por Igor Lage
Fotos: Marcelo Rossi / Divulgação
“São Pedro é do metal”. Quem definiu foi uma senhora japonesa que acompanhava seus filhos ao show da maior banda de thrash metal da história. De fato, o clima deu uma trégua e nem uma gota d’água caiu na noite de 30 de janeiro de 2010, dia que marcava a volta do Metallica a São Paulo depois de 11 anos. Ao invés de chuva, foi uma imponente lua cheia que recebeu James Hetfield (guitarra e vocais), Kirk Hammett (guitarra), Robert Trujillo (baixo), Lars Ulrich (bateria) e seus 68 mil fãs que lotaram o Estádio do Morumbi.
O aquecimento começou às 20 horas em ponto com o show de abertura do Sepultura. Definitivamente a maior (e melhor) banda do metal nacional, o quarteto fez uma apresentação que foi prejudicada pelo baixo volume do som, mas recheada de clássicos como “Territory”, “Inner Self” e “Refuse/Resist”. As músicas do “A-Lex”, último trabalho da banda, não conseguiram empolgar nem os fãs mais ardorosos, que receberam de presente “Troops of Doom”, do primeiro álbum da banda, lançado em 1986, “Morbid Visions”. O guitarrista Andreas Kisser a dedicou a fã-clubes, parentes e amigos que sempre acompanharam a banda, que está completando 25 anos em 2010.
Do último acorde de “Roots Bloody Roots”, que fechou a curta apresentação do Sepultura, foram quase meia hora de ansiedade para a legião de camisas pretas que cobriu o Morumbi. Enquanto os roadies passavam o som, pessoas de todas as idades, etnias e cortes de cabelo contavam os minutos para ver uma das bandas de rock pesado mais influentes de todos os tempos. As luzes se apagaram às 21h40, e os telões de altíssima definição começaram a exibir imagens do filme “Três Homens em Conflito” embaladas pela música “The Ecstasy of Gold”, da trilha sonora composta por Ennio Morricone.
Em seguida, os donos da noite subiram ao palco ao som de “Creeping Death”, do álbum “Ride the Lightning” (1984), que também abriu o show em Porto Alegre no dia 28. Na sequência, outra do mesmo álbum: a clássica “For Whom the Bell Tolls”. Foram só duas músicas, mas nesse momento, o Metallica já tinha todo o público em suas mãos, que cantava as letras inteiras e gritava o nome da banda no intervalo. Isso quando dava tempo porque ao final de cada canção escolhida a dedo para agradar os fãs, outra já era emendada logo em seguida.
A terceira da noite foi “The Four Horsemen”, do disco de estreia “Kill ‘Em All” (1983), que ainda seria bastante explorado na noite. Hetfield, que poderia ser um verdadeiro “mestre das marionetes” devido à adoração de seu público, mostrou-se um frontman dos mais simpáticos. “Nós tocamos para fazer vocês se sentirem melhor, e isso nos faz sentir melhor”, soltou antes de disparar “Harvester of Sorrow”, uma das boas surpresas do show.
Depois de “Fade to Black”, uma das mais aclamadas pelo público, começou a seção “Death Magnetic” (2008), com números retirados do último trabalho de estúdio do quarteto, considerado por muitos um retorno à boa forma da banda que vinha de uma sequência de discos ruins que culminou no desastroso e odiado St. Anger (2003).
Vieram então “That Was Just Your Life”, “The End of the Line” e “The Day That Never Comes”. Uma pausa para “Sad But True”, do famoso “Álbum Preto”, que vendeu 25 milhões de cópias e catapultou a banda ao estrelato, antes de voltar ao “Death Magnetic” com a ótima “Broken, Beat & Scarred”.
Os quatro saíram do palco e então as luzes se apagaram. Bolas de fogo cuspidas do palco esquentaram o ambiente quando o telão voltou em preto e branco para a inconfundível abertura de “One”. Kirk Hammett mostrou que ainda tem os dedos tão ágeis quanto na década de 80 no solo mais frenético da apresentação. “Master of Puppets” fez o Morumbi tremer com um coro onipresente que só aumentou em “Nothing Else Matters”, muito mais densa e emocionante ao vivo. Para fechar a maratona destruidora de clássicos, “Enter Sandman” botou a multidão para pular até a despedida do bis.
Quando voltou ao palco, Hetfield anunciou que aquele era o momento do show no qual eles homenageavam uma banda que os influenciou. A escolhida da noite foi o Queen, em uma versão visceral de “Stone Cold Crazy”. A grande surpresa do espetáculo veio logo em seguida com “Motorbreath”. Ao final dessa, o público já sabia que só faltava uma música e puxou o coro de “Seek & Destroy”. Enquanto Kirk filmava o pedido de seus fãs, os outros três se fizeram de desentendidos e ameaçaram guardar os instrumentos. O coro cresceu e aí não teve jeito: James Hetfield puxou um dos riffs mais conhecidos do heavy metal e, para alegria geral da nação headbanger, “Seek & Destroy” fechou o primeiro candidato a melhor show internacional do ano.
James, Kirk, Trujillo e Lars ainda ficaram alguns minutos no palco jogando palhetas, baquetas e agradecendo ao público, que saiu mais do que satisfeito do Morumbi. A energia impressionante do Metallica no palco e a interação com os fãs fez desse um show histórico para quem estava lá. Depois de uma noite dessas, fica a certeza que, não só São Pedro, mas São Paulo também é do metal.
Set list:
1. Creeping Death
2. For Whom the Bell Tolls
3. The Four Horsemen
4. Harvester of Sorrow
5. Fade to Black
6. That Was Just Your Life
7. The End of the Line
8. The Day That Never Comes
9. Sad But True
10. Broken, Beat & Scarred
11. One
12. Master of Puppets
13. Blackened
14. Nothing Else Matters
15. Enter Sandman
(bis)
16. Stone Cold Crazy (cover do Queen)
17. Motorbreath
18. Seek & Destroy
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Leia também:
– “Death Magnetic”, do Metallica, é sagradamente fodão, por Renato Beolchi (aqui)
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Igor Lage assina o blog Nova Discoteca
O Kirk tá parecendo a Maria Bethânia nessa última foto. É, quem sabe eu vejo o Metallica em alguma outra maldita ocasião.
hahaha, Kirk = maria bethania. muito bom.
os shows foram muuito bons mesmo.
Metallica ao vivo deve ser foda viu, uma pena eu não ter ido mas existira novas oportunidades…
Igor, sua review me fez arrepiar, lembrando deste maravilhoso show e querendo mais!
Ow, super deu pra imaginar direitinho como que foi o show pelo seu texto… engraçado que eles ñ tocaram nada do Load nem do Reload… uma ou outra ñ ia fazer mal nenhum… memory remains por exemplo… mas aí é chatice demais, quando eles tocam só o q eles tem de melhor, vem gente pedir pra tocarem uma do reload… huehue… deixa tocarem blackened mesmo!