por Marcelo Costa
No momento em que estas linhas são digitadas, “Avatar” já se fixou no segundo posto entre as maiores bilheterias de todos os tempos deixando para trás “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, “Piratas do Caribe: O Baú da Morte” e “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. O novo campeão de James Cameron só perde para um velho campeão de James Cameron, “Titanic”, supremo e ainda imbatível em primeiro lugar desde 1997.
O enorme sucesso de “Avatar” nas bilheterias de todo o mundo suscita uma velha questão: qual o segredo do sucesso? James Cameron deve conhecer muito bem a formulazinha mágica da multiplicação de cifrões no cinema, mas parece entender melhor de economia e publicidade do que de sétima arte, pois, juntos, seus dois filmes não valem meio “Sangue Negro” nem um “Bastardos Inglórios” inteiro. Mas faturam mais.
Um dos trunfos de James Cameron é apostar em histórias sonhadoras em que o público consegue distinguir com facilidade de que lado está o mal e de que lado está o bem. E os espectadores torcem pelo mocinho (no caso de “Titanic”, mocinha), compadecem do sofrimento dos personagens que atravessam seu caminho (a morte de alguém especial se repete nos dois filmes), mas ganham um final redentor – para continuar sonhando.
Fazer sonhar é um dos maiores méritos que o cinema cultivou durante décadas, e James Cameron aprendeu a lição direitinho. Mais: soube conciliar suas histórias de conto da carochinha com tecnologia de ponta, jogando sobre seus roteiros um verniz futurista. No fundo ele está vestindo um pobre e iletrado mendigo com roupas caras e usando a velha artimanha da moral da história emprestada dos contos infantis da idade média.
Walt Disney fez fama e fortuna adaptando estes contos de forma brilhante e mágica. James Cameron segue este caminho, mas não pretende trilhar o rumo óbvio (e nem por isso, desinteressante) dos herdeiros da Disney, como a Pixar, que encontrou nos adultos um filão perfeito para suas animações geniais. Cameron vai por outra via. Ele faz filmes infantis que são vendidos como adultos. E a criança que está dentro de cada um aplaude.
É uma mágica surpreendente que faz sucesso, mas o lucro é apenas um modo (capitalista) de ver as coisas. “Avatar” funciona como multiplicador de dinheiro, mas sofre com um roteiro amparado em clichês. Alguns compararam as similaridades do filme com “Pocahontas” (e realmente existem), no entanto, a temática é óbvia, e você já entra na sala sabendo quem é o mocinho, quem é o bandido, e como será o final.
Abandonando o roteiro às moscas, James Cameron se segura no que alguns chamam de “revolução tecnológica”, mas o espectador já viu tudo o que está aqui antes. Mesmo assim, não há como discordar: as imagens são belíssimas. Um crítico britânico definiu na melhor de todas as tiradas que fizeram do filme: “‘Avatar’ é uma capa do Yes que ganhou vida”. Certíssimo. E assim como as capas do Yes, o que tinha dentro não era tão bom.
Há, claro, diferentes maneiras de pirar sobre o filme. Pode-se dizer que “Avatar” é sobre os Estados Unidos querendo invadir o Iraque por causa do petróleo; sobre os gringos querendo invadir a Amazônia. Pode-se dizer que é a vitória da honestidade sobre a ganância; do autoconhecimento sobre a cegueira manipulada. Pode ser tudo isso, mas, sobretudo, “Avatar” é uma história simplória vendida como revolucionária. No fundo, “Avatar” é uma bobagem que surpreende.
Cameron quer elevar o espírito sobre a carne, quer mostrar que Davi pode vencer Golias, mas, perai, Davi já venceu Golias. A história que o diretor conta já foi contada dezenas de vezes desde sempre. Não há novidades. “Avatar” é um grande clichê retrabalhado em um filme pipoca para entreter durante três horas, e esquecer enquanto milhares de Davis e Golias matam e morrem na cruel – e, por que não, feliz? – rotina diária da vida real.
As imagens são excelentes (ainda mais se você assistir ao filme em um cinema 3D – ou em um Imax), mas se tirássemos os efeitos especiais, pouco sobraria de “Avatar”. No entanto, os efeitos estão lá, e “Avatar” merece ser visto e admirado, mas ainda assim é um filme menor, infantil. E ainda parece conselho de mãe quando somos menores de idade: você sabe tudo o que ela vai dizer antes de você sair de casa, mas tem que ouvir até o final. A mãe você tem que levar à sério (ou, ao menos, fingir). James Cameron não.
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Leia também:
– “Sangue Negro”, de Paul Thomas Anderson, por Marcelo Costa (aqui)
– “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, por Marcelo Costa (aqui)
– “Avatar” e a vitória dos cifrões no Globo de Ouro, por Marcelo Costa (aqui)
Aeeew! Até que enfim 🙂
não assisti e não estou fazendo questão, mas esse comentário sobre as capas do Yes… foi exatamente o que pensei quando assisti o trailer! “pera lá! quem criou os cenários desse filme? o Roger Dean?!”
Avatar é um filme de entretenimento, simples e puro, para ser assitido de um fôlego só, sem levantar da cadeira. A história é cheia de clichês, sim. O bem vencendo o mal, tudo dando certinho no final. Mas achei lindo. E convenhamos, quem não gostar de ir ao cinema e ficar simplesmente boquiaberto com coisas que só seriam possiveis na telona?
Se um sujeito não for capaz de admirar esta mágica que o cinema proporciona, bem, qual é mesmo o sentido de assistir um filme?
Afinal, o mundo não é feito só de filmes cult franceses e iranianos. Uma “sessão da tarde” de vez em quando não faz mal à ninguém.
ps. o trailer é um imenso desfavor. Desconsiderem este na hora de decidir se vão ou não assistir ao filme.
Eu não suporto mais olhar esse maldito boneco azul e ouvir falar nesse filme. E essa resenha foi perfeita, deu-me menos vontade ainda de vê-lo. Talvez assista um dia quando passar na sessão da tarde ou algo parecido.
concordo com a Rosana, Avatar foi feito para encantar,e assim o fez, em cima de alguns cliches sim,mas essa estruturaçao do roteiro é comum a todos os filmes de aventura como Star Wars,Indiana Jones e etc,todos eles se baseiam na jornada do heroi,estudada pelo antropologo Joseph Campbell,assim como boa parte dos romances se baseiam na estrutura shakesperiana.Portanto o problema esta nao em Avatar e sim em gostar ou nao do genero aventura.Os dois filmes citados em comparaçao sao fantasticos,mas nao podem ser comparados com Avatar pois sao estilos completamente diferentes.
E digo mais,filmes que proporcionam a experiencia que Avatar proporcionou podem combater a pirataria muito bem,pois jamais a sensaçao de ver um filme desses em casa é igual a ver no cinema
Abs MAC
mac, uma das questões que sempre penso, é sobre aquela velha história dos conglomerados de mídia. são quantos? cinco? oito? e na hora em que um filme como esse começa a ser produzido, milhões são injetados na publicidade. antes mesmo do filme estrear já estamos sabendo de todos os bastidores das filmagens. e as materias são todas sobre essa coisa de quanto foi gasto, de quais os efeitos especiais de ponta…essas coisas. e ao contrário do que disse a rosana, o contraponto disso não são cults franceses ou iranianos. aliás, esse é sempre um argumento de quem defende blockbusters. Os teus dois exemplos, Sangue Negro e Bastardos Inglórios cabem bem. E se for para ficar no mesmo universo, o último Batman prova que é possível fazer entretenimento com altíssima qualidade de cinema. ah…pra finalizar…vocês falam mal do Yes e babam com aquelas bobagens do Radiohead…
assisti ao filme junto com meu filho de dez anos, e daí a magia sempre vence, pois para ele, tudo é uma grande novidade! saimos comentando as belezas do filme, as brilhantes cenas de ação, etc e tal; à medida em que o tempo passava, começou a dar um certo travo na língua… a gente começa a lembrar de situações idênticas em filmes do passado, começa a pensar na linearidade do roteiro… incrível mesmo é usarem a mesma atriz (sigouney weaver) para um papel senão igual, ao menos muito semelhante (alguém ai lembra de “gorilas in the mist”? a mesma bióloga/antropóloga na floresta, estudando símios/extraterrenos)…
acho que deste filme o que fica mesmo é o 3D, e daí é muito pouco… faz diferença assistir um woody allen/scorsese/tarantino/… em 2D ou 3D? pra mim, não.
Concordo com quase tudo dessa crítica. O filme tem um visual fantástico, diverte bastante enquanto se assiste, tem uma história atulhada de clichês e permite uma série de analogias e lições de moral, mas dá uma sensação de que não precisava esse barulho todo.
Só postei aqui mesmo porque achei necessário responder ao Álvaro: esse é um filme para se assistir no cinema. Nem numa TV de 50 polegadas serve, que dirá numa Sessão da Tarde. Isso porque, se vc já não está com boa vontade pro filme e ainda se privar do que ele tem de melhor, vai sobrar muito pouco para valer a pena.
Olá concordo com tudo que vc disse do filme. Agora falar que o conteudo dos discos do Yes não é bom, vc só pode estar de brincadeira. Sempre achei que vc tem um ótimo gosto musical pelo que vejo sempre em suas resenhas no site ,só que depois dessa perdeu alguns pontos. Elogia disquinho do Elbow e Snow Patrol e fala mau do Yes. Abraço nem falo mais nada depois dessa.
Concordo e discordo. Cameron poderia ter chamado um roteirista mais habilidoso do que ele, mas Cameron é Cameron e ele não correria o risco de perder o controle de sua cria. O ‘The King of the World’ em Titanic e no Oscar não foi à toa, ali o ego é imensurável. A sua realização é, sim, revolucionária. Cameron e todos nós sabemos que isso custaria caro, muito caro e ele não arriscaria com um roteiro complexo, ninguém financiaria. Fez o que tinha que fazer: reciclou clichês, uma história onde mocinhos e bandidos não se confundem e entregou um bom filme, longo, mas não cansativo, entretenimento agradável e, principalmente, experimento para novas tecnologias. Cumpriu o seu papel. As surpresas ficaram por conta de Distrito 9, um grande filme de sci-fi que não lembro de ter visto resenhado aqui.
Ja sabendo o que me esperava dentro da sala numero 3 do cinemark Iguatemi nao pensei duas vezes…
– fui ao banheiro
– comprei o maior combo pipoca/refrigerante possivel
– sentei na poltrona e tirei meu tenis
– coloquei o oculos de plastico
na sala tinham criancas, idosos, jovens, pais e filhos… fui com minha namorada e um casal de amigos… pude comentar durante cenas mornas como os videos-diarios do personagem principal.. mas a realmente o filme surpreende, a ponto de me pegar de boca aberta…
depois de 3 horas posso dizer que sai do filme esperando o próximo filme 3D, agora o proximo de James Cameron, se nao for em 3D, melhor nao arriscar
Avatar não é o melhor filme que se pode ver, mas é o melhor espetáculo que o cinema pode proporcionar. Disse isso no twitter e o MAC me rebateu, mas eu insisto na tese.
Concordo que o roteiro é clichê e que tem soluções fáceis, mas quem vai ao cinema ver uma obra do James Cameron já deve esperar por isso. Alguns especialistas talvez tenham se deslumbrado demais e não fizeram certos reparos merecidos. Apesar disso, o filme funciona bem e sua realização em 3D é excepcional.
“Mas aí é a técnica superando o conteúdo”, dirão alguns. Ora, e que mal há nisso, de vez em quando? Um filme que só pode ser bem apreciado numa sala de cinema, nesses tempos de blue ray e TV’s full hd, já é um baita feito. Quando deixa então quieta aquela molecada acostumada a ver dvd na sala e vale mais o preço da pipoca, ótimo!
Tem hora para Kubrick e tem hora para Cameron. Assim como em certos momentos é mais divertido ouvir Definitely Maybe do que Kid A.
Talvez quando o Tarantino filmar em 3D tenhamos o melhor filme e espetáculo juntos.
Algumas observações críticas:
-é chato às vezes;
-é kitsch; e
-é politicamente ingênuo e imoral: os vilões são tratados feito colonialistas do séc.XIX mesmo que o filme se passe em 2134, e os Navi são tratados feitos selvagens puros e bonzinhos que vivem em harmonia c/ a natureza; esse tipo de idealização racial é coisa de nazista.
Pra quem vai assistir Avatar pensando que vai encontrar dialogos filosóficos, atuações shakespaerianas ou um significado pra vida concerteza vai decepcionar os pseudo-intelectuais.
Esse é um filme pipocão, chame a familia, vovó, titia, cachorro, compre aquele balde de pipoca e divirta-se, não é pra isso que cinema serve?
Marcelo, uma hora é bom relaxar, ver efeitos especiais mesmo. Comparar com Sangue Negro(sorte que tu não lembrou de Magnólia e Beleza Americana hein?) é muita covardia.
Eu assisti Avatar numa cópia baixada de internet e fiquei muito feliz com tudo. Os efeitos e etc inclusive achei o final, de chorar. As vezes é bom encher a cabeça com coisas vazias de significados mas perfumadas e bonitas por fora, faz bem pra alma.
Acabei de ler um texto teu sobre o disco do Nirvana, remasterizado, para quem escuta Radiohead escutar o Nirvana seria um descanso para a cabeça, será que não?
Texto brilhantemente escrito, porém chamar a história do filme de bobagem por ser simples? Cara, tenho visto isso em toda crítica a Avatar.. Se já vimos a história do filme antes, garanto que já vi esta crítica antes, só que, repito, esta está bem escrita.
Os campeões de bilheteria não são os filmes de arte. Isso praticamente nunca houve. Qual é a surpresa? Por que todos estão atacando Avatar desse jeito? Houve alguma promessa de que a história seria a mais conceitual de todas? Ser inovador por usar 3D deveria fazer dele NECESSARIAMENTE um filme como “Sangue Negro”? hahaha Sabe.. Não entendo essa raiva toda, inquisição quase, ao James Cameron. É orgulho ferido? É uma aliança mundial conspiratória de quem faz “crítica” de cinema?
A criança dentro de mim aplaudiu, e garanto não se sentiu enganada em momento algum.
achei o filme uma mistura de Marina Silva com Pocahontas e zoofilia, nota zero. a única coisa boa dele é que a Sigourney Weaver azul é menos baranga…
Filmaço…
Espero nunca ficar comparando filmes com Shakespeare, colonização europeia, olhar de antropólogo ou qualquer coisa do tipo, e olha que estudo Ciências Sociais…
Fui lá e fiz o mesmo que o rodrigo.g… Fui pra me divertir e me diverti mais do que esperava… Como também já disseram, tem hora pra tudo, pra filme iraniano dos anos 20 e pra um bom blockbuster…
Pelo visto você pouco entende de computação gráfica e tecnologias de edição e projeção 3D… Ainda bem que o filme foi muito bem concebido em toda arte final tanto na projeção 2D quanto 3D, aliás, uma nova fase para o cimena 3D… Meu amigo, se quer uma história “plausível” em seu ponto de vista, comente filmes que não sejam de ficção, pois nesse quesito você não entende NADA!
“Se um sujeito não for capaz de admirar esta mágica que o cinema proporciona, bem, qual é mesmo o sentido de assistir um filme?
Afinal, o mundo não é feito só de filmes cult franceses e iranianos. Uma “sessão da tarde” de vez em quando não faz mal à ninguém.”
Rosana, você está coberta de razão!
Marcelo, sei que sou minoria aqui, mas concordo com você. Lugar de boas imagens é museu. Ou como li em algum lugar, Avatar deveria ser um album de fotos, não um filme. Achei um tedio. Continue discordando e escrevendo bem.
“‘Avatar’ é uma capa do Yes que ganhou vida”. Certíssimo. E assim como as capas do Yes, o que tinha dentro não era tão bom.
O QUE VOCE QUER DIZER COM ISSO?
Realmente, se seu filho tem 10 anos ele vai adorar AVATAR !!!
Quanto ao YES, Cameron na verdade ROUBOU vários trabalhos do artista ROGER DEAN. As ilhas flutuantes, etc e etc. Procurem no Google “Avatar Roger Dean ” .
Ótima critica do filme. Avatar é um filme superestimado, igual a vários outros de ficção , ou melhor igual a qualquer um em que o mais fraco o nativo luta contra os imperialistas. Assim como o sucesso de titanic o de avatar é uma grande resultado do investimento no marketing e tecnologia e nada mais.
Quando terminei de ver o filme , tive aquelq sensação de”é só isso?”. Não quero com isso dizer que o filme é ruim , mas a propaganda gerou certas expectativas em relação ao longa. É uma boa opção de filme. A inovação está na tecnologia, que pode ser admirada por quem assistiu em um cinema com suporte a 3D o que é raro aqui no Brasil.
No fim é apenas um filme de ação cheio dos clichês. Sabendo disso sem grandes expectativas…pode se acomodar e curtir a sessão.
Esse final ficou ótimo: James Cameron, não.
hahaha