Fundo do baú: Stephen Malkmus

por Marcelo Costa
Foto: Moses Berkson

Entrevista publicada no Scream & Yell em março de 2002

No exato momento que duas pedras fundamentais do rock anos 90 são relançadas no Brasil, um dos responsáveis aporta no país para shows, bate-papos e passeios em sebo. A dobradinha de estréia do Pavement, ex-banda de Stephen Malkmus, deveria constar da lista de álbuns mais influentes da década de 90, junto com “Nevermind” do Nirvana e “Blood Sugar Sex Magic” dos Peppers. O supra-sumo do que se convencionou chamar indie-rock está ali, elevado a categória de clássico: guitarras barulhentas possuídas por feedback e distorção, levemente desafinadas unem-se a letras absurdamente inteligentes, ou, inteligentemente absurdas, como queiram.

Dez anos depois (yep, o tempo passa), Stephen Malkmus desce para o lado debaixo da linha do Equador com um belo álbum solo na mala, lançado em 2001, e sua banda, a The Jicks (formada logo após o fim do Pavement) para uma série de shows que prometem emocionar o cada vez mais representativo underground nacional. Como noticiado em outros lugares, Malkmus prometeu ensaiar uma os duas músicas do Pavement para presentear o público brasileiro, mas vindo de Malkmus, nunca se sabe (o termo “ironia” parece ter sido escrito para ele).

O S&Y conseguiu um bate-papo via email com o homem que detonou o Smashing Pumpkins em 94, tirou sarro da voz de Geddy Lee, do Rush, em 97, e hoje contenta-se em diminuir de forma preguiiçosa o ritmo das canções para cantar sobre beijos ao som de Dire Straits, fuçar sebos atrás de discos de bandas desconhecidas dos anos 70 e… se divertir com tudo isso. Confira.

O que você esperava quando decidiu montar um banda de rock? Isso, dez anos depois, se realizou?
Sem expectativas maiores do que gravar um disco, fazer uma tour… ou seja, tudo certo.

Mas qual a diferença dos tempos do Pavement, uma banda, para a carreira solo?
Eu estou mais relaxado agora, estou me divertindo mais… a mesmo vibe do começo Pavement.

Suas letras sempre são muito elogiadas. De onde saem os temas?
Dia dia, livros, histórias engraçadas.

E há uma grande influência, como letrista e como músico?
Acho que Lou Reed, principalmente por causa dos discos do Velvet.

Os dois primeiros álbuns do Pavement (“Slanted & Enchanted” e “Crooked Rain, Crooked Rain”) estão sendo relançados no Brasil agora (2001). Como você os apresentaria ao público brasileiro?
“Slanted” possui uma energia jovem que nenhum outro disco do Pavement possui… ele é bem direto, bem simples… uma boa introdução para quem não conhece o Pavement. Não é o meu disco preferido, mas eu gosto muito dele. “Crooked”… é mais calmo que o primeiro… tem alguns hits que viraram clips. Eu gosto mais do “Crooked” do que do “Slanted”.

O “Slanted & Enchanted” é freqüentemente apontado como um dos álbuns mais influentes da década de 90? O que você acha disso?
Acho legal… o começo dos anos 90 foi bem generoso.

Você chegou a ouvir o Preston School of Industry (a banda de Scott Kannberg, a outra metade pensante do Pavement)? O que achou?
Eu escutei e achei bem para cima… o Scott deve estar feliz.

Como você vê a música na atualidade? Tem alguma banda nova que tenha te impressionado?
Eu gosto de algumas bandas… sem uma cena ou tipo de música em especial. Eu curto o Godspeed Your Black Emperor,  Notwist, US Maple….

Você ainda toca covers do Oasis nos shows? E por que Oasis?
Eu fiz isso algumas vezes, na época as piadas tinham graça….

Falando em covers, de quem foi a idéia de gravar a cover de “The Killing Moon”, do Echo & The Bunnymen? Você gosta deles?
Sim eu gosto dos primeiros discos do Echo. Existe uma tradição nas Peel Sessions de fazer um cover… escolhemos Killing Moon… eu gosto daquela versão.

Um dos colaboradores do meu site (o mestre Eduardo Palandi) sempre diz que o seu disco solo lembra umas coisas do John Lennon solo… alguém já lhe disse isso? o que você acha?
Já me falaram isso… eu acho legal, Lennon é um cara legal.

Como é sobreviver tendo um trabalho independente? Pergunto isso porque no Brasil existem muitas bandas excelentes que sofrem para sobreviver tocando. Parece que, nos Estados Unidos pelo menos, há uma cena que permite um músico sobreviver lançando discos e fazendo shows sem precisar estar nas paradas.
Acho que é tão difícil viver de indie rock tanto no Brasil quando nos EUA… muitos músicos tem empregos durante o dia… é claro que a estrutura dos EUA é maior, mas acho que é praticamente a mesma coisa.

E o próximo disco, quando sai?
Vamos começar a gravar em Maio… ainda não sabemos ao certo quando sai.

Você conhece alguma coisa de música brasileira? Gosta?
Conheço só os manjados, Caetano, Mutantes e Tropicália… eu acho legal, quero comprar uns discos diferentes por aqui e me inteirar melhor.

15 thoughts on “Fundo do baú: Stephen Malkmus

  1. Conheço bem apenas dois discos do Pavement: “Slanted & Enchanted” e o “Terror Twilight”. Gosto mais do último, apesar do primeiro ser considerado “o clássico”. Às vezes tenho dificuldade de entender os “clássicos”.
    Prefiro “Darklands” a “Psychocandy” do The Jesus and Mary Chain, e “Sgt. Peppers…” não é meu disco preferido dos Beatles.

  2. Ah, cara, eu AMO slanted & enchanted. Mas acho toda a discografia do Pavement legal. Talvez o mais fraco seja o Brighten the corners…

  3. Pavement é banda de críticos ou metidos a críticos. Que, no fundo, é a mesma coisa. É uma banda muito chata, perfeita para gente chata…

    Tenho todos os vinis da discografia oficial. Aguardo propostas…

  4. acho o slanted muito barulhento. gosto do woeezwoee. mas o melhor disparado é crooked rain crooked rain, só pérolas pop uma atrás da outra.

  5. tem alguma chance do pavemente esticar essa turnê de retorno até a america do sul? gosto de todos os discos, mas acho que prefiro o wooze zooe. ele é tão esquisito e díspare que nunca cansa.

  6. Fora o saudosismo do Pavement, nunca achei que veria a palavra Dire Straits sendo publicada no Scream & Yell. Podem procurar, ela nunca foi escrita, hehehehe.

    Agora, tem chance do Pavement vir ao Brasil?

  7. Pavement no Brasil ia ser sensacional e melhor ainda se fosse em casa fechada pra 5 mil pessoas e não em um festival ao ar livre para 20 mil curiosos.

  8. Terror Twilight é de 1999… A banda Snooze fez um disco em 2006 que lembrou-me bastante o Terror Twilight. No site da banda há músicas para download

  9. Pensei… se essa entrevista fosse atual, com certeza o disco “Real Emotional Trash” seria citado com um dos melhores discos dessa década. Trabalho absurdo, e, como um amigo sempre brinca, é uma espécie de ensaio do Pavement fazendo jam com músicas do Hendrix e Doors. Concordo com ele!

    Aproveitando o ensejo, o Hierofante Púrpura tem muita influência de Pavement em suas canções. Vale a pena ouvir pra sacar: http://www.myspace.com/hierofantepurpura

    Abraço!

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