por Marcelo Costa
“Por que as pessoas romanticamente mais infelizes são aquelas que gostam de música pop?”. A frase (adaptada) de Nick Hornby, chave do romance/ filme/ peça de teatro “Alta Fidelidade”, poderia estar encaixada em alguma cena perdida de “Moulin Rouge” (2001), novo filme de Baz Luhrmann com o casal Ewan McGregor e Nicole Kidman esbanjando carisma na tela e pulando do tolo ao sublime como se cavalgassem estrelas. Incomoda, às vezes, mas o resultado final é ok.
Baz Luhrmann você conhece, certo? Ele é o cara responsável pela (interessante) adaptação versão videoclipe de “Romeu + Julieta” (1996) com Leonardo Di Caprio e Claire Daines nos papeis principais (e uma baita trilha sonora). Assim como fez com a obra do bardo inglês, Baz pesa a mão nos excessos em “Moulin Rouge” e acaba, por vezes, enjoando visão e audição em longas duas horas de projeção.
Porém, para construir seu musical cafona “Moulin Rouge”, Baz desenhou uma ópera pop batendo em uma centrifuga Nirvana (“Smells Like A Teen Spirit”), U2 (“Pride”), Beatles (“All You Need Is Love”), David Bowie (“Diamond Dogs”, “Heroes”), Police (“Roxanne”) Madonna (“Like a Virgin”) e mais um “livro” de citações (ainda tem Fatboy Slim, Beck, Queen e Christina Aguilera, mas há muito mais).
O roteiro parece montado com música pop sobre música pop e, por mais estranho que possa parecer, as citações orquestradas funcionam a perfeição. Há até surpreendentes resquícios de Monty Python na atmosfera de “Moulin Rouge”.
Os primeiros 20 minutos do filme não fariam feio no “Piores Clipes do Mundo” da MTv. A câmera não para quieta, sobrevoa a cidade, busca as cores quentes e preenche a tela com zooms. O resultado frenético incomoda, mas não será isso que Baz Luhrmann estava procurando? Se estava, conseguiu.
No fim das contas, “Moulin Rouge” acaba mostrando o mundo pós-moderno do diretor, ancorado em cultura pop do mesmo jeito que Nick Hornby o faz em seus livros. O senão é que o inglês soa sincero enquanto o australiano soa exagerado. “Moulin Rouge” é colorido demais.
A história acontece na virada de 1899 para 1900. O centro boêmio do mundo é Paris. Moulin Rouge é a atração principal da cidade que é a capital boêmia do mundo, e é um bordel de alta categoria. É para lá que o jovem e ingênuo escritor Christian (Ewan McGregor), que acredita no amor (sem nunca ter amado), parte ao encontro de seu destino.
A tragicidade veste sua roupa e ele se apaixona pela prostituta Satine (Nicole Kidman). A peça que o destino irá pregar nos dois é a reciprocidade desse amor. É um jogo bastante simples. O escritor deseja a prostituta. A prostituta se apaixona pelo escritor, mas já está prometida para um homem rico.
A impossibilidade desse amor acaba inspirando o escritor que escreve uma peça, “Spetacular, Spetacular”. Uma peça, bancada pelo tal homem rico, que conta à história de uma cortesã que invade o coração de dois homens, um pobre e um rico. A grande pergunta: amor ou diamantes? Alguém quer uma dose de cinismo? Só os mortos não disfarçam.
A história segue com Ewan e Nicole cantando bem, muito bem. Mcgregor deixa seu coração sangrar em “Your Song” (de Elton John) enquanto Kidman inspira suspiros em “Sparkling Diamonds”. Shakespeare diria que o amor faz tolo todos os mortais o que nos faz imaginar, por analogia, que todas as canções de amor são tolas. O problema é dizer isso prum mundo de pessoas que cresceu ouvindo canções de amor…
“Moulin Rouge”, o puteiro, existiu. Era frequentado por grandes escritores e artistas da época. Satine, dizem, também existiu. Se era tão bonita quanto Nicole…
O fim? Bem, nunca se apaixone, afinal, só os mortos podem amar para sempre. Mas, lá no cantinho da memória, Vinicius nos lembra: “que seja infinito enquanto dure”. Ou como os Beatles cantaram na última canção do último disco deles: e no final, o amor que você leva é o mesmo amor que você faz. Amém.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell desde 2000 e assina a Calmantes com Champagne.