por Marcelo Costa
“Amnesiac” é indefinível. A enquete que ficou duas semanas na capa do S&Y colheu opiniões tão antagônicas que parecia que o assunto tratado não era o mesmo. Tem gente que chamou de maravilhoso e tem gente que disse que é lixo. A audição nos deixa em dúvida se estamos ouvindo a maior porcaria já lançada ou o álbum mais visionário dos últimos anos. Tanto pode ser um quanto pode ser outro e nessa dualidade reside a chave da questão: Amnesiac é uma merda ou é uma pérola? Ou é uma merda e é uma pérola? Tostines é fresquinho por que vende mais ou vende mais por que é fresquinho? (resenha completa aqui).
Packt Like Sardines in a Crushed Tin Box
Começa como se fosse um trip-hop lento, alternando bateria eletrônica e bateria humana. Um som agudo distorce trazendo consigo a voz de Thom Yorke levemente alterada com efeitos. Os efeitos se misturam e se misturam e se misturam enquanto Yorke repete infinitamente “I’m a reasonable man, get off my case, get off my case”..
Pyramid Song
O piano comanda e parece estar sendo sutilmente tocado com um martelo. A bateria entra tão sutil quanto e a canção ganha ares de épica. A voz é dobrada no meio da música enquanto o vocalista declama o pseudo-refrão:
“there was nothing to fear and nothing to doubt”. O clima é grandioso e belo. Circulou muito na internet com o nome de “Nothing to Fear” e “Egyptian Song”.
Pull/Pulk Revolving Doors
Efeitos, efeitos e mais efeitos. Bateria eletrônica e baixo agudo marcam o ritmo que circula em torno de si até desembocar num riacho de sonzinhos infantis. À frente, uma voz de marciano brinca de dizer nada sobre nada enquanto abre portas e portas. Ironia perdida e dispensável, como a própria canção.
You and Whose Army?
A melancolia volta a reinar com efeitos e piano. Mais efeitos na voz que soa bêbada sobre uma cama vocal fúnebre. A bateria surge da mesma forma e com a mesma força que em “Pyramid Song”, mas a guitarra ao fundo faz a diferença, por mais abafada que esteja. A letra é curta e bela, finalizando com “you forget so easy/ we ride tonight/ ghost horses”…
I Might Be Wrong
Guitarras, meu deus, elas existem. A alegria dura pouco para o fã guitarreiro. O riff é repetido ao infinito, mas a bateria eletrônica, totalmente dispensável, sugere uma dança na lua. Yorke canta muito, mas a canção não empolga.
Knives Out
Piano, bateria e arpejos de guitarra nos levam direto ao berço de “Ok Computer”. Tanto a temática da letra quanto a sonoridade remetem a isso. E o resultado é excelente.
Amnesiac/Morning Bell
Uma outra versão para a canção já lançada em “Kid A”. Aqui, a letra se apresenta resumida, mas a economia nas palavras não é seguida no belíssimo arranjo. Lirismo.
Dollars and Cents
É triste que uma das melhores letras do álbum tenha sido soterrada em um arranjo demencialmente fúnebre. A bateria abusa dos pratos jazzísticos enquanto os teclados aparecem em crescendos escuros que remetem diretamente a enterros. Do meio pra frente tudo muda, a bateria acompanha os teclados e tudo desmorona numa levada de baixo genial. O resultado é ok, mas não salva a canção.
Hunting Bears
Uma guitarra distorcida e cheia de efeitos conduz essa faixa instrumental desinspirada.
Like Spinning Plates
Mais efeitos abrem essa canção. O clima é claustrofóbico. A base é repetitiva e terrivelmente chata e é sobre ela que o vocalista canta com sua voz cheia de efeitos. Yorke joga mais uma bela letra no lixo com o arranjo de gosto duvidoso. É a típica canção que só fã mesmo pode gostar.
Life in a Glass House
Mais e mais efeitos. A lembrança da faixa anterior é logo esquecida com a entrada do piano. A voz vem junto e traz consigo o trumpete do veterano jazzista Humphrey Lyttleton. A canção parece sugerir que New Orleans é aqui do lado, do lado da casa de vidro. Clarinete e trombone unem-se ao trumpete e o clima de boteco reina nessa sensacional faixa de encerramento que sugere acabar com todo mundo deitado sobre o balcão. O próprio Yorke parece rir com o crescendo instrumental da canção, embora seja difícil imaginá-lo rindo.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell desde 2000 e assina a Calmantes com Champagne.
Leia também:
– “Pablo Honey”, por Eduardo Palandi (aqui)
– “The Bends”, por Renata Honorato (aqui)
– “Ok Computer”, por Tiago Agostini (aqui)
– “Kid A”, por Luís Henrique Pellanda (aqui)
– “Amnesiac”, por Marco Tomazzoni (aqui)
– “Hail To The Thief”, por Marcelo Costa (aqui)
– “In Rainbows”, por Alexandre Matias (aqui)