por Marcelo Costa
No local em que a edição do Tim Festival celebrou a melhor relação “custo x beneficio”, o público curitibano pôde assistir a cinco atrações da edição carioca (que, completa, recebeu 26) pagando R$ 80 (enquanto em São Paulo tudo ficou por R$ 180 e a média no Rio foi de R$ 100 para cada três shows). Na última hora era possível comprar convites na porta por R$ 35, capas de chuva por R$ 10 (mas se você chorasse um desconto ela saia até por R$ 5), um bom saco de pipoca por R$ 3 e, acreditem, cerveja por R$ 3.
O público fez a sua parte: marcou presença, lotou a Pedreira Paulo Leminski e aplaudiu todas as atrações. A Nação Zumbi voltou a repetir a grande atuação que fez no Tim Festival 2003. DJ Shadow mixou canções de seus três discos e trouxe a voz de Thom Yorke para as caixas de som. Patti Smith repetiu o show perfeito de sábado na Marina da Glória. O Yeah Yeah Yeahs fez um show menos barulhento, e muito melhor do que o da edição carioca. E o trio de MCs do Beastie Boys – escudados pelo DJ Mike – viu o público curitibano chacoalhar os braços, requebrar o corpo e cantar todas as músicas como se fossem hinos até pouco depois da 1h da manhã. Um festival para lavar a alma, já que a chuva lavou o corpo.
Nação Zumbi
O vocalista Jorge Du Peixe chegando dando o recado: “Show cedo demais, né. Não dá nem para chapar”, brincou. A banda, que abria a perna curitibana do festival pontualmente às 19h, mostrou todos seus maracatus de uma tonelada. Canções “velhas” do tempo de Chico Science (“Amor de Muito”, “Coco Dub”, “Rios, Pontes e Overdrives”) brilharam lado a lado com a excelente safra recente (representada pelas matadoras “Memorando” e “Hoje, Amanhã e Depois”). Momento da noite: Du Peixe anuncia “uma canção nova”: “Maracatu Atômico”. Foi uma festa.
DJ Shadow
Com o público tomando apenas metade do espaço da Pedreira Paulo Leminski, e a chuva começando a molhar para valer os presentes, DJ Shadow chegou misturando canções de seus três álbuns solo sem acelerar a batida. O som cadenciado – acompanhado pelas belas imagens sincronizadas em um telão atrás das pick-ups – ajudou a criar um clima lisérgico. Na segunda metade do show, MC Lateef subiu ao palco para cantar as canções do álbum mais recente do DJ, “Outsiders”. E para o final, Shadow mixou canções do projeto Unkle, e agora os curitibanos podem até dizer: as vozes de Thom Yorke (do Radiohead, na música “Rabbit in Your Headlights”) e Ian Brown (Stone Roses, na música “Be There”) já foram ouvidas em um show na cidade.
Patti Smith
A chuva aumentou, assim como o público. Quando Patti Smith entrou no palco, com o mesmo figurino com que se apresentou no Rio de Janeiro, três dias antes, a história do rock escrevia suas linhas – com charme, poesia e estilo – mais uma vez. Patti abriu o show com uma canção de sua safra “recente”, “Beneath the Southern Cross”, do álbum “Gone Again”, de 1996 (faixa que – em estúdio – contou com a presença de Tom Verlaine do Television na guitarra; o ex-Velvet Underground John Cale no órgão; e o falecido Jeff Buckley nos vocais). Em seguida, duas pérolas do clássico álbum “Horses” dividiram o público. Enquanto “Free Money” serviu para agitar a audiência, a excelente “Redondo Beach” (que Morrissey recuperou recentemente) dispersou a atenção. Na seqüência, um repeteco do show carioca, com “Because The Night” sendo cantada em coro, e “Pissing In a River” emocionando a todos. Em “People Have the Power”, Patti voltou a discursar como no Rio explicando que “o povo não deve servir ao governo: o governo é que deve servir ao povo” (em “Gloria”, lembrou que a “Igreja também deve servir ao povo”). Na parte final da canção, desceu para o fosso que separa o palco do público, e – assim como fez seu súdito Michael Stipe no Rock In Rio 3 – cumprimentou os fãs. “Gloria” fechou a apresentação de forma magistral.
Yeah Yeah Yeahs
Karen O é uma garota estranha. Nos momentos calmos do show de sua banda, que são raros, muito raros, ela fecha o rosto, faz pose de séria, e até consegue balbuciar palavras com alguma melodia. No entanto, basta seus dois parceiros detonarem a máquina de barulho que a menina começa a saltitar feliz pelo palco, distribuindo sorrisos e gritos ensandecidos. Em comparação com o Rio, o show de Curitiba foi melhor: mais audível, um tiquinho menos barulhento e muito mais divertido. “Pin” e “Miles Away” fizeram a festa dos fãs. Mas o grande momento do show voltou a ser “Maps”, que pode ser considerada um clássico do rock anos 00. Ao anunciar a canção, a psicopata Karen O, com olhar fixo em lugar nenhum e sorriso maquiavélico, ainda explicou: “This song about… LOOOOOOOOOOOOOOOOOOVE”. Até torcedores do Náutico e do Coritiba, que deviam estar saindo do estádio Couto Pereira – quase no centro da cidade – naquele momento, devem ter ouvido o berro da menina. Ela se despediu dizendo que amava todos nós. E “nós”, naquela hora, éramos muitos.
Beastie Boys
Vestidos de terno e gravata, os MCs Ad Rock, MCA e Mike D desfilaram pelo palco da Pedreira Paulo Leminski e foram ovacionados pelo público, que cantou praticamente todas as músicas, de “Skills to Pay the Bills” a “Body Movin’”, de ‘Three MC’s and One DJ” a “Shake Your Rump”, entre várias outras. Ad Rock, que estava fazendo aniversário, ganhou um bolo de presente, e apagou velinhas no palco. O público cantou timidamente um “happy birthday” enquanto os três MCs entornavam champagne. DJ Mike deu um baile no scratch, e Ad Rock até brincou: “Mike fala com o público através das pick-ups”. Para o bis, o trio voltou munido de baixo, guitarra e bateria (e claro, DJ Mike) finalizando o show com a sensacional “Sabotage”, término mais do que perfeito para a edição 2006 do Tim Festival.