Análise: Quem fica parado é poste

por Marcelo Costa

A votação dos Melhores da Década 00 do Scream & Yell repercutiu de forma interessante em mesas de bares e em alguns recônditos da internet. Aproveitando o gancho de três textos que procuraram analisar alguns enfoques da lista, vamos tentar aprofundar o olhar sobre a música nestes últimos dez anos, e também sobre o jornalismo cultural que anda sendo feito neste país.

O Eduardo Pinheiro fez uma análise rápida em seu Freakções (leia a integra aqui). Ele reconhece o sucesso de público e critica do Los Hermanos e define bem quando escreve que “nenhuma lista e nenhuma leitura histórica são permanentes – e é bom que seja assim -, tais leituras, direcionamentos e listas dizem muito sobre aquilo que lhes escapam e sobre quem as organiza do que podem supor”.

O chapa André Forastieri, em sua coluna no R7, tacou fogo num copo de plástico cheio de gasolina espetando: na lista “não tem metal, não tem country, não tem reggae nem reggaeton, nada eletrônico, nada fora do esquadrinho, não tem música cantada em línguas que não inglês. (…) Agora, uma coisa eu não perdoo: como você faz uma lista de melhor da música pop da década que não tem um preto?” (mais aqui)

Já o Vinicius Duarte, do Com Fel e Limão, pega este último gancho do velho Forasta e estende o assunto dizendo que “os pretos sumiram do cenário musical pop” enquanto assume: “Não conheço porra nenhuma desses caras (tá, tira o Caetano). E, pra ser bem sincero e obtuso, não faço a menor questão de conhecer. Prefiro ficar aqui com minhas musiquinhas véias de guerra”. (mais aqui)

Combatentes no muro, hora de descarregar o AR7: democracia às vezes é uma merda. É bem provável que os próprios participantes da votação não estejam satisfeitos com os 20 nomes listados como melhores da década, mas a lista final não é de Huguinho, Zezinho ou Luizinho, mas sim o resultado da similaridade de gostos tão dispares quanto o de 68 pessoas que, única coisa em comum, ainda consomem música vorazmente.

Alguns acusam a lista de convidados de ser extremamente indie. Vejamos: este é um site independente. Não mandamos pré-listas para lembrar em quem o convidado deve votar, e convidamos mais de 150 pessoas (das quais, geralmente, metade participa anualmente) colocando lado a lado a opinião de jovens jornalistas que escrevem sobre música em blogs com a de nomes respeitados da grande imprensa. Mais: os votos estão todos abertos.

Desta forma, é natural que o resultado jogue luz sobre o cenário independente, muito embora mais da metade da lista internacional seja formada por bandas de grandes selos enquanto a lista nacional flagra um momento de derrocada do mainstrean nacional. É isso (o que, aliás, já defendemos como o fim do rock brasileiro) ou então melhor levar à sério quando alguém diz que “Micareta Sertaneja 2”, do Grupo Tradição, e “Volume 1”, do Bonde do Maluco (mais aqui), são o melhor que a música brasileira nos ofereceu nesta década.

A questão Los Hermanos é um assunto interessantíssimo. Eles começaram os anos 00 com um hit chiclete nas costas, e depois ganharam crítica e público ao brigarem com a gravadora no lançamento do segundo disco. Quer queiram alguns, quer não, “Bloco do Eu Sozinho” teve o mesmo efeito para a cena musical brasileira que “Is This It”, do Strokes, teve para a cena internacional. O que muita gente não entende é que há uma diferença entre não gostar de uma banda e não reconhecer o seu valor.

Seguindo a narrativa, anos depois o Los Hermanos tropeçou no próprio ego. Marcelo Camelo virou um chato de galocha, e Rodrigo Amarante colocou o acento cômico na principal piada retirada de uma observação do resultado final da lista de melhores do ano: a melhor banda internacional mais a melhor banda nacional da década deu no Little Joy. Rir ou chorar? No entanto, grande parte do cenário independente nacional atual deve as calças para os Hermanos, algo que quem acompanha realmente o que anda acontecendo na música brasileira sabe desde 2002, 2003.

Tudo isso porque o desenho de mainstrean no Brasil faliu nesta década. As gravadoras se perderam em um mundo de camelôs, programas de trocas de arquivos na web, jabás excessivos e fórmulas pré-concebidas. E dá-lhe cópias. Fresno que é igual a NX Zero que é igual a Strike que é igual a Cine. Na música baiana, a grande questão proposta é: quem tem as coxas mais carnudas? Claudia Leitte ou Ivete Sangalo? Senhoras e senhores, o mainstream nacional está morto. É só ligar o rádio.

Forastieri reclama da falta de metal na lista. Da mesma forma, poderia reclamar de Amy Winehouse e Strokes não freqüentarem a lista da Rock Brigade e da Kerrang. A questão é muito simples: não tem metal porque nada de metal ultrapassou a barreira do gueto do estilo nesta década. Na votação dos anos 90 feita pelo Scream & Yell (veja aqui), por exemplo, o Sepultura colocou dois discos entre os 20 finais.

Nenhuma banda brasileira lançou algo melhor do que  “Chaos A.D.” e “Roots” nos anos 00. Nem o próprio Sepultura. Nos anos 90, Slayer e Metallica ultrapassaram a linha que separava o gueto metal do grande público. Nesta década, ninguém conseguiu repetir o feito, além dos próprios – com discos, infelizmente, não tão bons. O System of a Down chegou perto, e na votação final do Scream & Yell somou pontos suficientes para deixa-lo em 30º lugar.

Sobre música negra: TV On The Radio ficou em 22º, e só não ficou entre os 20 porque os votos se dividiram entre os sensacionais “Return to Cookie Mountain” e “Dear Science”, sobrando alguns pontos para “Desperate Youth, Blood Thirsty Babes”. M.I.A. cravou o 26º lugar, também com votos divididos entre dois discos, e OutKast em 29º. No entanto, é bom lembrar Amy Winehouse na 11ª colocação. Alguém deu um pitaco interessante: talvez a música negra tenha rendido mais singles que álbuns fenomenais na década. É uma variável.

No fim das contas, ninguém tem razão, e todo mundo tem razão. Aqueles que reclamam da ausência de certos discos e aqueles que reclamam da inclusão de outros. O que não dá para aceitar são os que ficam parados no tempo observando a vida passar. É fácil e preguiçoso defender o passado quando não se está prestando atenção no futuro. A música brasileira, por exemplo, está passando por uma de suas melhores fases no últimos anos. Só não ouve quem não quer (aqui, doze discos para baixar gratuitamente) ou quem já ouviu de tudo e não está mais pronto para novidades.

A essa altura da discussão, não custa nada perguntar: a que uma lista como esta se preza, se os resultados foram óbvios (apenas para quem acompanhou a década)? Particularmente entendo essa lista como um recorte do que aconteceu nos últimos dez anos em uma determinada área da música pop. Se você fizer uma votação parecida dentro de uma lista de discussão de música gospel, terá um top 20 gospel. Aqui, ao menos, o universo parece mais expandido e democrático, mas as tags rock e indie não resumem a lista completa, como querem forçar a barra alguns.

Se você olhar apenas duas listas, como por exemplo as de Jonas Lopes e Sérgio Martins, verá dois votos para o disco “Ouro Negro”, de Moacir Santos. Disco da década para eles. Se pegar as “cédulas” de Thiago Ney, Amauri Gonzo, Carlos Freitas e José Flávio Júnior terá quatro votos para o disco “Kala”, de M.I.A.. E por ai vai. São mais de 500 discos citados, e os 40 apontados como os melhores da década são apenas a ponta de um iceberg pop. Assim como você, estamos tentando entender os anos 00 (e o mundo). Não temos muito além de nossas opiniões expressas em listas de 10 mais, mas já é um começo. Com certeza, é melhor do que ficar parado no tempo. Estátuas em museus discordam, mas tudo bem.

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Marcelo Costa é editor do Scream & Yell e assina o blog Calmantes com Champagne

65 thoughts on “Análise: Quem fica parado é poste

  1. Marcelo,

    Realmente, quem fica parado é poste. E quem anda sem rumo é barata tonta. A música, desde os anos 1990, não vem apresentando quase nada digno de nota, quanto mais de “listas”, esta coisa meio que importada dos americanos, os “the best of” ou “top X”, tão enraizados na cultura deles e, por transferência, para a nossa.

    Eu odeio listas. Não faço, não participo, mas não condeno quem faz ou participa. Eu aceito, respeito e não discuto.

    O post do Forasta (e o meu, mais intensamente) apenas aborda um aspecto não diretamente ligado à lista do Scream&Yell, mas sim à música pop produzida pós-90: uma música sem pretos, ou com “pretos-fake”, criados pela política de “embranquecimento” musical propagada pela indústria fonográfica.

    Música, desde os 90, é um artigo de consumo, descartável, de valor artístico bastante discutível. Veja como os músicos “vendem” facinho seus hits para servirem como jingles de bancos, sabonetes ou salgadinhos, menos de um ano após terem alcançado o sucesso. Veja como eles, na maior cara de pau, anunciam centenas de “releituras” das músicas que o “poste” aqui ouvia, ou “sampleiam” uma pá delas, criando discos inteiros feitos de colagem. Tá difícil arrumar quem use o passado apenas como referência para algo realmente novo, nesta sociedade do ctrl-c-v, da “cultura Google” e outros bichos.

    Sei que estou parado no tempo como um poste, mas, pra mim, música era arte. Será que perdi alguma coisa enquanto ouvia minhas musiquinhas véias de guerra?

    Grato pela referência, e um abraço.

  2. “nenhuma lista e nenhuma leitura histórica são permanentes”
    daqui 15 anos vamos fazer a mesma lista com os filhos dos participantes auhauaau
    acho que vai mudar muita coisa .
    eles não deram importância para o Mars Volta , mas os filhos deles vão dar!

  3. Quando o Mac fala: “O que não dá para aceitar são os que ficam parados no tempo observando a vida passar. É fácil e preguiçoso defender o passado quando não se está prestando atenção no futuro” matou a pau a velharia que não quer se atualizar!!! Boa Mac….

  4. É incrivel que tem gente que a essa altura não tenha entendido que o meio também é a mensagem. Metade dessa discussão estaria resolvida se puxassem por isso. Parabéns pelo texto.

  5. Pior é o Gilberto Dimenstein que acha que a Playboy é só mulher pelada e que HQ não é cultura. Cade os jornalistas informados?????

  6. Boa parte das críticas as listas atuais vêm de gente que não procurou ouvir nada dessa década. tanto na música de fora quanto da nacional.

    Criou-se no Brasil uma cultura de argumentar sem conhecer, apenas pra reforçar o debate e a “visão crítica”. O cara diz que tal banda é ruim q tal disco é ruim mas nunca sentou pra ouvir, isso tb é um forma de ficar parado.

    Pra mim essa década teve grandes bandas, acompanhei pouco a cena nacional e estive mais mergulhado no universo do IDM e variados e de lá acompanhei as camadas de novidades no minimo sensacionais que rolaram.

    O texto do Mac, no final das contas, serve como uma boa argumentação/explicação/reflexão sobre a lista (eu particulamente não achei ela justa mas oq é justo? fica a reflexão…) e sobre o cenario por qual ela lançou seu olhar…

    e dentro desse contexto, vc entende melhor a proposta, mas doq talvez outras listas que pretenderam se perpetuar como “a lista da década” esse tem a função de refletir, pensar, debater e buscar o melhor e o mais coerente mesmo que em alguns momentos passe longe disso.

  7. “Particularmente entendo essa lista como um recorte do que aconteceu nos últimos dez anos em uma determinada área da música pop.”

    É isso aí Mac! Não sou poste, mas também não sou barata tonta. Tento escutar bastante o que aparece de novo ( e o que deixei passar de velho), aí garimpo o que, aos meus ouvidos soam bem. Honesto também. Simples.

    Abs

  8. “(…) quanto mais de “listas”, esta coisa meio que importada dos americanos, os “the best of” ou “top X”, tão enraizados na cultura deles e, por transferência, para a nossa.”

    “Eu odeio listas. Não faço, não participo, mas não condeno quem faz ou participa. Eu aceito, respeito e não discuto.”

    ai, ai… : P

  9. Mac, muito boa a análise. Na verdade, ela só esclarece o que é óbvio: listas sempre serão imperfeitas e não unânimes – mas não são necessariamente inúteis – e às vezes nos esquecemos disso.

    Devo ter sido o votante com menos “grife” da galera, mas cheguei a dar atenção a um veterano – Tom Zé – e a negros – TV On The Radio – só que isso não prova nada. Eu não acho que quem faz essas listas pensa nas cotas, como eu não pensei. Concordo com a definição de Eduardo Pinheiro. Cada cabeça é um mundo, e por isso, expor a lista de cada votante é tão válido quanto a lista final. Eu mesmo se votasse hoje, mudaria algumas coisas na minha relação.

    O que não dá é se encolher e aceitar a morte da música só porque não existe uma lista perfeita. O debate é mais importante do que o resultado.

  10. Xelc, pelo visto você encontrou contradição onde não existe. Eu sou contra a MANIA de fazer listas, mas não discuto a existência delas, quem gosta, faz, e muito menos dou palpite ou participo de listas.

    Tá lá, é um fato e eu não entro no mérito. Entendeu?

    ai, ai… 😛

  11. fala, vinicius!

    sei la, so acho q o simples fato de vc postar um comentario ja caracteriza um certo nivel de participacao – nao importando se vc escolheu algum disco e se ele entrou ou nao na lista final… ; )

    e embora eu ache q vc perdeu muita coisa, sim, estando parado como um poste – nada contra, um dia a luz se acende de novo : P – musiquinhas véias de guerra ainda sao o mlehor “refugio”!

    abraco : )

  12. Sinceramente, não vejo a lista da Scream como indie.

    É uma lista preguiçosa, reflete ouvidos mais interessandos na hypaddas do efemero doque em discos atemporais que marcam não so a década.

    Acho que muito dessa lista reflete um erro da maneira como ela foi apresentada: “Melhores da década”. Acho que a lista reflete os discos que de uma forma radiofonica, no âmbito da visibilidade, alcançaram um público maior. Nesse sentido vejo como os “discos mais influentes da ´década” e não os melhores.

    Oq em parte me decepciona. Espero numa lista, não uma abordagem meramente pessoal e principalmente, nao uma abordagem de “publico e crítica” e sim disco que mesmo que a minoria conheça, seja reflexo da década dele.

    Franz Ferdinand,Strokes, Killers, LCD Soundsystem, são bandas boas apostas que a industria fez nessa década mas é isso que importa? Sigur Rós, Alpha, Ellen Allien, Four Tet, Air estão de fora pq quase ninguém ouve? como foi dito no site da Scream “Ninguém ouve isso”…

    Não discuto a lista em si, todas são desnecessarias e controversas mas sim a essencia de abordagem dela.

    Decepcionante.

    Escrevi isso no blog do Forastieri tb.

    Abraços.

  13. Xelc, eu postei um comentário para explicar a minha posição no meu post (linkado no texto do Marcelo). Lá, além da citação à lista dele, eu não falo um “a” sobre a lista em si, apenas digo que não conheço ninguém que nela está.

    O meu post, na verdade, é apenas um complemento do post do Forasta, e fala sobre a indústria fonográfica e a produção musical pós-90, explicando, mais ou menos, porque eu parei como um poste.

    Abraço

  14. Uma coisa legal que (acho) ninguém citou é que, além de toda a ideologia (o lance de traduzir musicalmente uma década ou não), listas são legais pra gente saber o que conquistou os votantes e conferir se isso é interessante para nós também. É uma visão um pouco mais… sei lá, fria… mas eu mesmo adoro conferir os votos de cada um e ver o que deixei passar, o que não ouvi ou nem fiquei sabendo da existência.

    Resumindo, as listas, independente dos resultados, seja do ano ou da década, são uma ótima maneira de conhecer grandes discos que deixamos passar.

    E quem espera concordar com uma lista de cabo a rabo certamente acredita em papai noel e coelhinho da páscoa.

    Abç

  15. Para mim, a única função de listas é despertar curiosidade por algum nome para que eu possa correr atrás. No mais, reflete a opínião de uma única ou de poucos. Esta lista era óbvia que iria constar em sua maioria os indies visto que o site, apesar de ser “independente”, é do mundinho indie (do qual faço parte, diga-se). Discordo de quase toda a lista, mas não vou ficar brigando indignado por isso, né? 😉
    Abraços!

  16. Concordo com o Eduardo Martinez. Eu uso a lista pros mesmos fins..
    Mas o que mais me preocupa são as críticas sem ouvir antes. Não para a discussão da lista em si, mas para entender como as críticas não só musicais mas de cinema, teatro, etc, são geralmente feitas…

  17. Mac, grande texto. Como disse um dos comentários tambem assino embaixo. Quando li o texto do Forastieri (o qual respeito muito como jornalista), fiquei aqui pensando qual artista negro poderia ter entrado na lista. Dificil. E eu votei no Tv On The Radio em 3º. E nas minhas listas de final de ano sempre cai um disco de Soul ou R&B. O problema é que estamos falando dos dez mais da decada, ai realmente a coisa complica. Não acho a lista indie (o que é indie?) tambem.
    O que me assusta na verdade é alguns comentarios dizendo que não conhece nada ou a grande maioria. É só sair da MTV e do Radio para conhecer. É preguiça, pois os discos não saem na capa do jornal, mas estão na rede para baixar. Principalmente quando criticos dizem que não conhecem tal artista. Não seria essa sua atividade? Escutar musicas novas e ver para onde tudo esta caminhando? Quer queira ou não, a internet hoje é o balcão da loja de vinis e cds onde escolhiamos as coisas antigamente.
    Tem quem prefira ficar escutando só coisas mais antigas em casa (e tem todo o direito), mas desse modo, não pode criticar coisas novas as quais não se dá a liberdade de escutar. Escutem. No meio de tanta coisa disponivel hoje em dia, há coisas ruins em quilos, mas também existe muita coisa boa no meio. Abs.

  18. Rapaziada, fecho com o Thomas, acho que ele disse mais ou menos o que penso sobre a lista. Apenas esperava mais audácia, criatividade, ficou uma parada meio pobre: o “mainstream do indie”. Contudo, me indago se não seria justamente isso o esperado: uma lista segmentada, que reflete uma fatia do mercado musical (indie??? alternativo???? escolha seu rótulo), e que, por este ponto de vista, não decepciona tanto em mapear “a cena” e os hypes que deram a cara na década. Porém, para quem quer ir um pouco além disso, parece faltar algo. Não consigo encontrar motivos para que discos como “dear science”, do tv on the radio; “the argument” do fugazi, “untrue”, do burial; ou “third”, do portishead fiquem de fora. E estes são apenas alguns exemplos. Mas é isso mesmo, é preciso saber relativizar as coisas: listas não são e não devem ser infalíveis, muito menos definem dez anos sem causar injustiça e indignação. Pra mim, o mais interessante dessa lista do scream&yell foram justamente os comentários e discussões suscitados, o que demonstra ao menos uma inclinação crítica dos leitores deste espaço e uma abertura e coragem por parte do editor (é isso aí, mac) em fomentar o debate e dar a cara a tapa.

  19. Mesmo não sendo tão fã da lista, difícil discordar de qualquer palavra exposta no texto.

    Agora, muito medo de ver a lista pessoal das pessoas que tanto criticaram.

    Mais medo ainda de críticos que dizem que não ouviram “nada de bom” nos últimos dez anos…

  20. Pow Marcelo teve uma parte ae que vc cuspiu pra cima.

    “não tem metal porque nada de metal ultrapassou a barreira do gueto do estilo nesta década”

    Quer dizer então que um disco de Metal pra tar na lista tinha que ser um mainstream??

  21. Não, Victor, um disco de metal ou de qualquer outra coisa que o seja para entrar numa lista tem quer muito bom, e os discos muito bons, via de regra, se transformam em mainstream, ultrapassam guetos. Não é só o povo da eletrônica que ouve LCD. Não é só o povo do rap que ouve Racionais. Ainda hoje ouço Chaos A.D., Reign in Blood e And Justice for All. São discos sensacionais que ultrapassaram a margem do gueto. As pessoas reclamam que Sigur Rós não está na lista. Sigur Rós vive em um gueto. O show é maravilhoso, os discos são grandiosos, mas é coisa de gueto. Essa não é uma votação de gueto pois não reunimos três amigos que gostam das mesmas coisas. São 68 pessoas, e 90% delas teve algum disco que só ela votou. Mais ou menos isso. É menos umbiguista do que uma pessoa chegar e dizer que isso e aquilo e bom. Cada um dos 68 disse o que isso e aquilo é bom em sua lista, e a soma das listas foi o resultado.

    Abraço

  22. “Veja como eles, na maior cara de pau, anunciam centenas de “releituras” das músicas que o “poste” aqui ouvia, ou “sampleiam” uma pá delas, criando discos inteiros feitos de colagem. Tá difícil arrumar quem use o passado apenas como referência para algo realmente novo, nesta sociedade do ctrl-c-v, da “cultura Google” e outros bichos.”
    Acho que é questão de inadequação aos tempos, mesmo, porque samplear é uma forma de intertextualidade que já existia desde o início do século. É só abrir um livro do Bandeira e procurar lá, bonitinho, um poema que é basicamente um mashup: “Balada das Três Mulheres do Sabonete Araxá, por exemplo, compõe-se de uma costura de versos de outros poemas; versos que, à força da repetição, acabaram na condição de frase feita).”
    E sobre a questão dos negros na música brasileira dos últimos 10 anos, é o que se diz no texto e o que reitero: a listona é feita de várias listas, cada uma com sua peculiaridade. Fossem os votantes os 150 que o Scream & Yell convidou, poderia haver uma lista só com negros, outra lista só com brancos, outra lista com gente que só canta inglês, uma lista só de rock, uma só de sertanejo, uma só de metal, uma só de tudo e de nada. Sem contar que não se faz claro o “problema” que há em a lista não ter, POR ACASO, incluído negros em si. Cor de pele não faz cor de música, – e tenho certeza que pouca gente foi olhar a foto do cantor ou cantora ou conjunto, pra ver quais eram suas cores, pra fazer a decisão de qual disco era o melhor pra ele ou pra ela – apesar de o fato poder indicar que à “música negra” não seja dado espaço na mída, mesmo num tempo em que tudo tem espaço: do indie rock ao sertanejo.

  23. Boa argumentação Mac.

    Mas a lista reflete justamente oq nós estamos discutindo. 68 jornalistas escolherem os discos da década e essa lista tem a cara do mainstream. Bom ou ruim? é relativo mas serve para uma boa reflexão.

    Assim como é relativo que discos bons ultrapassem oq vc chama de “gueto’.
    Exemplo: Ouço dezenas de bandas que pouca gente conhece mas pq pouca gente conheçe elas não são “muito boas” ? não são boas o suficiente para serem conhecidas? reflexão obvia mas cabe aqui.

    Acho que esse é o “mistério” dessa lista de 68 Jornalistas.
    Mesmo 68 Jornalistas não conseguiram fugir de uma lista clichê mainstream.

    Enfim, já deu.
    abraços feliz ano novo.

  24. Olha…quanta amargura dizer que após os anos 90 não surgiu nada bom, isto até parece comentário do Belchior. Pra mim a música está cada vez melhor e digo q é muito fácil encontrar coisas maravilhosas por ai, é só procurar e, hoje é muito mais fácil.
    Quem para no tempo não tá errado também só está sendo feliz. Ninguém tem obrigação de conhecer coisas novas e nem tá perdendo nada por não conhecê-las.
    abraço a todos.

  25. Gostei muito do texto. Apenas não dá para deixar de diferenciar o que é música boa e ruim, independentemente da época. Em bandas como Charme Chulo e Pública não consegui ver nada interessante, novo, apenas xerox. Charme Chulo faz porcamente o que Os Mutantes faziam bem, em relação a essa mistura com ritmos regionais. Essa história de parar no tempo soa como um argumento inconsistente de quem não conhece muito de música.

  26. Engraçado esta história de “gueto”. Para ficar somente nos nacionais, Cidadão Instigado, Mombojó, Violins(que eu adoro, diga-se) e Wado não são gueto? São o que então? Acho que cada um defende seu “ponto de vista” como quer, não é mesmo? A meu ver, o site é um “gueto” de indies, e é normal que a lista seja dominada por discos assim.
    E se quem fica parado é poste, quem se “move” demais pode ser considerado sem personalidade?

  27. Foi isso que me instigou Gustavo Martins, Marcelo falou sobre gueto, mas esse aqui tbm é tipo um site gueto que fala em sua maioria sobre musica indie, ou alguem ae vai me dizer que Yankee Hotel Foxtrot é um album maisntream??

  28. Victor, Yankee vendeu mais de 1 milhão de cópias. Não sei o país em que você vive, mas no Brasil, 50 mil cópias é disco de ouro. Então, Wilco é mainstrean. Eles não estariam tocando nos principais programas de TV norte-americanos se não tivessem uma grande gravadora por trás querendo tirar um lucro.

    Gustavo, aprenda a ler texto. O indie prevalece no Brasil pois o mainstrean nacional está falido. Está no sétimo parágrafo. É complicado ficar dizendo a mesma coisa toda hora quando as pessoas não saber interpretar um texto. O site é um gueto, sim. Está no penúltimo parágrafo: “um recorte do que aconteceu nos últimos dez anos em uma determinada área da música pop”. Qual? A área em que o site e os participantes da votação cobrem. Quem não sabe interpretar texto pode ser considerado burro?

  29. Acho que burro é o Jornalista dono de site e que escreve nele sugerir que SEU LEITOR seja burro por não saber interpretar seu texto e não admitindo contra argumentações (sinal claro de arrogância academica) e perdendo completamente a postura e consequentemente o argumento.

    Parabens Mac.

  30. Calma lá rapaziada, não vamos perder a compostura. E a boa educação que mamãe nos deu???? hahaha. Senão fica pior que discussão de futebol…. Coisa feia.

  31. “aguentou bastante” ???

    Ninguém aqui está zoando com o Marcelo Costa.
    Estamos debatendo a lista e suas contradições e acertos dentro da visão de cada um.
    Se fosse uma lista qualquer eu e acredito que alguns aqui nem se dariam ao trabalho de refletir sobre.

    Agora, se rebaixar na argumentação chamando o leitor de burro e agindo com uma ironia nogenta, típica de gente que não sabe debater é complicado.

    Uma coisa é vc ter o conhecimento, ter milhões de discos em casa, ter lido vários livros, viajado o mundo mas não aprender a respeitar o outro, vc mostra que ainda precisa aprender bastante. sabe escrever, sabe expor o pensamento mas faltou maturidade nesse caso. Principalmente se se propoe que suas críticas sejam levadas a sério.

    Eu como leitor e frequentador da casa, vejo dessa maneira.

    Abraço a todos pela ultima vez esse ano.

  32. Thomas, o leitor também o insultou chamando ele de sem personalidade, e acho que ele tem o direito de responder no mesmo nivel. O Paulo falou bem, é feio, mas ninguém é obrigado a aguentar provocação. Apesar de não concordar com alguns pontos do texto, não me sinto agredido pelo que o Mac escreveu, mas cada um é cada um.

    Abraço e bom final de ano

  33. Alan, obrigado pela defesa, mas me excedi na resposta realmente caindo na provocação do Gustavo. Bastava responder que quem se move demais é sem personalidade a partir do momento que esquece o movimento que fez minutos atrás. É uma maneira – interessante até = de olhar a questão. Mesmo assim, obrigado.

  34. Quem não gostou da lista, mude de site e compre o que achar que é bom e vai escutar em casa. Eu particularmente discordo de boa parte dela. Ninguém percebe que a lista é o que menos importa? Temos utilizar o conceito da lista para discutir o jornalismo cultural, o gueto, mainstream e principalmente o futuro daquilo que vamos ouvir pelos próximos anos. Se todo mundo for buscar um senso comum, acaba a música. É bom que a maioria discorde, pois assim motiva a produção de coisas diferentes, seja um quadro, uma estátua, um jornal ou uma música.

    Bom final de ano Marcelo

    Parabéns Marcelo

  35. Do que eu li, tanto aqui, quanto nos links dos que comentaram a lista, a única coisa que não consigo entender é alguém dizer que não conhece e não gosta, como escreveu o André Forastieri.

  36. Pessoalmente, acho extremamente interessante essa discussão sobre a lista internacional ser dos melhores ou dos mais influentes ou de uma terceira categoria. E isso abre diversas possibilidades, diversas linhas de discussão. Gosto do método da Metacritic, que compila as notas dadas pelos principais veiculos de música, dividi e essa nota fica sendo a do álbum. Pro melhores da década eles somaram a nota de todos os álbuns de cada banda, dividiram pela quantidade de discos lançados, e chegaram a conclusão que a banda da década foi o Spoon (Sigur Rós em segundo, se não me engano).

    Por outro lado, também não podemos defender que a lista do Scream & Yell seja totalmente mainstrean e popular. Grande parte dos discos ali encaixados tiveram boas vendas (Wilco, Radiohead, Strokes), mas não são as vendas que os colocaram ali. Se fosse, Coldplay, Britney, Arctic Monkeys e High School Musical (para citar quatro) também estariam. Acho interessante uma lista com a do amigo impopular Carlos Freitas, que dosa bem isso. Porém, lista de melhores é uma coisa pessoal. Tem gente que acha um disco do CPM22 um dos melhores da decada. Outro acha o Roddy Woomble. Outro ainda acha o Barry Adamson. E seguindo o conceito pessoal de cada um para elaborar uma lista dessas, todos estão certos.

    Talvez seja por isso tudo que essa seja uma eleição polêmica: porque cada pessoa tem a sua lista mental, e não concorda com isso ou aquilo. Assim, se cada um de nós pegar a lista de cada grande publicação mundial, vamos concordar com muita coisa, assim como vamos discordar de outras. Talvez fosse legal chocar umas dez listas da década de grandes publicações e ai a gente vê o que sobra dessas dez grandes votações. Memso assim vai ter gente discordando (risos). No fim, olho pra essa lista e acho que ela me representa (apesar de discordar de várias coisas). E acho que esses 40 discos permitem um excelente panorama dos últimos dez anos.

  37. É isso mesmo mac. Lembro que quando vc publicou as listas do NME, pitchfork e etc, todos comentaram, elogiaram ou criticaram. Unanimidade não existe, e acreditem, é melhor que seja assim mesmo.

  38. Já não dizem que os anos 2000 alteraram aquela famosa frase do Andy Warhol? Da previsão de que no futuro “todos vamos ter 15 minutos de fama” a coisa se transformou em “todos vamos ser famosos para 15 pessoas”… 🙂

    A mídia de massa está ruindo e, não tem jeito, a segmentação tem sido radical. Talvez nem segmentação, mas pulverização, já que cada um tem cada vez mais autonomia para ser o “editor” do seu consumo cultural.

    Enfim. Eu suspeito que vai ser cada vez mais difícil ter algum fenômeno o que atinja a todos, tipo um Elvis, um Beatles.

    Na escolha dos melhores, mesmo passando a régua da qualidade, deixando de lado os gostos mais massificados e comerciais, é inevitável chegar a uma infinidade de listas diferentes. Vai sempre depender se o sujeito é mais ligado ao jazz, à música brasileira, ao hip-hop, à eletrônica, à música erudita, etc…

    Com tanta coisa à disposição, tá cada vez mais difícil encontrar gente verdadeiramente eclética e que possa ter referência e régua pra tudo isso. Talvez a Rolling Stone tenha tentado isso, e acabou elegendo a Beyoncé a artista da década… Melhor não tentar então.

    Agora uma coisa a gente tem que admitir – essa nossa lista aqui do S&Y também é uma lista que ser refere à um grupo bem segmentado dentro do mundo cultural. Não dá pra fechar os olhos pra isso.

    Por isso concordo 100% contigo, Mac, quando vc diz que esse Top 40 é ” um recorte do que aconteceu nos últimos dez anos em uma determinada área da música pop”.

    Lista são isso. E a discussão toda é que é legal.

    Abraço,

  39. Mac,

    Só para lembrar o Forastieri, a Nação Zumbi colocou dois discos entre os melhores.

    E se entre os integrantes e, principalmente, nas influências, não há nada “preto”, pode me internar!

    Abs.

  40. Em meio a tanta coisa ruim e tanta coisa boa, qual é o verdadeiro propósito de se fazer listas? Gente, não dá! O mundo é imenso demais para caber num Top 20!

    O pessoal falou que faltou metal e black music. Mac rebateu dizendo que não houve álbuns significativos desses dois estilos. Discordo. Teve “In Absentia” do Porcupine Tree e “100 Days, 100 Nights” da Sharon Jones & the Dap-Kings. Mas e daí? Resumir qualquer universo de coisas assim é limitar nossa capacidade de degustação. Quem teve essa ideia de jerico de fazer listas, hein?

  41. sigur o que? vocês estão de brincadeira so pode ser. o franz é muito melhor do que essa maquina de fazer dormir. sigur rus é coisa de nerd chato que não liga pra meninas. tambem acho nacao melhor que esse cidadao, que eu nunca ouvi.

  42. A opinião do prezado Drex Alvarez é a opinião mais concisa e sensata sobre o rumo da música que li até agora em plagas brasileiras. Parabéns, meu caro.

  43. Esse texto está realmente fantástico!!!!
    Listas são listas ora! Não são os 10 mandamentos da Bíblia! Abs!

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