vale tudo. Mesmo?
O assunto do momento em São Paulo é a propaganda política (já retirada do ar) de Marta Suplicy em que a candidata petista pergunta, em certo trecho, se os eleitores sabem quem realmente é Gilberto Kassab, “se ele é casado? se tem filhos?”. O coordenador da campanha petista, bem cara de pau, virou-se contra a imprensa, repudiando o que ele chama de insinuações da mídia. Melhor se saiu o repórter especial do iG, Maurício Stycer, que em sua coluna de hoje mandou: “Marta e Kassab parecem falar a verdade quando dizem que o outro mente” (leia aqui).
Como diria Jack, o Estripador, uma coisa de cada vez. A afirmação de Marta (e da coordenação da campanha) sobre a pretensa homossexualidade de Kassab foi extremamente grosseira e fuge ao campo que realmente interessa ao eleitor: o que eles realmente vão fazer por São Paulo? Chega a ser bisonha a pergunta de Marta, uma sexóloga que sabe muito bem que pouco importa se um governante é (parafraseando Morrissey em “América In Not The World”) negro, mulher ou gay. O que realmente importa é o que ele quer fazer pelo povo e para o povo.
Ok, segunda parte. É bastante inocente pensar que Marta não soubesse no que iria dar sua cutucada sexual em Kassab. Para mim, ela pesou e imaginou: “os ativistas vão reclamar um pouco, mas o povão dos bairros em que perdi o primeiro turno – e que são extremamente tradicionalistas – vão vir para o meu lado”. É o velho bordão do “na guerra e no amor vale tudo”. Mas será que vale mesmo? Sinceramente: tenho vergonha dessa declaração de Marta Suplicy. Ela ameaça jogar por terra anos e anos de batalha social em pró dos direitos humanos, e cada um tem o direito sim de escolher o sexo que mais o atrái.
Se o mundo fosse perfeito, e se Kassab fosse macho (como brinco sempre: é preciso ser muito macho para sair montado na rua, todo travestido, de salto alto, no meio da noite – risos) o bastante, ele assumiria publicamente sua posição sexual (como fez o prefeito de Paris) e levantaria uma bandeira que poderia escurraçar Marta. Se o mundo fosse perfeito e se Kassab não tivesse 17 pontos percentuains à frente da petista neste momento da campanha. É muito cedo para arriscar entrar no jogo da concorrente e perder por capricho ideólogico.
Isso não quer dizer que Kassab está perdoado de todos os seus pecados políticos. Sua associação com Maluf e Pitta é algo que colocaria à prova o curriculo de qualquer homem do bem, imagine de um político. Como escreveu Stycer, “Ao se acusarem de mentirosos, Marta e Kassab parecem falar a verdade”. No fundo, o que fica é a VA total de ter pessoas como essas brigando pela prefeitura da cidade mais populosa do país, com amigos meus sendo assaltados em qualquer hora do dia, e eu demorando 1h30 para chegar em casa de ônibus num trajeto que, a pé, eu faço em 1h20. Independente de quem vencer, fica a sensação de que nós, paulistanos e brasileiros, perdemos.