Pato Fu duas vezes ao vivo em SP

por Tiago Agostini
fotos por Marcelo Costa

O Pato Fu tem 18 anos de idade, mas vendo-os em cima do palco no último fim de semana (dias 24 e 25 de abril), no Sesc Pompéia, nem dá para notar a passagem do tempo – a não ser, talvez, pela careca do guitarrista John. De qualquer forma, a vitalidade daqueles jovens que se apresentavam no Faustão com sintetizadores e pulavam de um lado a outro do palco está mais contida, mas permanece intacta. O tino pelo pop esquisito também.

Com o décimo disco pronto para ser lançado após a Copa do Mundo, o Pato Fu encarou os shows não como parte da turnê de seu mais recente trabalho, “Daqui Pro Futuro” (2007) – entraram apenas quatro músicas do álbum no show – e resolveu fazer uma retrospectiva diversificada de sua discografia. Assim, as apresentações, com setlists idênticos, começaram contemplando os anos 00, com a latina “Tudo Vai Ficar Bem” seguida da nervosa versão da Graforreia Xilarmônica “Eu” e do hit assobiável “Anormal”.


O repertório repetido talvez se justifique pelo fato de o show de domingo ser gravado pelo Sesc TV. Assim, o sábado serviu como um aquecimento, um ensaio de luxo, para o show de verdade. Sorte de quem pode acompanhar as duas apresentações. Se o vigor e maior perfeição técnica de domingo encheram os olhos, a banda de sábado estava mais solta, se permitindo ousar em um show mais intimista.

No palco, pouca coisa mudou desde a última apresentação da banda no mesmo Sesc Pompéia, em dezembro de 2008. Fernanda Takai continua uma frontwoman de primeiro nível, sabendo exatamente a hora de fazer intervenções engraçadas. Mesmo contida nos movimentos, ela ocupa com graça o enorme palco do Teatro do Sesc e consegue agradar a todos os lados da platéia – o palco fica no centro, com a banda rodeada pelo público.

O baixista Ricardo Koctus e o tecladista Lulu Camargo continuam discretos, assim como ainda é o mesmo o vigor do baterista Xande Tamietti, que parece ter oito braços ao tocar. A surpresa, no entanto, fica por conta do guitarrista John. Com o bom humor habitual, neste show ele se permite ter momentos de guitar hero, circulando pelo palco com caras e bocas dignas do excelente instrumentista que é.

A primeira música da década de 90 a aparecer foi uma surpresa agradável para os fãs paulistas. “Mamãe Ama Meu Revólver”, do disco “Gol de Quem” (1995), não costuma ser tocada, tanto que a última vez que estrou no setlist foi justamente na apresentação de 2008 no mesmo Sesc Pompéia. À época, a música foi um pedido do tecladista Dudu Tsuda, paulistano que substituía Lulu Camargo temporariamente e contou à banda que “Mamãe” possuía muitos fãs na terra da garoa.

O repertório contou com outras gemas especiais para os fãs, como “O Filho Predileto de Rajneesh” (originalmente gravada pelo Sexo Explícito, primeira banda de John), a balada “Amendoim”, “Simplicidade”, num arranjo bucólico de voz e violão, bem longe do clima robótico registrado em “Toda Cura Para Todo Mal” (2005), e a versão completa de “Rotomusic de Liquidificapum”, com toda sua esquizofrenia, emendada com o “Hino Nacional do Pato Fu”.

Não faltaram os hits também. “Canção Para Você Viver Mais”, “Perdendo Dentes”, “Antes Que Seja Tarde” e “Made In Japan” – emendada com “Capetão 66.6 FM” estavam lá para garantir os momentos de cantar junto com o olhinho fechado. E, se é assim, nada melhor para fechar a primeira parte do show do que a versão açucarada de “Sobre o Tempo” que já foi até trilha de “Malhação” – vejam só. Para encerrar de vez, um bis curto que culmina com “Depois”, a música mais fofa de todas, segundo a própria Takai. Final de noite perfeito.


Veja o setlist:

Tudo Vai Ficar Bem
Eu
Anormal
Amendoim
Ando Meio Desligado
Mamãe Ama Meu Revólver
Perdendo Dentes
Uh, Uh, Uh, Lá, Lá, Lá, Ié, Ié
Simplicidade
Imperfeito
Antes que Seja Tarde
O Filho Predileto de Rajneesh
Nada Original
Rotomusic de Liquidificapum / Hino Nacional do Pato Fu
Canção Pra Você Viver Mais
Made In Japan / Capetão 66.6 FM
Woo!
Sobre o Tempo

Bis

Agridoce
Mama Papá
Depois

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Tiago Agostini é jornalista e assina o blog A Balada do Louco

14 thoughts on “Pato Fu duas vezes ao vivo em SP

  1. Pato Fu, Nação e Mundo Livre sãos os representantes que ainda permanecem incólumes dos finados 90. Só não sei quem é melhor. Ainda bem que são 3.

  2. O carisma, humildade e qualidade do Pato Fú são coisas raras no cenário atual, não são 18 anos de estrada à toa. Muito bom show, muito boa a resenha.

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