por Marcelo Costa
Exercício de estilo pode ser algo muito interessante. Quando você muito a mesma coisa é inevitável que traços iguais apareçam em todas elas. É meio estranho quando reclamam que Woody Allen está se repetindo quando, na verdade, ele está filmando a Woddy Allen, exercitando seu próprio estilo. Porém, exercício comumente é usado para mascarar uma ideia que era para ser algo grandioso, mas que acabou não funcionando. O certo seria parar tudo, reescrever, mexer em detalhes e se isso não adiantasse desistir do projeto. Mas há muita grana em jogo quando se está fazendo um filme. Então entra o exercício de estilo para “encher linguiça”. “Paranoid Park”, de Gus Van Sant, é mais ou menos isso.
Há uma história, interessante até, em “Paranoid Park”. Um vigia de uma linha de trens aparece morto e os frequentadores de um parque de skatistas são convocados para averiguações. A chance da polícia chegar no culpado é praticamente inexistente, então o caso policial é deixado de lado para entrarmos no drama pessoal do jovem Alex, filho de pais recém-separados e já marcado por esse fato: não quer transar com a namorada, de quem não gosta tanto assim, porque não quer se envolver e acabar como seus pais. “Paranoid Park” aprofunda a análise psicológica como se fosse um “Crime e Castigo” moderno, mas perde força pelas longas tomadas em 8mm de skatistas e pelo exagero na sustentação de algumas cenas de mensagem óbvia.
Krystof Kieslowiski, nos extras de seu filme “A Liberdade é Azul”, explica uma cena em que um cubo de açúcar é molhado no café, e tomado pelo líquido. A idéia da cena era demonstrar para o espectador o quanto à personagem (Juliette Binoche) estava mais interessada no cubo de açúcar tomado pelo café do que na declaração de amor do homem a sua frente. E o diretor conta que sustenta o foco no cubo de açúcar por cinco segundos, e que a equipe precisou encontrar um cubo de açúcar que demorasse cinco segundos para ser tomado pelo café, pois o espectador não precisava mais do que isso para entender a cena, e mais tempo seria uma agressão. Em vários momentos de “Paranoid Park” Gus Van Sant agride o espectador.
Quando não sustenta a cena em excesso, Gus Van Sant usa a trilha sonora para dar ao espectador a resposta que ele precisa para não se perder na trama óbvia de “Paranoid Park”. Exemplo desse expediente é o trecho que marca o rompimento de Alex com a namorada. Sai o áudio dos atores, entra uma canção de amor, e pelo semblante da namorada percebemos que o inevitável aconteceu. Há certa beleza na cena, que se não se passasse em câmera lenta talvez tivesse um resultado melhor, mas não bastaria para tirar o filme do buraco de tédio em que ele se encontra desde seus primeiros segundos até o seu final arrastado. Na falta de um bom filme, Gus Van Sant exercita seu estilo com “Paranoid Park”. Porém, poucos diretores no mundo fazem o filme do nada, apenas com seu estilo, e conseguem um resultado arrebatador. Van Sant não é um deles.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne