por Marcelo Costa
fotos por Liliane Callegari
Pouco mais de um ano atrás, Romulo Fróes se apresentou em uma Festa Scream & Yell, na Casa Dissenso, e fez um show tão bom, tão próximo da perfeição, que a imaginação não acreditava que ele e banda pudessem avançar ainda mais neste território. Felizmente, ledo engano. A estreia do show “Um Labirinto em Cada Pé”, no Sesc Pompéia, concentrada nas canções do disco homônimo, não só foi ainda melhor como flagra o avanço inspirado de Romulo Fróes como banda – agora um sexteto.
A evolução foi natural. Romulo formou o núcleo do novo grupo após as gravações de “No Chão, Sem o Chão” (entre 2007 e 2008) – que registra o momento exato em que a guitarra de Guilherme Held (um dos grandes guitarristas da atualidade) passa a ter uma função mais explicita nas canções de Romulo Fróes – sendo que o baixista Marcelo Cabral ao lado do baterista Pedro Ito fizeram sua estreia ao vivo exatamente no show de lançamento do disco, no mesmo Sesc Pompéia, em 2009.
Dois anos se passaram e a sonoridade do grupo, acrescido agora de Rodrigo Campos (violão e cavaquinho) e Thiago França (sax), soa impecável. No palco, o quinteto que acompanha Romulo Fróes vive um momento de execução explosiva que preenche totalmente os espaços das canções – e muitas vezes os transcende. Há uma forte tensão no ar, um sentimento de risco, algo como se a música e a própria banda estivessem tocando no limite extremo da paixão, e o resultado é extremamente arrebatador.
O show começa com o teatro todo escuro preenchido pela voz de Dona Inah, na versão do disco para “Olhos da Cara”, de Nuno Ramos, à capela. Assim que a canção termina a banda entra com “O Muro”, primeira faixa do disco novo liberada por Romulo Fróes na internet. O som que invade o teatro é encorpado, denso, meio samba e meio jazz, e destaca a presença certeira do sax de Thiago França, um dos destaques da noite tanto nas linhas melodiosas quanto nas intervenções esquizofrênicas.
Comandado por Romulo Fróes, o sexteto apresenta a grande maioria das canções do recém-lançado “Um Labirinto em Cada Pé” (download gratuito liberado pelo próprio músico aqui) em versões superiores as registradas em estúdio. O entrosamento do grupo impressiona e eleva a qualidade do espetáculo. A banda soa à vontade no palco (até mesmo Romulo está se movimentando mais) e parece divertir-se com os arranjos espertos que vestem melodias simples transformando cada canção (“Máquina de Fumaça”, “Varre e Sai”, “Boneco de Piche”, “Cilada”, “Tua Beleza”) em algo maior – e melhor.
Se em seus primeiros discos, Romulo Fróes namorava uma espécie de samba torto que no decorrer da carreira encontrou o rock e saiu de mãos dadas noite afora acompanhado de cães, o novo repertório aproxima o músico de algo próximo ao jazz (principalmente pela condução de bateria exemplar de Pedro Ito). No cavaquinho e violão, Rodrigo Campos (parceiro de Romulo em três canções do disco) dá um colorido às composições e isso fica ainda mais claro quando Romulo apresenta números do disco anterior (“Para Fazer Sucesso”, “Sei Lá”), fortes, porém desnudos sem a presença do cavaquinho e do sax.
A unidade do repertório do disco é transportada para o show e a evolução do grupo pode ser atestada principalmente em canções que Romulo já vinha apresentando ao vivo desde o ano passado (“Jardineira”, “Onde Foi Que Nunca Vem”, “O Filho de Deus”), e que soam não só melhores, mas definitivas. “Quero Quero” e “Ditado” (de vocal acelerado), duas boas parcerias de Romulo com Nuno Ramos, surgem na parte final do show e servem para fazer a ponte com o bis, que traz Kiko Dinucci que toca ao lado de Romulo e Rodrigo uma canção do projeto que une os três, Passo Torto, ainda inédito.
A tampa do show é fechada com uma versão ainda mais noise de “A Anti-Musa” (“Segundo Guilherme Held, essa é a minha ‘Faroeste Cabloco’”, brincou Romulo antes de apresentar a música) do que aquela apresentada na Casa Dissenso, ano passado, com Thiago França caprichando nos efeitos (“Algo meio ‘Metal Machine Trio’”, alguém opinou) em quase dez minutos de improvisação que terminaram com Romulo Fróes, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci, Pedro Ito, Thiago França e Marcelo Cabral abraçados observando Guilherme Held finalizar o inferno sonoro encerrando um show arrasador para um dos grandes discos de 2011.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
– Liliane Callegari (@licallegari) é arquiteta e fotógrafa. Veja mais fotos da apresentação aqui
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acredito que artistas como o Romulo Froes as vezes nem saibam que em lugares mais distantes dum país gigante, como aqui em Teresina, haja tanta gente que gosta e vibra a cada investida desse cara. Muito bom Marcelo Costa.