesmo que alguém tivesse se interessado em prensar e o disco fosse editado oficialmente, eu mesmo plantaria clandestinamente em blogs, Soulseek ou o que fosse. Quero que as pessoas escutem o disco, e só vejo essa maneira”, diz o compositor que está lançando seu terceiro trabalho, “Um Futuro Incerto” (os anteriores, “Sapos Alquímicos na Era Espacial”, de 2002, e “Os Anões da Villa do Magma”, de 2007, também foram liberados gratuitamente).
“Não sou um entusiasta do estado em que se encontra o mercado musical brasileiro”, desabafa Bonifrate. “Não acho justo que não haja recompensa material direta por esse trabalho, principalmente considerando a abrangência e a popularidade que ele alcançou. Mas essa é a lama em que estamos hoje em dia”, explica, completando: “O disco só abre portas pra que um outro tipo de trabalho (menor em diversos aspectos) tenha lugar”.
Fabio Andrade, responsável pelo projeto Driving Music, que acabou de lançar o disco “Comic Sans” diz que não vê motivo para um artista restringir o acesso à sua obra. “Se o disco do Driving Music fosse bancado por uma gravadora, e com isso se tornasse “capital” deles, talvez fizesse sentido para a gravadora restringir esse acesso, para lucrar com essa restrição. Para mim, como artista, interessa que o maior número de pessoas tenha acesso à obra, e a internet ajuda muito nisso”, opina.
Cícero Lins, cujo debute “Canções de Apartamento” vem sendo bastante elogiado, não acredita numa reviravolta da indústria. “Decidi liberar o disco na internet porque, pra mim, não faz muito sentido vender discos se você é um artista independente. E acho que, em algum tempo, talvez não faça mais sentido vender discos, no geral”, acredita.
A banda curitibana Humanish acredita que o download gratuito “é um dos atalhos de divulgação que um artista novo precisa usar pra ser conhecido”. Segundo o guitarrista e vocalista Marano, “vale lembrar que no caso da Humanish e de outros artistas, nós fazemos uma troca, liberando o disco pra download desde que o usuário nos forneça seu e-mail e cidade onde reside. Assim a banda mapeia os números de downloads em cada cidade, podendo investir/viabilizar shows pra formação de público”.
Confira abaixo uma lista com 15 discos liberados pelos próprios artistas em seus endereços pessoais. Baixe, ouça e divulgue para os amigos. Uma nova música brasileira está surgindo.
“Bem-Vindo à Navagação”, André Mendes
Download: http://www.andremendesmusica.com.br/
Primeiro disco solo do ex-vocalista e guitarrista do Maria Bacana.
“Um Futuro Inteiro”, Pedro Bonifrate
Download: http://bonifratemusic.wordpress.com/
Pedro Bonifrate é vocalista do Supercordas e faz algo próximo de um pop folk espacial
“Canções de Apartamento”, Cícero Lins
Download: http://www.cicero.net.br/
Cícero Lins é ex-vocalista da banda carioca Alice. “Canções de Apartamento” é um disco sobre solidão e saudades, abandonos, fugas e paixões antigas.
“Nó na Orelha”, Criolo
Download: http://criolo.art.br/criolononaorelhahotsite/
Criolo lançou seu primeiro disco, “Ainda Há Tempo”, em 2006. Este “Nó Na Orelha” amplia o leque do rapper, que agora também canta bonitos sambas, reggae e baladas.
“Comic Sans”, Driving Music
Download: http://driving-music.net/home/
Banda de um homem só, o mineiro Fabio Andrade, o Driving Music já tinha liberado EPs e covers (de New Order e National). “Comic Sans” é seu primeiro álbum completo.
“Compacto 2011”, Giancarlo Rufatto
Download: http://giancarlorufatto.blogspot.com/
Prolífico compositor paranaense que tem em seu blog vários singles e álbuns disponíveis para download. “Compacto 2011” é seu mais recente lançamento, mas tente também “Machismo”, bom disco do ano passado.
“Humanish”, Humanish
Download: http://www.humanish.com.br/
Disco de estreia da banda que conta com 3/4 do Terminal Guadalupe (o guitarrista Allan Yokohama, o baterista Fabiano Ferronato e o baixista Marano – aqui também na voz) mais Igor Ribeiro (sintetizadores e sax).
“Mono Maçã”, Lê Almeida
Download: http://transfusaonoiserecords.blogspot.com/2011
Lê Almeida é um dos heróis da cena independente carioca atual produzindo e lançando seus discos (assim como o de várias outras bandas) pelo selo Transfusão Noise Records.
“O Segundo Depois do Silêncio”, Los Porongas
Download: http://losporongas.baritonerecords.com.br/
Segundo álbum da banda acreana, “O Segundo Depois do Silêncio” apresenta um grupo muito mais maduro numa pegada que abraça o rock clássico sem largar a mão da MPB dos anos 70.
“Minha Economia”, Ludov
Download: http://ludov.com.br/2011/09/06/download-do-ep_minha-economia/
Novo trabalho do Ludov, “Minha Economia” foi produzido por Mauro Motoki e Habacuque Lima, gravado e mixado por Mauro Motoki entre julho e agosto de 2011 no Estúdio 12 Dólares/SP e conta com quatro músicas.
“Amarénenhuma”, Nuda
Download: http://nuda.com.br/
Após um bom EP lançado em 2008 (“Menos Cor Mais Quem”), os recifenses da Nuda tentam aproximar a MPB do indie em um disco cativante.
“Que Isso Fique Entre Nós”, Pélico
Download: http://pelico.com.br/
Após o excelente “O Último Dia de Um Homem Sem Juízo” (2008), Pélico decidiu dar uma folga para as distorções de guitarra buscando conforto no clarinete, no fagote e na sanfona neste segundo álbum.
“Canções de Guerra”, Pública
Download: http://www.publicaoficial.com/
Terceiro disco dos gaúchos, “Canções de Guerra” apresenta uma espécie de introspecção melódica até então sutil na discografia da banda.
“Um Labirinto em Cada Pé”, Romulo Fróes
Download: http://www.umlabirintoemcadape.blogspot.com/
Em seu quarto álbum, Romulo Fróes parece ter alcançado a formação ideal para executar suas canções chocando a guitarra rebelde de Guilherme Held com o cavaquinho jeitoso de Rodrigo Campos.
“Direito de Ser Nada”, Violins
Download: http://www.violins.com.br/
No disco do quarteto goiano, que disponibiliza o álbum gratuitamente em 192kbps no site oficial ao lado de uma versão de 320kbps com uma música bônus por R$ 10
Leia também:
– Conheça outros discos que podem ser baixados de forma gratuita (aqui)
– Três vídeos: Bonifrate ao vivo em São Paulo, por Marcelo Costa (aqui)
– Entrevista: Cícero, Confessional do primeiro ao último verso, por Jorge Wagner (aqui)
– Criolo: na linha de frente da quebra de preconceitos, por Bruno Capelas (aqui)
– Giancarlo Rufatto: “Tento fazer alguma coisa o mais universal possível” (aqui)
– Cinismo e ceticismo não cabem no universo do Los Porongas, por Ismael Machado (aqui)
– Pública: Pedro Metz revela a influência de São Paulo no novo trabalho, por Murilo Basso (aqui)
– Romulo Fróes: “Agora é preciso voltar a falar de música”, por Renata Arruda (aqui)
Ainda acredito que se libera downloads pelo fato da distribuição dos selos ser inócua,então faz-se o que pode.Se for usado como ferramenta de marketing é muito válido,agora é dificil não pensar que pode ser também cair no lugar comum dos arquivos,que são milhões e quase não são utilizados,ao mesmo tempo que o valor da musica cai muito.Eu mesmo gostaria de ter alguns desses discos em cd mesmo,só que é dificil encontrar,visto que ficam preferindo arrotá-los na internet.Não sei se uma nova musica está nascendo,Mac.Você precisa de dinheiro no independente também.
Incluiria ai nessa lista o excelente disco Lira, do Lirinha (ex-cordel do fogo encantado)
tá de grátis aqui: http://www.josepaesdelira.net/
Não sei se o da Anelis Assumpção tá de grátis por vontade própria…
O que sei é que vale a pena ouvir.
Gostei muito.
Também colocaria uma banda carioca:
Djangos
http://www.djangos.com.br
Sugiro a todos vocês que baixem o 3º CD da Dias de Truta, banda aqui de Divinópolis-MG. Influencia de Raul Seixas, Rock Rural, Tianastácia… O disco pode ser ouvido em streaming no meu tumblr
http://amaral83.tumblr.com/post/9570641893/dias-de-truta-engolindo-notas-cuspindo-musica
e lá tem o link pro site dos caras, onde todos os discos estão disponíveis para download.
Abraço!
Belas indicações, inclusive uns que eu mesmo já resenhei para o Gramofone Virtual.
Lá tem outros tantos discos da música independente para download liberado pelos próprios artistas. Olha: http://gramofonevirtual.blogspot.com/
Disponibilizar na net para baixar ou não ? Essa é a grande discussão dos nossos dias. Mas, sou levado a concordar com o Humanish, é uma ferramenta muito útil para dar a conhecer o som de uma banda. E se resultar, aparece mais gente nos shows, o interesse pelo grupo aumenta e daí vai em espiral. Além disso, é certo e sabido que os compradores do CD físico, e apaixonados pela capa e inlay, dão sempre à costa…
Senti falta da excelente Harmada.
É que essa lista, Maely, são de discos disponibilizados gratuitamente pelos próprios artistas, que criaram um site ou blog e eles mesmos colocaram seus discos para download gratuito. Ou seja, não está hospedado em algum lugar extra banda (como o disco do Harmada, que é excelente e está na Trama Virtual – já até fizemos entrevista com eles aqui no site)