por Pedro Salgado, especial de Lisboa
Um simples “Olá!” do artista e um começo demolidor foram o tônico suficiente para um show bonito de se ver e em que o público lisboeta emprestou a sua tradicional parcela de energia e interação. Começo demolidor porque Marcelo Camelo e a sua pequena orquestra de nove músicos iniciaram a atuação com uma boa dupla de canções novas: “Ô Ô” e “A Noite” brilharam pela intensidade vocal, ancorada na magia dos metais e na força do conjunto.
Após interpretar uma dançante versão de “Menina Bordada”, o antigo cantor do Los Hermanos revelou a sua “enorme felicidade de estar em Portugal”. Se é certo que a noite de 6 de Agosto, em pleno verão português, estava convidativa ao espetáculo, não é menos verdade que a maior parte das pessoas presentes, num espaço situado nas margens do rio Tejo, sentia uma enorme identificação com as letras das canções não se inibindo de as cantar em uníssono.
Num momento de calmaria e de transe, que percorreu a lotada Sala TMN ao Vivo em Lisboa, Camelo apresentou o hit “Janta” de forma acústica, com intervenção delicada da banda, fazendo a vez de Mallu Magalhães nas estrofes em inglês, destilando poesia pura e provocando uma enorme salva de palmas. Uma forma diferente de sintonia seria alcançada com o tema “A Outra”, qual alquimia que celebra os amantes e põe os casais a dançar.
Perante os pedidos da multidão por um tema dos Los Hermanos, o cantor carioca anuiu e foi servida uma “Morena” que comprovou a capacidade instrumental do músico brasileiro, no embalo do dedilhar da guitarra elétrica. Sentir a música pela própria vida da música traduziu-se em “Três Dias”, camada após camada as tonalidades da canção passaram pela eletricidade, calmaria e um mantra: “Se faltar a paz, Minas Gerais”.
Seguiu-se o instrumental “Halijascar”, dos músicos do Hurtmold, ocasião para Marcelo Camelo se retirar do palco e voltar pouco depois falando da vinda do seu irmão Tico para Lisboa. “Ele vem viver aqui durante quatro meses e vai escrever um livro sobre Portugal”, e fez um apelo: “Tratem-no bem”.
Os quatro temas finais passaram pela comovente “Santa Chuva”, a tropical “Pra Te Acalmar”, a carnavalesca, festiva e muito bem recebida “Copacabana” e o grand finale assegurado por mais uma faixa da sua eterna banda: “Além do Que Se Vê”. Para quem esperava uma rendição mais leve do que o átomo dos seus temas de estúdio, Camelo respondeu com as cores vibrantes de um simples toque dela, seu e de muitos mais.
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– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell
Leia também:
– Do Amor: “Gostariamos de conhecer mais bandas portuguesas”, por Pedro Salgado (aqui)
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– “Sou”, de Marcelo Camelo, é um disco chaaaaaaato, por Marcelo Costa (aqui)
– Los Hermanas lidera lista dos Melhores dos Anos 00 com dois discos no topo (aqui)
Ótimo texto!!!
“no embalo do dedilhar”, “destilando poesia pura”…
Texto de fã xiita diga-se de passagem. Mas não tiro o mérito, imagina!
Escrevi um texto sobre os dez anos do ‘Bloco…’ aqui:
http://aboutthepassion.blogspot.com/2011/08/bloco-do-eu-sozinho-10-anos.html
Vai soar xiita tb, principalmente pra quem não suporta a banda… A verdade é que considero um dos grandes discos da música brasileira recente.
Não só você:
https://screamyell.com.br/site/2009/12/09/os-ultimos-dez-anos-na-musica-pop/
lindeza de texto.
é tão bom quando quem escreve entra no mesmo tom de quem toca…
Não só você(3)
Não sei o que é pior fãs xiitas ou fãs do contra e fundamentalistas…
Muito bom o texto.