Cinema: “À Prova de Morte”, de Quentin Tarantino

por Marcelo Costa

Lançado oficialmente em 2007, “À Prova de Morte”, de Quentin Tarantino, ficou esquecido na estante de algum executivo durante três anos até alguém tomar coragem (e também criar um pouco de vergonha na cara) para colocar a obra no mercado brasileiro. O boom do excelente “Bastardos Inglórios” (2009) ajudou a retirar o pó de “Á Prova de Morte”, que não iguala a criatividade do filme de guerra estrelado por Brad Pitt (que ficou sobre a sombra da luz de Christoph Waltz), mas tem lá seu valor.

Na época de seu lançamento, “À Prova de Morte” veio embalado no pacote “Grindhouse”, cujo irmão gêmeo univitelino era “Planeta Terror”, uma paródia hilária e sanguinária de filmes b assinada por Robert Rodriguez que contava a história de uma cidade tomada por zumbis canibais que foram infectados por um gás tóxico que o exército dos Estados Unidos utilizou indiscriminadamente em sua invasão no Oriente Médio. Os dois chegaram a ser exibidos em seqüência, como planejado, na Mostra de São Paulo em 2007, mas o fracasso do pacote obrigou a separação dos irmãos.

“À Prova de Morte” não carrega na caricatura como “Planeta Terror”, mas é tão divertido quanto, embora demore um pouco a engatar. São duas histórias distintas que se cruzam (se você ainda não viu o trailer, não veja: ele estraga metade da surpresa) no volante de Stuntman Mike (Kurt Russel, excelente), um dublê que pilota um carro à prova de morte. Stuntman Mike participa ativamente das duas histórias, mas não espere o óbvio. Tarantino prega uma pequena peça no espectador ao som de sua própria Jukebox.

Na primeira história, três garotas partem para um bar ao encontro de uma amiga. O programa noturno é bem básico: encher a cara, fumar maconha, praticar dança erótica, enviar sms (não necessariamente nessa ordem) enquanto discutem mil e uma bobagens acompanhadas de paqueras babões, que não sabem, mas não irão acompanhá-las ao sitio do pai de uma delas (o pai, no entanto, deverá aparecer para “conferir” as amigas da filha de biquíni). Porém, na hora de ir embora, as três acabam cruzando Stuntman Mike em uma estrada escura e… bummmm.

Corte.

Quatro garotas são vistas em um posto de gasolina. Uma delas está aficionada por um Dodge Challenge 1970 que viu numa propaganda de um jornal, e que é igual ao carro de Kowalski, o personagem do cult “Vanishing Point”. “Que filme é esse?”, pergunta uma das meninas. “Você era muito nova para ter visto”, comenta uma enquanto outra emenda: “Você só conhece John Hughes e “Pretty in Pink””. Como qualquer bom Tarantino, “À Prova de Morte” é recheado de citações assim, e muito de seu desfrute vai de se entender as piadas internas.

O filme segue assim como um imenso exercício de estilo cujo único intuito é divertir o espectador sentado na sala de cinema, sem cabecismos ou segundas intenções cinematográficas. É praticamente um filme sobre nada, com roteiro esburacado e belas garotas. Ali pelo meio, depois de vinte minutos de diálogos que vão de lugar nenhum para nenhum lugar, o filme dá uma bela caída, e quando você pensa que Tarantino perdeu a mão para o negócio, ele leva você para um racha emocionante que terminará de uma maneira improvável.

A trilha, como sempre, foi escolhida a dedo pelo cineasta, que assume a posição de barman dono do boteco fim de mundo em que as meninas da primeira história enchem a cara enquanto gastam fichas e fichas na jukebox. Aliás, ele também está em “Planeta Terror”, em uma cena divertidíssima que junta sua sede de sexo, seus olhos famintos e uma perna de madeira. Impagável. Cinema também é diversão, mas é preciso dizer que os dois “Grindhouse” juntos não dão um “Bastardos Inglórios”. Mesmo assim vale a ida ao cinema.

Leia também:
– “Amor à Queima Roupa”, por Marcelo Costa (aqui)
– “Kill Bill”, por Marcelo Costa (aqui)
– “Bastardos Inglórios”, por Marcelo Costa (aqui)

6 thoughts on “Cinema: “À Prova de Morte”, de Quentin Tarantino

  1. Ainda não vi Bastardos Inglórios (pecado) mas chorei de rir nesse filme como há muito tempo não fazia no cinema. Achei sensacional. Não acho o roteiro esburacado, acho muito bem feito e os diálogos são excelentes. Também não acho que não tenha maiores pretensões cinematográficas. O suspense que ele cria é de deixar mãos suadas. Digno de um Hitchcock. A fotografia também é sensacional. Para mim é um clássico, cheio de personagens incríveis e ótimos atores.

  2. Estou com a Roberta.

    Achei genial o filme, e sinceramente, que me taquem as pedras, mas achei superior ao Bastardos (Muito sono) Inglorios.

    Esse filme tem o ritmo certo, é divertido, dialogos muito bons! Eu adoro! E já o bastardinhos foi um sono só.

    Mas enfim, minha opiniao.

  3. “Cinema também é diversão, mas é preciso dizer que os dois “Grindhouse” juntos não dão um “Bastardos Inglórios”. Mesmo assim vale a ida ao cinema.”

    Bastardos Inglórios é genial, mas tenho a impressão de que você deveria ver À Prova de Morte outra(s) vez(es). Eu já vi 4 vezes e, como qualquer filme do Taranta, sempre fica melhor. Essa sensação de ser cansativo durante os diálogos é comum na primeira vez…mas depois, você nem sente.

    Falei da minha cena preferida do filme aqui: http://diversita.blog.br/blog/2010/07/21/cinema-minha-cena-preferida-de-a-prova-de-morte-quentin-tarantino-2007/

    abs

  4. Pô, vou assistir, nada melhor que um pouco de DEMÊNCIA pra aliviar a TENSÃO, né não? No mais, juro, achei Bastardos Inglórios um pé no saco. Em uma comparação direta, por exemplo, perde feio pro Kill Bill. Just my opnion.

  5. O fato é que, por mais que queiramos incensar, Tarantino fez na real mesmo dois grandes filmes: cães de aluguel e pulp fiction. o resto foi partida ganha…virou grife.

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