por Márcio Padrão
Aos 46 anos, Eddie Vedder já foi, ou ainda é, muita coisa. Surfista, jogador de basquete, vocalista e compositor do Pearl Jam, salvação do rock, ícone do grunge, porta-voz de uma geração, combatente do capitalismo selvagem de uma empresa de ingressos, vegetariano, rockstar com tendência para o estilo de vida “coxinha”. Agora Eddie encara de frente sua meia idade em um disco introspectivo e direto ao ponto até no título: “Ukulele Songs” é basicamente Vedder encarando mais uma vez seus fantasmas pessoais munido de uma guitarrinha havaiana. Ele já vem ficando íntimo de pequenos instrumentos de corda, pois havia flertado com o bandolim no seu disco anterior, a trilha sonora “Into The Wild”.
Parece sintomático que Eddie tenha lançado seu novo álbum solo tão próximo de “Demolished Thoughts”, o novo de Thurston Moore, em meio a uma atmosfera favorável a um revival do rock garageiro que reinou no início dos anos 90. Thurston e Eddie são dois expoentes dessa geração, mas com trajetórias bastante distintas. O primeiro consolidou-se no Sonic Youth como guitar hero pós-moderno, desconstruindo melodias e falando da vidinha besta da geração X novaiorquina.
Já Eddie Vedder, emergente do outro lado dos Estados Unidos, passou a cantar o vácuo sentimental dos jovens californianos, que por tabela era o mesmo vazio berrado pelo grunge de Seattle – e ecoado em vários cantos do mundo. Assim sua banda, o Pearl Jam, tornou-se uma espécie de “intrusa” dessa cena flertando com o mainstream para depois abandoná-lo por opção, não sem passar por inúmeros conflitos internos e externos.
Mas Eddie Vedder, que não cansa de demonstrar seu desinteresse pelos enquadramentos que lhe foram impostos, seguiu o passo de Thurston e vem reforçando uma fase mais intimista, que dispensa até banda para se expressar. E nessa empreitada teve como apoio o ukulele, instrumento associado à calmaria praiana, mas que é tocado nervosamente na primeira faixa, “Can’t Keep” (canção que abre também o sétimo disco do Pearl Jam, “Riot Act”, de 2002), enquanto a letra de mensagem forte diz: “Eu não vivo para sempre (…), Eu não vou esperar por respostas / você não pode me manter aqui”.
Eddie passa a surfar marés mais calmas, como na ótima balada “Without You”, onde fala no refrão: “Eu continuarei curando todas as cicatrizes que nós ganhamos desde o começo / Eu prefiro isso a viver sem você”. O folk movido a ukulele continua em “Broken Heart”: “Eu estou bem, é só esta noite / Eu não consigo interpretar o papel / Eu estou bem, está tudo bem / É só um coração partido”. Já em “Longing to Belong”, inicia melancólico: “Eu estou caindo mais difícil do que eu já caí antes” apenas para retomar o mote romântico: “Porque todo o meu tempo é gasto aqui, desejando pertencer a você”.
O disco traz algumas covers que também passam um pouco longe do universo do Pearl Jam, como “More Than You Know” e “Tonight You Belong To Me”, duas composições de Billy Rose, hitmaker americano dos anos 30. Nesta última, Chan Marshall participa dos vocais de apoio. E o disco fecha com “Dream a Little Dream”, delicado clássico do pop já interpretado por gente da tarimba de Nat King Cole, Doris Day e Mama Cass, do Mamas and the Papas, que na versão de Eddie não teve nenhuma alteração radical.
Despido de grandes arranjos ou efeitos de produção, Eddie Vedder parece mais focado do que nunca. Cada composição de “Ukulele Songs” soa independente da outra em questões de batida ou temática, sem cair na mesmice. Você pode considerar que um dos pontos fortes do disco pode ser também o ponto fraco: a crueza dos arranjos faz pensar que algumas faixas seriam mais bem aproveitadas com uma banda por trás. Mas isso certamente quebraria a unidade que Vedder propõe ao álbum. Descarregando certas tensões, embelezando nuances e reforçando mensagens, o ex-menino de ouro do rock norte-americano parece estar revigorado e pronto para novas fases. Ao menos na carreira solo ele vem abraçando a maturidade sem pestanejar.
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Márcio Padrão (siga @mpadrao) é jornalista e assina o blog Quadrisônico
Leia também:
– “Into the Wild”: Eddie Vedder merece a sua atenção, por Marcelo Costa (aqui)
– “Into The Wild”, o filme, valoriza as relações humanas, por Marcelo Costa (aqui)
– “Até os números calmos funcionam em Backspace, do Pearl Jam”, por Marcelo Costa (aqui)
– Top Ten – Os meus dez melhores shows internacionais até 2007, por Marcelo Costa (aqui)
“A mensagem forte dessa música é o mais próximo que Vedder se encontrará, neste álbum, do estilo hard rock dos primeiros anos do Pearl Jam”
Essa música é do Pearl Jam… É a primeira faixa do Riot Act…
Valeu, Tiago!
Não há de que!
No mais, gostei do texto. Deu vontade de ouvir. Pearl Jam é minha banda preferida e eu não tinha ouvido nem o disco e nem lido uma crítica positiva dele. Li justamente o contrário (não lembro onde): que as faixas pareciam-se muito umas com as outras e que, por isso, o álbum cansava. Vou conferir…
Me surpreendeu muita gente descendo o cacete no Vedder só porque ele resolveu fazer um disco com ukulele. É um disco despretensioso, e tá bem bonito. Talvez ele apele um pouquinho quando usa arranjo de cordas em algumas músicas, pra reforçar mais um ou outro clima, mas ainda assim vale a pena a escutada.
gostei do texto. mas ele poderia ser dez sem coisinhas como ‘rockstar com tendência para o estilo de vida “coxinha”.
mas deu vontade de ouvir, como quase tudo feito por pearl jam e cia
Eu simplesmente AMEI Ukulele Songs. na minha opnião, todas as faixas são sensacionais, é uma melhor que a outra! a minha preferida é Without you. Pearl Jam é uma das minhas bandas favoritas. Acho o Vedder um cara fodástico! alem de ser muito fofo rs
Ukulele songs mim ganhou! amei!
parabéns pela resenha… a melhor sobre o disco que vi até hoje
Just wanna tell that is useful, Thanks for taking your energy to this.