por Marcelo Costa
Michael Clayton já foi promotor de justiça, vem de uma família de policiais, mas neste momento trabalha para uma grande empresa de advocacia. Sua função: faxineiro. Bem, mais ou menos isso. Michael, na verdade, ganha uma fortuna para limpar a sujeira dos clientes da firma Kenner, Bach & Ledeen, desde um caso em que o homem atropelou alguém e fugiu da cena do crime até grandes empresas atoladas em processos milionários.
Nosso amigo poderia estar bem de grana se seu bar não tivesse falido, se ele não fosse viciado em carteado e se não devesse um belo montante para um agiota. Como se os problemas financeiros não bastassem, Michael fica encarregado de limpar a sujeira de um outro “faxineiro”, Arthur Edens, um dos seus melhores amigos na corporação. Arthur surtou em um julgamento, tirou toda a roupa em frente ao júri e está prestes a sabotar uma mega corporação em um processo de bilhões de dólares.
Após uma boa carreira como roteirista – tendo escrito a trilogia “Bourne” e o ótimo “O Advogado do Diabo” –, Tony Gilroy estréia na direção (sem largar o roteiro) e constrói um excelente thriller político – ancorado em um grande time de atores (George Clooney, Tom Wilkinson, Tilda Swinton e Sydney Pollac) – que arrebatou sete indicações ao Oscar, incluindo os badalados Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Clooney), Melhor Ator Coadjuvante (Wilkinson), Melhor Atriz Coadjuvante (Swinton) e Melhor Roteiro Original. Para um filme de estréia, vamos combinar, não é nada mal.
Porém, mesmo com a mão certeira na direção e roteiro, e com a equipe recheada de atores acima da média, “Conduta de Risco” soa deja vu em grande parte de seus 119 minutos. A escolha de George Clooney para o papel principal soa equivocada, não que ele não seja capaz de arrancar do personagem uma grande atuação, mas porque ele ganhou um Oscar dois anos atrás com um papel praticamente igual a este. Em “Syriana”, Clooney era um agente veterano da CIA trabalhando no Oriente Médio. Em “Conduta de Risco” ele é um advogado veterano trabalhando em Nova York. Acredite: praticamente inexistem diferenças entre os dois personagens.
“Syriana”, que discutia a indústria do petróleo, já vinha embalado por uma onda de filmes que escancaravam os meandros políticos das grandes corporações cuja lista inclui “O Informante” (1999), sobre a indústria do tabaco; “Erin Brockovich” (2000), indústria química; “O Júri” (2003), indústria de armas; e “O Jardineiro Fiel” (2005), indústria farmacêutica. Há praticamente um pouco de cada um destes filmes em “Conduta de Risco”, principalmente “Erin Brockovich”e ”Syriana” (devido à presença marcante de George Clooney), que apesar da mão certeira, não supera em qualidade nenhum dos citados.
O submundo das grandes corporações é um prato cheio para bons filmes e discussões. Se levarmos em conta o best-seller “Sem Logo – A Tirania das Marcas em Um Planeta Vendido”, de Naomi Klein, filmes ágeis como este “Conduta de Risco” mostram perfeitamente como as decisões mais importantes do mundo estão sendo discutidas, definidas e aprovadas em uma pequena sala com poucas pessoas, longe da grande sociedade. Enquanto escrevo (e você lê), pessoas que não conhecemos decidem o nosso futuro. É bastante assustador, e apenas por trazer o assunto à tona, “Conduta de Risco” já merece crédito, mesmo soando repetitivo e sem personalidade.
Desta forma, na teoria, politicamente falando, “Conduta de Risco” é um filme interessante e necessário em uma sociedade cada vez mais apática e dominada por um grupo minoritário de pessoas. Porém, na prática, cinematograficamente ele é um placebo, um filme fórmula perfeito na execução, mas igual – e até inferior – a vários outros do mesmo gênero. Não se impressione pelas sete indicações ao Oscar. Tony Gilroy vai sair da premiação como entrou: com as mãos vazias…
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne