por Marcelo Costa
“Surfando Karmas e DNA”, Engenheiros do Hawaii (Universal)
“Se eu soubesse antes o que eu sei agora, erraria tudo exatamente igual”, canta Humberto Gessinger em “Surfando Karmas e DNA” (2001), faixa que abre e dá título ao décimo terceiro disco dos Engenheiros do Hawaii. Nada mais apropriado, já que Humberto chutou todo mundo da formação anterior, assumiu a guitarra (como só havia feito na estreia da banda, em “Longe Demais das Capitais”, de 1986) recrutou sangue novo e não mudou nadica de nada no som. Ok, as guitarras estão um tiquinho mais sujas, mas é aquilo mesmo que todo mundo conhece bem (até a capa é horrível, como quase todas as anteriores dos Engs). Chega a surpreender a aversão de Gessinger a modimos. Modas vem e vão e os Engenheiros continuam os mesmos. No saldo final, “Surfando” é o melhor dos últimos trabalhos da banda. Não é um “A Revolta dos Dândis” muito menos um “Várias Variáveis”, mas fica ali, podendo até cavar espaço num quarto ou quinto lugar na discografia dos Engenheiros. Dificilmente vai angariar novos fãs, mas com certeza fará os antigos felizes.
Nota: 7.5
“Dançando no Campo Minado”, Engenheiros do Hawaii (Universal)
Incrível que ainda em 2003, mais de 17 anos após ter lançado o primeiro álbum, “Longe Demais dos Capitais”, o Engenheiros do Hawaii continue sendo objeto de artigos “ame ou odeie”. Se as pautas continuam as mesmas, o som da banda de Humberto Gessinger mudou ao menos um tiquinho. A sujeira que já marcava o ótimo “Surfando Karmas e DNAs” tomou a frente, o meio e os lados em “Dançando no Campo Minado” (2003), décimo-quarto álbum dos Engenheiros do Hawaii. Agora, a banda gaúcha posa de hard rock de arena. Sabe como é: guitarras velozes sem muito peso e bateria acelerada sem muita rapidez, perfeitinho para se tocar em FM. Problema nenhum, mas o frescor de “Surfando” parece bater cartão de ponto em “Dançando”, e isso incomoda. Humberto continua escrevendo algumas das melhores letras do rock nacional (existe ainda?) e os bons achados se destacam mais que os riffs datados. Passe pela básica e tola “Camuflagem” e encontre a boa “Duas Noites no Deserto” (da ótima frase “hoje eu sei, só a mudança é permanente / de repente tudo está no seu lugar”). A letra bacana salva “Rota de Colisão” com refrão para ser cantado em estádio. “Segunda-Feira Blues 1” é puro Gessinger (e é bacana) enquanto a versão número “2” é um remake e traz o ex-batera Carlos Maltz fazendo os vocais (também bacana). “Dom Quixote” abre com uma boa frase (“Muito prazer, meu nome é otário”), mas a canção não segura, assim como as fracas “Na Veia”, “Fusão a Frio” e “Outono em Porto Alegre”. Em “Até o Fim”, uma frase carta de princípios: “Não vim até aqui pra desistir agora / Entendo você se você quiser ir embora”. Que tal o recado? Bom, para garotos que amavam Engenheiros do Hawaii, umas quatro boas músicas já valem o disco. Em 2003 não está bom demais? Ah, detalhe importante: a capa é bem bonitona (milagre, ele acertou a mão nessa).
Nota: 6,5
“Acústico II – Novos Horizontes”, Engenheiros do Hawaii (Universal)
Gessinger aposta em nove inéditas neste que é o segundo acústico consecutivo dos Engenheiros. A safra é boa e merecia mais do que fãs histéricos gritando e batendo palmas fora do tom. “Vertical”, “Guantanamo”, “Quebra-Cabeça” e, principalmente, “No Meio de Tudo, Você” (inferior à versão demo) compensam as participações de Carlos Maltz (na terrível “Cinza”) e Clara Gessinger (na pífia “Parabólica”), mas falta charme e sobra tédio ao álbum. Bons tempos os de “Filmes de Guerra, Canções de Amor”…
Nota: 7
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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