Por Danilo Corci
Pegue o Glam Rock, especialmente David Bowie. Misture, na seqüência, o estilo do Roxy Music. Para temperar, use o Kraftwerk como referência. O que se obtém no final? Sim, o synth pop, estilo que surgiu no finalzinho da década de 70, início dos 80, e se ramificou por várias áreas da música. O Synth Pop, como gênero, é aplicado à New Wave, porém as especificações do synth pop são um pouco separadas demais para incluir no estilo que mais tarde consagrou o B`52s, por exemplo.
Soft Cell, A Flock of Seagulls, Eurythmics, Human League, Depeche Mode, Gary Numan, Devo, Duran Duran e porque não, um pouco de New Order também – mas bem pouco, ok?. Estas bandas podem ser citadas como talvez as mais influentes do gênero, mesmo que mais tarde a carreira delas tenham tomado rumos um pouco mais alternativos ao synth. Mas vamos ao que interessa, a princípio. O que faz o synth pop ser tão bacana? Em parte já explicado logo na abertura deste texto, a influência de David Bowie e Roxy Music são cruciais. Mas o grande filão da história é mesmo o Kraftwerk, o pai da música eletrônica.
Neste contexto é que as bandas puderam ousar, transformar o que ouviam quando ainda moleques e modelar à nova atitude que o grupo alemão legou. Sons, barulhos, bateria eletrônica, muito, muito sintetizador, repetições, efeitos. Esta era a tônica do synth pop originalíssimo. Tudo isto misturado com algo que poderia ser tocado nas pistas de dança, que então era inundada pela disco norte-americana. Portanto, é óbvio, o synth pop foi uma reação européia ao dance do Tio Sam.
O disco que moldou este gênero chama-se “Some Bizzare Compilation” de 1981, sendo inclusive o álbum que consolidou o surgimento de uma das mais interessantes gravadoras do mundo, a Mute. Grupos como Depeche Mode, The The e Soft Cell apareceram e conquistaram legiões de fãs. Porém, das inúmeras bandas que estavam ali usando seus teclados para canções de três minutos recheado de pop, muitas se resumiram em apenas uma canção de relativo sucesso. Foram descartados rapidamente, como exige a moda. Outros tantos resolveram mudar um pouco o enfoque para sobreviver, caso do Duran Duran que voou rapidinho para a outra vertente, a do New Romantics.
Mesmo que 1984 tenha sido o ano oficialmente da “morte” do synth pop, hinos foram legados: “Tainted Love” (Soft Cell), “I Ran” (A Flock of Seagulls), “Don’t You Want Me” (Human League), “Just Can`t Get Enough” (Depeche Mode), “Sweet Dreams” (Eurythmics), “Cars” (Gary Numan), entre tantas outras, que seria realmente muito fácil listar.
E por que o synth pop é bom? Primeiro, a maneira que foi introduzido os teclados à música, com total soberania sobre os demais instrumentos. Se o punk rock, um pouco antes, havia destruído o conceito de elaboração musical, o synth dava a opção completa aos músicos dispensarem as cordas e a bateria acústica. Inclusive, apenas uma pessoa poderia ser a banda. O aparelho em questão, os keyboards, eram relativamente baratos na Inglaterra, coisa que ajudou a proliferar o surgimento de bandas. Mais. O synth pop, apesar de tudo, popularizou o homossexualismo, como um dos temas nas letras e até no estilo.
Neste aspecto, o que se deve levar em consideração é que quase todas as bandas eram compostas exclusivamente por gays. O Depeche Mode, por exemplo, tem uma canção desta época onde cantam que “garotos encontram garotos e ficam juntos”. E não fica nisto. Todos, absolutamente todos, tinha visuais bizarros, mistura de transformismo, com um gosto duvidoso, saias prateadas, maquiagem carregada. Tudo o que, futuramente, foi parte integrante da moda na década de 80, que causou frisson entre os jovens da época, inclusive com muito das bandas adotando ou sendo adotadas por estilistas.
O Synth Pop, original, durou pouco, pouco menos do que cinco anos. Mas seu surgimento foi o responsável pelo boom pop que surgiu na seqüência, ou então pelas inúmeras bandas que até hoje fazem sucesso. Boa parte delas fugiram da maneira de se criar com teclados. Deixaram um pouco o estilo cru, que dava aquela intenção de punk, para adotar mais elaboração. Hoje, inclusive, o Depeche Mode se rendeu às guitarras e à bateria. Mas não importa. Foram também um dos mentores deste estilo musical, que vários grupelhos da atualidade – Ladytron, incluso por sinal – tentam copiar sem a mesma criatividade mas que ao menos recolocaram este gênero como uma opção inteligente para a música eletrônica.
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Danilo Corci é jornalista e editor dos sites Speculum e Mojo Books
Hmm, bom texto, exceto pelo 5o parágrafo e pelo último. Não houve a morte do synth pop. Ele apenas deixou, em parte, de frequentar o mainstream e o NME (impressionante como o que já foi uma boa fonte de consulta, hj se transformou no “inimigo”), e mesmo essa suposta morte não poderia jamais ter ocorrido em 84, já que em 85 foram lançadas duas provas de vitalidade do genero: Hunting high and low, do A-ha, e a magnum opus Forever young, do Alphaville, não por acaso até hoje um standard das fm´s um pouco menos jabazeiras, e um ítem obrigatório em qualquer coleção de bom gosto que não seja guiada pelo senso comum.
É preciso tem cuidado para não cair nesse tipo de armadilha. O Arthur Couto escreveu um artigo sobre goths na Bizz recente, onde citava os cliches a la Sisters, Mission, Cure,Siouxsie para em seguida desembocar no Cruxshadows que então vinha se apresentar aqui, como se não tivesse havido Moon, House of Usher, Lycia, Freyburger Spielleyt, Thanatos, This Ascension, Kirlian Camera, Collection D´Arnel Andrea ou Judgement of Paris no meio tempo.
O synthpop tem seus classicos subterraneos que nunca cessaram de existir, e se nos 90s, a maioria das bandas (Blind Passengers, Good Courage, Kiethevez, Necrophilistic Anodyne, Second Decay, Cain Principle, Bazooka Joe, Laudanun, Anne Clark, Anything Box, Cause and Effect, Book of Love, Axodry, Covenant, Cetu Javu, Pluuto, S.P.O.C.K., Camouflage e tantos outros) ainda buscava uma identidade para si ou para o estilo, na atual década, a coisa fervilha quase tanto como nos 80s, Apoptygma Berzerk, Fairlight Children, ambos do deus Stephan Groth, óbviamente o maior musico vivo, L´avant Garde, Sweep, Ultima Bleep, Universal Poplab, Celluloide, Thermostatic, Z-Prochek, VNV Nation, Absurd Minds, Fraction, Angels & Agony, A Blue Ocean Dream, Bobby, Care Company, Chinese Theatre, China Touch, A Covenant of Thorns, Fiction 8, Nan Nan Bulu e Frozen Plasma, do genio Vasi Asalis, Imatem, Iris, The Echoing Green, Distain, Intuition, Lowe, Marsheaux, Leiahdorus, Lemon Joy, Neuroticfish, Mobile Homes, Noyce, Ostrich, Spleen United, Ostrich, Sound Tesselated, Sista Mannen Pä Jorden, Seabound, Necessary Response, Ashbury Heights, Provision, The Dignity of Labor, Sadman, Omnibox e tantos outros que não caberiam aqui se citados, estabeleceram o synthpop ( e vertentes como o Future pop) como algo sólido, apenas não muito visível ao mainstream, dependendo um pouco de garimpagem em So Sick, fóruns e blogs (aliás, o melhor blog do genero é daqui mesmo:
http://www.synthpopeletrozone.blogspot.com , atualizado diariamente), isso é mais do que é preciso para provar que o genero se mantém mais vivo do que nunca
Também não acho que o synth morreu.
Afinal porcarias como Metric e o Yeah Yeah Yeahs atual estão ai para confirmar que sempre vão ter picaretas que põe gostosas em bandas ruins e apenas chupam a sonoridade já kitsch do synth dos 80’s.
eu acho engraçado como todo mundo põe uma pecha de cafona no synthpop. deve ter gente com vergonha deste estilo. a ironia continua quando tu falas que o new order era synthpop, “mas bem pouco, tá?”. o new order, em 82/83, era tão cafona quanto o depeche mode, por exemplo. o barney sumner estava numa viagem de se influenciado por disco italiana, o que refletiu em algumas coisas bem datadas do NO. outro ponto interessante é a ressaca do pós-punk, onde as bandas adotaram guinadas em suas carreiras: o depeche mode mergulhou num ideário socialista ingênuo, o cure gelou ao extremo sua já melancólia estréia, e o new order se lançou ao hedonismo sem culpas em oposição às pregações de seu defunto líder.
e synthpop tinha tudo a ver com moda, inclusive o nome da banda de martin gore. fico me perguntou se a temática gay era real, ou apenas uma demonstração como a que temos no placebo atualmente. levando em conta os paizões de família do atual depeche mode, parece fake.
ashbury heights rules, e tem o gentle waves, um dos prediletos da casa.
Lembrei do Suicide quando li esse texto. O Suicide fazia synth pop doentio! O primeiro disco deles, de 1977, eh muito bom!
Caracas! o hansen conhece banda demais! dava pra lançar um guia!
Eita. o modem tambem é influenciado por dance italiano e disco music.