Blog do Editor: Teoria de Alison

Teoria de Alison
por Miguel F. Luna

“Oh, it’s so funny to be seeing you after so long, girl.
And with the way you look
I understand that you are not impressed.”

Essas são as três primeiras frases de “Alison”, canção de Elvis Costelo, clássico absoluto. E é a canção que empresta som, palavras e sentimento para esse texto, ou melhor, teoria. Essas frases já são uma pista mas o que vem a ser a Teoria de Alison? Bem, a teoria de Alison é uma equação muito simples:

{É só juntar um cara legal, uma garota bacana, platonismo à vontade, alguns itens da Lei de Murphy, e, às vezes, um relacionamento quase perfeito acontece. Quase perfeito. Aí é só bater no liqüidificador e beber o resto da vida entre silêncios e sonhos}

Alisons são aquelas garotas que marcam a vida da gente e que a gente não consegue esquecer com o tempo, ao contrário, elas nos tomam cada vez mais, como se só existissem elas no mundo. Sei que não existem apenas elas, mas isso é inexplicável, acontece. E acontece a ponto de as tornarem as maiores adversárias de novos relacionamentos, embora nem estejam mais ali, talvez apenas como fantasmas, mas nós acabamos sempre as querendo. É diferente de flertes corriqueiros e inconseqüentes e é sacrifício até manter a amizade depois que a história chega ao fim, ou melhor, quase início.

Ela pode ser qualquer garota, como a vizinha, uma colega de classe, a amiga de um conhecido, a irmã de uma amiga, a namorada do melhor amigo, uma prima, qualquer uma. Parece piada, mas acredite, não é. Acontece. Quem tem uma Alison tem também uma porção de histórias tragicômicas para contar. Eu mesmo tenho um monte e daria para escrever um livro só contando minhas mancadas.

Cada um deve ter a sua Alison. Eu tenho a minha, bonita, inteligente, frases iniciadas por um e finalizada por outro, quase beijos, e por fim, silêncios. Tá, ela me envia emails vez em quando. Mas já não está sozinha, o que a torna ainda mais impossível. Mas é a minha Alison, vou fazer o que? Não escolhi. Ela me apareceu do nada, numa tarde de julho a quase 800 km da  minha casa (acho que fui eu que apareci) e, bem, ela vai se casar em setembro e eu não quero ser muito sentimental (como canta Costelo) mas a vida segue, cada um na sua, e geralmente Alisons nos trazem tristeza. É a sina. Eu só sei que ela não é minha.

Isso é o fim ? Não, como eu disse, a vida segue. Apenas segue mais arrastada. Isso tudo não impede da gente encontrar alguém e se apaixonar e tal. Eu já me apaixonei mas não foi lá grande coisa, nem por culpa da paixão mas por culpa da Alison. Mesmo assim acredito que a minha garota está andando por aí e qualquer dia eu a encontro. Acredito. Mas Alison é  Alison, a gente bebe a vida inteira dessa chuva. E desde então parece que tem chovido sempre. Sempre.
“Alison, my aim is true. My aim is true.”

Miguel F. Luna, 25,  é cercado por fantasmas e escreve sobre silêncios.

Reflexões Alisônicas
Por Miguel F. Luna

É meio de semana, quarta-feira de um mês de junho friorento que já derrubou um punhado de amigos meus, com gripe. No som, Yo La Tengo novo, lindo lindo e… lindo. Mesmo assim, e sem ouvir, a canção dos últimos dias tem sido Alison, do Elvis Costelo…

Não, ela não ligou, não mandou e-mail e nem apareceu na porta de casa vestida em um paletó de couro sobre um pijama de bolinhas. O que me fez cantar “my aim is true” em pensamento todos esses dias foram a porção inimaginável de cartas e emails que recebi, de gente elogiando a teoria (publicada na edição anterior), o texto, a canção, tudo. É muito legal ter um feedback desses, principalmente na passionalidade que o texto passava. Mas, saibam, fiquei preocupado.

Preocupado pois sei que por trás dos elogios existem uma porção de pessoas vivendo situações terrivelmente alisônicas, cujo sintoma maior é a perda de alguém que a gente julga “a pessoa certa” para nós. Por isso, vivemos a margem, romances incompletos. Não é legal, mesmo. A não ser que você nutra alguma chance de retorno, ai vale. Caso contrário, é tragédia grega.

No meu caso particular, exemplificando, Vitória é uma cidade proibida. Não piso lá nem que alguém diga que Ian Curtis ressuscitou para um único show com a formação original do Joy Division em que ele vai cantar Atmosphere. Nem. Então, bola pra frente, certo. Certo?

Errado. Não consigo me apaixonar e acho que a garota que eu tava paquerando, e que eu queria que se apaixonasse por mim, se achou carta fora do baralho, por esse papo de Alison, e desistiu. Não é legal isso. Nem um pouco.

Não é legal ter uma Alison. É legal ter uma Ana (”She’s my fave, undressing in the sun”), é legar ter uma Sweet Jane (”Cause life is just die, but, anyone who has a heart wouldn’t want to turn around and break it”), é legal até ter uma Metal Baby (”My Metal Baby, made me take her to the heavy metal show”) ou uma Lump (”Lump lingered last in line for brains and the one she ot was sort rotten and insane”). Alisons só dão dor de cabeça. E corações partidos.

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Garotas perguntam: uma menina pode ter um Alison? É claro. Infelizmente vocês não estão livre. Nem os gays, nem os negros, nem os japoneses, nem os marcianos, nem os personagens de Woody Allen e muito menos Spit, personagem principal do romance rock and roll Clube dos Corações Solitários, de André Takeda, se salvam.

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Garotas continuam perguntando: é possível ter dois Alisons? Com muito azar, sim.

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Teorizando em nível rasteiro: talvez Alisons sejam Copas do Mundo perdidas como as de 50 e a de 82. Permanecem mais que conquistas como a de 94…

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Alguém cantou baixinho no meu ouvido:
“as brigas que eu ganhei, nenhum troféu como lembrança pra casa eu levei.
as brigas que eu perdi, essas sim, eu nunca esqueci, eu nunca esqueci…”

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Enriquecendo o repertório de Alisons:
“Alison Road”, dos americanos do Gin Blossoms, foi a canção de fundo desse texto.

“I’ve lost my mind on what i’d find, and all of the pressure that I left behind on Alisson Road.
Now I can’t hide so why not drive I know I want  to love her  but I can’t decide on Alisson Road
Dark clouds file in when the moon in near birds fly by a.m. in her bedroom stare
there was no tellin what I might find I couldnt, see I was lost at the time…
Yeah, I didn’t know I was lost at the time on Alisson Road”

Miguel, 26, sabe tanto de Alisons quanto falar francês, ou seja, nada…

Nota do Editor: a Teoria de Alison foi publicada pela primeira vez na versão on paper do Scream & Yell, em março de 2000. Foi um dos textos mais comentados da edição, rendendo muitas cartas e comentários ao autor, que ainda preparou um segundo texto, que estaria no número 7 do Scream & Yell On Paper, mas acabou sendo publicado na versão on line, na estréia do site, chamado “Reflexões Alisônicas”.

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