por Marcelo Costa
Do Acre para São Paulo, o quarteto Los Porongas assumiu a responsabilidade de abrir a noitada no charmoso palco da sala Adoniran Barbosa, no Centro Cultural São Paulo, em um sábado queeeente de sol. Responsáveis por um dos grandes álbuns de 2007 (o homônimo “Los Porongas”, lançado pelo selo Senhor F), os acreanos fizeram uma apresentação irrepreensível e com vários pontos altos.
Primeiro ponto a favor: a banda tem punch ao vivo e os quatro integrantes são afiados. O vocalista Diogo Soares (ex-apresentador da TV Aldeia) canta de forma clara e precisa. Na guitarra, João Eduardo deixa escorrer uma paixão pelos guitar heros dos anos setenta. Enquanto Diogo e João Eduardo nem passaram da idade fantasmagórica do rock (os temidos 27 anos), a cozinha da banda é experiente: Márcio Magrão (36) e Jorge Anzol (38) mostram segurança e personalidade.
Desde a primeira vez que ouvi o álbum, a primeira coisa que me vêem a mente são os Secos & Molhados. É uma primeira impressão que não me abandonou no show, mas ganhou outras referências: há no som dos Porongas um choque saudável entre a velha MPB (com pequenas pitadas de Los Hermanos), o brock dos anos 80, sons regionais e o rock de guitarras que em alguns momentos fisga o britpop, mas tem casa nos anos setenta. É um som que funciona bem em disco, e cresce muito ao vivo.
Boas faixas como “Nada Além”, “Enquanto Uns Dormem” e “Espelho de Narciso” soam ainda melhores no palco, e já recomendam o DVD que o grupo gravou no Itaú Cultural (SP) no ano passado, e que deve ganhar às lojas ainda no primeiro semestre. O disco, por sinal, está todo liberado para download no Senhor F e no site oficial dos acreanos (http://www.b-log.net/losporongas/disco.htm). Baixe e, caso apareça uma oportunidade, não perca um show desses caras.
Antes do Terminal Guadalupe entrar no palco, os cuiabanos do Macaco Bong pegaram os instrumentos para tocar apenas uma música, inédita, do álbum “Artista Igual Pedreiro”, que está prestes a ser lançado. O trio é competente e, como observou o amigo Carlos Freitas, se eles não tivessem adiantado que era apenas uma música, seria fácil vender a apresentação da banda como um show completo (uma música com várias passagens instrumentais).
Em seu primeiro show na capital paulista em 2008, o Terminal Guadalupe (um dos grandes destaques da votação de Melhores do Ano do Scream & Yell) deixou de lado os uniformes de cobradores de ônibus e fez um show mais calmo e cadenciado do que as apresentações anteriores na cidade (no CB, na Funhouse e no Inferno). No entanto, o som – que nos “dois shows” anteriores estava excelente – sacrificou as guitarras, e quase colocou a noite a perder.
No palco, a banda apresentou canções antigas (”Burocracia Romântica”, “Lorena Foi Embora”), hits independentes (”Esquimó Por Acidente”, “Pernambuco Chorou”, “De Turim a Acapulco”), canções do elogiado álbum “A Marcha dos Invisíveis” (”Atalho Clichê”, “El Puelbo No Se Va”) e “Megafone de Bagdá”, faixa do EP “Delação Premiada” (2005) que pode ser um dos destaques do novo álbum (em pré-produção). A falta das guitarras prejudicou a apresentação, no entanto, quem ainda não havia visto o TG ao vivo aprovou o show.
Quase ao final da apresentação, no meio de “A Marcha dos Invisíveis” (a música), o guitarrista Allan Yokohama esfacelou sua Gibson Les Paul preta no chão da sala Adoniran Barbosa. Ainda durante a música, Allan assumiu o violão, e muitos temeram pela vida do pobre instrumento. Allan já havia estraçalhado uma Fender Stratocaster em janeiro, mas o violão saiu ileso. Sinceramente, guitarras que não se fazem ouvir deveriam todas ter o mesmo destino. O gesto, porém, serviu para amplificar a ausência do instrumento e os problemas do som. O show foi bom, mas o Terminal Guadalupe pode bem mais.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne