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Dylan com café, dia 34: Bootleg Series 1
Bob Dylan com café, dia 34: Em novembro de 1969, Greil Marcus, um dos maiores jornalistas de música de todos os tempos, escreveu um longo artigo de cinco páginas na revista Rolling Stone chamado “Bob Dylan: Breaking Down The Incomplete Discography”. No texto, Marcus lamentava que “em oito anos, Bob Dylan lançou apenas nove álbuns” (!) e listava uma longa série de bootlegs não autorizados que ampliavam o alcance do olhar sobre a obra do (então) jovem bardo. A Columbia sinalizou o desejo de combater algumas fontes de pirataria colocando nas lojas, de forma desajeitada, um volume duplo das “Basement Tapes” (1975) que deve ter feito muito pirateiro rir, já que o material lançado não cobria nem 1/5 do que circulava entre os fãs. O segundo passo da gravadora foi um pouco mais ousado: 21 faixas raras presentes no box “Biograph” (1985), que serviram para atiçar a curiosidade de muitos fãs, mas era apenas a ponta de um gigantesco iceberg: cada disco novo de Bob Dylan (desde os anos 60!) surgia “acompanhado” de um álbum duplo pirata, muitas vezes triplo, com as raridades presentes nas sessões de gravação, desde canções acabadas e inéditas que ficaram de fora do disco por algum motivo até versões embrionárias que seriam retrabalhadas a exaustão até o último minuto a que Bob tinha direito de mexer ou mudar algo.
Parte desse material começou a ser mostrado ao mundo em 1991 com esse box (a gravadora chegou a cogitar lançar 10 CDs, mas acabou diminuindo para quatro, e finalmente para três CDs – divididos em cinco vinis, seu segundo lançamento quíntuplo, e três cassetes) caprichado que trazia nada menos que 58 faixas raras, algumas delas nunca ouvidas nem pelos melhores pirateiros do mercado! Lançado em março de 1991, “The Bootleg Series – Volumes 1/3” era, até então, o mais completo panorama da obra de Bob lançado pela Columbia Records registrando de maneira oficial desde canções que Bob havia gravado antes do primeiro álbum, em 1961, até o magnifico “Oh Mercy”, de 1989, aqui representado pela sobra “Series of Dreams”, uma faixa “fantástica e turbulenta”, segundo o produtor Daniel Lanois, que a queria no disco, “mas a palavra final era dele (Dylan)”. Tal qual ela há cinco pepitas de ouro do álbum “Infidels”, incluindo a velvetiana versão inicial de “Tight Connection To My Heart” (aqui listada como “Someone’s Got a Hold of My Heart”) e as sensacionais “Tell Me”, “Foot of Pride” e, principalmente, “Blind Willie McTell”, que fizeram o biografo Brian Hilton lamentar que Bob não tenha feito deste disco um álbum duplo (“Teria rivalizado com ‘Blonde on Blonde’”, acredita) e muitos momentos geniais que validam a máxima de que as “sobras” de Bob Dylan são melhores do que grande parte dos álbuns oficiais “dos outros”. Não é exagero.
Das 58 raridades, 25 são do período que vai de 1961 a 1963, desenhando um Dylan muito mais completo e complexo. Por exemplo, o material final escolhido para os dois primeiros discos – “Bob Dylan” (1962) e “The Freewheelin’ Bob Dylan” (1963) – era muito mais leve, com requintes de humor, enquanto o que ficou de fora exibe traços de amargura, raiva e frustração. Basta comparar a sarcástica e bem humorada “Talking New York”, gravada em novembro de 1961 e presente no disco de estreia, com a amarga e hostil “Hard Times in New York Town”, registrada em um quarto de hotel em dezembro de 1961, e inédita até 1991. “Subterranean Homesick Blues” surge numa versão demo acústica deliciosa, que serviu como guia para a banda eletrificada soltar os cachorros no arranjo. Outra guia comovente é a de “Like a Rolling Stone”, tocada por Bob em andamento de valsa para climatizar os músicos na sua grande criação. Há mais: da demo de “If Not For You”, do álbum “New Morning”, com George Harrison na guitarra (ele depois regravaria a canção no clássico “All Things Must Pass”, de 1970) a quatro lendários takes nova-iorquinos da obra prima “Blood on the Tracks” (1975) até uma pérola desconhecida das sessões do álbum (evangélico) “Shot of Love” (1981) chamada “Angelina”. Com cerca de quatro horas de duração, “The Bootleg Series – Volumes 1/3” merece atenção, dedicação e respeito. Mas, como descobriríamos futuramente, ainda é só a ponta do iceberg – só para se ter uma ideia, a versão pirata “The Genuine Bootleg Series” (dividida em quatro volumes de fácil acesso no Youtube – ou aqui: 1, 2, 3, 4) soma quase 10 horas de raridades. Mergulhe!
março 30, 2018 No Comments
Top 25 discos mais ouvidos Março 22
Segundo a minha LastFM em contagem da Tap Music:
TOP 25 de Março de 2022
01) “Stage Fright (Deluxe Edition / 2020 Remix)”, The Band
02) “American Poet” (Deluxe Edition), Lou Reed
03) “Transmission Impossible”, The Velvet Underground
04) “Zappa ’88: The Last U.S. Show”, Frank Zappa
05) “B-Sides & Rarities, Pt. II”, Nick Cave
06) “The Frenz Experiment (Expanded Edition)”, The Fall
07) “Simple Pleasure (Expanded Edition)”, Tindersticks
08) “Metallica (Remastered Deluxe Box Set)”, Metallica
09) “A Arca De Noé 2”, Various Artists
10) “Miles at the Fillmore – The Bootleg Series Vol. 3”, Miles Davis
11) “KID A MNESIA”, Radiohead
12) “Curtains” (Expanded Edition)”, Tindersticks
13) “Wise Up Ghost (Deluxe Edition)”, Elvis Costello & The Roots
14) “Promenade (2020 Reissue)”, The Divine Comedy
15) “Dust (Expanded Edition)”, Screaming Trees
16) “Fernando Catatau”, Fernando Catatau
17) “Cold Metal”, Iggy Pop
18) “The Last Concert”, Jimi Hendrix
19) “Sob o Signo do Amor”, Dulce Quental
20) “Misery Is a Butterfly”, Blonde Redhead
21) “Suave Coisa Nenhuma”, Biba Meira
22) “Sweet Oblivion”, Screaming Trees
23) “Bomber”, Motörhead
24) “Elis & Tom”, Elis Regina & Tom Jobim
25) “Daddy’s Home”, St. Vincent
Pouca novidade, muita reedição…
abril 1, 2022 No Comments
Top 25 discos mais ouvidos em 2021
Segundo a minha LastFM em contagem da Tap Music:
TOP 25 de 2021
01) Summerteeth (Deluxe Edition), Wilco
02) 1970, Bob Dylan
03) Home Video, Lucy Dacus
04) R.E.M. At The BBC, R.E.M.
05) Delta Estácio Blues, Juçara Marçal
06) The White Album [50th Anniversary Super Deluxe Edition], The Beatles
07) Abbey Road (Super Deluxe Edition), The Beatles
08) Daddy’s Home, St. Vincent
09) Springsteen On Broadway, Bruce Springsteen
10) Monster (25th Anniversary Edition), R.E.M.
11) Odelay (Deluxe Edition), Beck
12) Benvenuti, Selton
13) The Jimi Hendrix Experience (Deluxe Reissue), Jimi Hendrix
14) Hitchhiker, Neil Young
15) Neil Young Archives Vol. II (1972 – 1976), Neil Young
16) Rock ‘n’ Roll Music Live & Rare 1962-1966, The Beatles
17) Clube Da Esquina, Milton Nascimento
18) Meu Coco, Caetano Veloso
19) Just Another Band from East L.A.: A Collection, Los Lobos
20) OxeAxeExu, BaianaSystem
21) Let It Be (Super Deluxe), The Beatles
22) Olho de Vidro, Jadsa
23) The Bootleg Series, Vol. 15: Travelin’ Thru, 1967 – 1969, Bob Dylan
24) Drama, Rodrigo Amarante
25) Joni Mitchell Archives – Vol. 1: The Early Years (1963-1967), Joni Mitchell
dezembro 31, 2021 1 Comment
Top 25 discos mais ouvidos: Dez 21
Segundo a minha LastFM em contagem da Tap Music:
TOP 25 do mês de Dezembro
01) Rock ‘n’ Roll Music Live & Rare 1962-1966, The Beatles
02) Let It Be (Super Deluxe), The Beatles
03) Delta Estácio Blues, Juçara Marçal
04) Roteiro Pra Aïnouz (Vol. 2), Don L
05) Um, Pedro Sá
06) Tattoo You (Super Deluxe), The Rolling Stones
07) Johnny Cash Sings the Ballads of the True West, Johnny Cash
08) A Bigger Bang (live), The Rolling Stones
09) Collapsed in Sunbeams, Arlo Parks
10) The Path of The Clouds, Marissa Nadler
11) You Know Who I Am, Leonard Cohen
12) Live at Fillmore West, Aretha Franklin
13) Brasil, Ratos De Porão
14) Miami Pop Festival, Jimi Hendrix
15) Song Of The Lark And Other Far Memories, Angel Olsen
16) Encarnado, Juçara Marçal
17) Come On Die Young (15th Anniversary Deluxe), Mogwai
18) Arde, Carolina Donati
19) Home Video, Lucy Dacus
20) Anarkophobia, Ratos De Porão
21) Malandro 5 Estrelas, Índio da Cuíca
22) Springtime in New York: The Bootleg Series, Vol. 16 / 1980-1985, Bob Dylan
23) Caco de Vidro, Duda Brack
24) Tupã-Rá, The Baggios
25) Spirit In The Dark, Aretha Franklin
dezembro 31, 2021 No Comments
Top 25 discos mais ouvidos: Abril 21
Segundo a minha LastFM em contagem da Tap Music:
TOP 25 do mês de Abril
01) “1970”, Bob Dylan
02) “The Bootleg Series, Vol. 15: Travelin’ Thru, 1967 – 1969”, Bob Dylan
03) “The White Album [50th Anniversary Super Deluxe Edition]”, The Beatles
04) “Odelay (Deluxe Edition)”, Beck
05) “Hitchhiker”, Neil Young
06) “Sob a Influência – Tributo a Tom Bloch”, vários
07) “Rock of Ages (Expanded Edition)”, The Band
08) “Rey Sol”, Fito Páez
09) “Titãs Trio Acústico”, Titãs
10) “The Visitor”, Neil Young
11) “Acústico Paulinho da Viola”, Paulinho Da Viola
12) “Rodolfo”, Fito Páez
13) “Anima”, Milton Nascimento
14) “Now There Was A Song!”, Johnny Cash
15) “Not Too Late”, Norah Jones
16) “The Fabulous Johnny Cash”, Johnny Cash
17) “Two Rooms: Celebrating The Songs Of Elton John & Bernie Taupin”, vários
18) “Live In Germany 1983”, U2
19) “Teoria da Terra Plena”, Lucas Vasconcellos
20) “Boston 1994”, The Afghan Whigs
21) “Lulu”, Lulu Santos
22) “Hymns By Johnny Cash”, Johnny Cash
23) “Hymns From The Heart”, Johnny Cash
24) “It (Remastered)”, Pulp
25) “Caça A Raposa”, João Bosco
maio 1, 2021 No Comments
Top 25 discos mais ouvidos: Fev 2021
Segundo a minha LastFM em contagem da Tap Music:
TOP 25 do mês de Fevereiro
01) “Abbey Road (Super Deluxe Edition)”, The Beatles
02) “Monster (25th Anniversary Edition)”, R.E.M.
03) “Clube Da Esquina”, Milton Nascimento
04) “Thank You, Friends: Big Star’s Third Live…And More”, Big Star’s Third Live
05) “Songs for Judy”, Neil Young
06) “Minas”, Milton Nascimento
07) “XXII II MCMXCIV Live in Rome”, Nirvana
08) “Milton”, Milton Nascimento
09) “In the Aeroplane Over the Sea”, Neutral Milk Hotel
10) “Whole New Mess”, Angel Olsen
11) “Early 21st Century Blues”, Cowboy Junkies
12) “Trouble No More: The Bootleg Series, Vol. 13 / 1979-1981 (Deluxe Edition)”, Bob Dylan
13) “Songbook Antonio Carlos Jobim, Vol. 5”, Va´rios inte´rpretes
14) “Sky Blue Sky”, Wilco
15) “The Songs of Leonard Cohen Covered”, Various Artists
16) “Geraes, Milton Nascimento
17) “On Avery Island”, Neutral Milk Hotel
18) “(What’s the Story) Morning Glory?”, Oasis
19) “Milagre Dos Peixes”, Milton Nascimento
20) “Songbook João Bosco, Vol. 2”, Va´rios inte´rpretes
21) “Milagre dos Peixes (Ao Vivo)”, Milton Nascimento
22) “MTV Apresenta: Autoramas Desplugado”, Autoramas
23) “Paradox (Original Music from the Film)”, Neil Young
24) “Live in Wembley 2008”, Oasis
25) “Nikodemus”, Karnak
março 1, 2021 No Comments
Dylan com café, dia 85: Copyright Collection
Os últimos quatro cafés lidavam com material raro de Bob do inicio dos anos 60, grande parte dele ou pirateada na cara de pau por um mercado paralelo que existe desde o final dos anos 60 buscando saciar fãs insaciáveis ou ainda recentemente lançados de maneira oficial (pero no mucho) numa brecha da lei de direitos autorais da Inglaterra. As Bootleg Series surgiram para dar vazão a esse material raro disputado por fãs no mercado paralelo, mas muita coisa ainda estava engavetada, e para tentar driblar a Lei de Direitos Autorais europeia, a Columbia Records decidiu oficializar o material de 1962 que estava prestes a completar 50 anos em 2012 (e entrar em domínio público) lançando-o numa tiragem limitadíssima de 100 cópias (um conjunto de quatro CDRs) apenas para registro de lançamento e de computo de direitos autorais, repetindo a artimanha em 2013 (com o material de 1963), 2014 (1964), 2015 (1965) e 2016, único ano que teve amplo lançamento com todos os shows de Dylan no período reunidos em um box com 36 CDs (tema de um café futuro).
A “The 50th Anniversary Collection: The Copyright Extension Collection, Volume 1”, que mapeia as raridades de 1962, mergulha nas sessões de “The Freewheelin’ Bob Dylan” com mais de 50 gravações inéditas e ainda oficializa as Mackensie Home Tapes, o set na Gerde’s Folk City e o famoso show no Finjan Club, em Montreal (um dos bootlegs mais famosos do período). Há ainda seis faixas no Gaslight Café que ficaram de fora do álbum lançado em parceria com a Starbucks. Imperdível. No “Volume 2”, que mapeia o material raro de 1963 de posse da gravadora, Dylan já caminhou quilômetros e está com um domínio incomparável de sua arte (basta colocar lado a lado a sessão de 1962 no Gerde’s Folk City com a de 1963 para perceber a evolução). Muito do material que abastece diversos bootlegs (o “Many Faces of Bob Dylan” incluso) batem ponto aqui como a sessão imperdível no Studs Terkel Wax Museum, em Chicago, e o registro potente no Town Hall, que nunca foi registrado oficialmente porque, aparentemente, o microfone do violão está muito próximo e Bob o toca diversas vezes, prejudicando o registro. O terceiro volume da coleção (lançado em nove vinis em 2014 mapeando o ano de 1964) reúne material de um show na TV em Toronto, a fita Eric Von Schmidt’s House (outro bootleg famoso finalmente oficializado) e shows em Londres, Filadélfia, São José e São Francisco (alguns de baixa qualidade) além de registros das sessões do álbum “Another Side Of Bob Dylan”.
O quarto volume lançado da série (2015) lança luz sobre material de 1965, e mapeia a turnê acústica em material geralmente de qualidade bem baixa, mas vale atenção ao concerto (em excelente qualidade) no Free Trade Hall, em Manchester (um ano antes da revolução sônica que rendeu o grito de Judas em 1966), e também ao show da BBC. Após 149 músicas ouvindo Bob ao violão acompanhado de sua gaita, o registro ensandecido de “It Takes A Lot To Laugh, It Takes A Train To Cry” com banda (e Michael Bloomfield solando loucamente) no Newport Festival 65 talvez dê uma pequena ideia da loucura que foi essa reviravolta no mesmo evento que o levou às massas nos anos anteriores. E essa é a canção que divide as fases neste volume das “The Copyright Extension Collection”: a partir daqui, registros no Hollywood Bowl, em Forest Hills e em Berkeley trazem os shows metade acústico, metade elétrico, para desespero dos puristas. Lançados de maneira limitada, os quatro boxes estão obviamente esgotados e os poucos disponíveis em sites de revenda custam pequenas fortunas que podem ir de R$ 1500 até R$ 10 mil. Itens raros, mas que valem muito a audição. Porém, para quem não conseguiu pegar os boxes ou acha um exagero todo esse material, a Columbia lançou em larga escala em 2018 o CD duplo “Live 1962 – 1966: Rare Performances from The Copyright Collections”, um best of com 26 canções retiradas da coleção. É uma boa introdução a esse material imperdível.
setembro 19, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 81: The Gaslight
Bob Dylan com Café, dia 81: O acervo de raridades de Dylan é imenso, e ainda que as Bootleg Series tenham dado vazão a uma enorme quantidade de material antes só encontrado no mercado de piratarias (e a versão com 18 CDs do volume 12, “The Cutting Edge 1965–1966”, talvez seja o maior exemplo), muita coisa ainda não foi oficializada pela Columbia Records, principalmente o que diz respeito à fase inicial de Bob. Entre os álbuns piratas mais famosos desse período estão as “The Minnesota Hotel Tapes 1 e 2” e “Live Finjan Club, Montreal 62” (estes três CDs circulam “oficialmente piratas” devido a lei de direitos autorais do Reino Unido) além de uma série de três fitas gravadas no Gaslight Café, no Greenwich Village, entre setembro de 1961 e outubro de 1962.
Deste último, o primeiro bootleg veio à tona em 1973 com 17 canções das sessões de 1962 (a sessão de 1961 é facilmente encontrada hoje em dia, inclusive engordando como extra uma versão em CD das “The Minnesota Hotel Tapes”). Em 2005, a Columbia Records pinçou 10 faixas das 17 das sessões de 1962 para oficializar neste “Live at The Gaslight 1962”, lançado numa parceria da gravadora com a rede de cafés Starbucks – uma 11ª, “No More Auction Block”, apareceu em “The Bootleg Series Volumes 1–3”, então seis permanecem inéditas (entre elas, versões para “Kindhearted Woman Blues”, de Robert Johnson, “Ain’t No More Cane”, de Leadbelly, e “See That My Grave’s Kept Clean”, de Blind Lemon Jefferson).
Das 10 que aparecem neste CD, três são faixas autorais da fase inicial de Dylan, sendo que duas delas apareceriam em “Freewheelin”, de 1963 (os clássicos “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” e “Don’t Think Twice, It’s All Right”, tocados com paixão e crueza adolescente) e a terceira, “John Brown”, só seria oficializada no “MTv Unplugged” (1995). As outras sete são canções tradicionais como “Cocaine Blues” (1929), “Rocks and Gravel” (adaptação de Dylan para “Solid Road”, de Brownie McGhee, e “Alabama Woman”, de Leroy Carr, num arranjo que combina as duas músicas em uma só), “Barbara Allen” (canção folclórica escocesa de 1665!) e “The Cuckoo” (originalmente gravada por Clarence Ashley em 1920), entre outras. Uma pepita de ouro e de história.
agosto 29, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 79: Cutting Edge
Dentro do processo de “auto-pirateação” proposto pela série Bootleg de Bob Dylan (iniciada em 1991 com o primeiro lançamento triplo), este volume 12 é, provavelmente, o ponto mais alto de qualidade, não só porque cobre um dos principais momentos da carreira de Bob (o período de 65/66 em que ele abandona o gueto folk e se transforma em um grande pop star devido a tríade mágica de álbuns “Bringing It All Back Home”, “Highway 61 Revisited” e “Blonde on Blonde”), mas porque a liberação do material deste período foi praticamente completa, permitindo um mergulho aprofundado nas ideias musicas de Dylan nesses longos dois anos revolucionários.
Lançado em novembro de 2015, “The Bootleg Series Vol. 12: The Cutting Edge 1965–1966” foi apresentado em três versões: a mais simples era o tradicional CD duplo da série com 36 takes alternativos de clássicos como “Just Like a Woman”, “Desolation Row” e “Subterranean Homesick Blues” somando 145 minutos numa edição “best of” do box; a versão Deluxe compilava seis CDs num mergulho mais aprofundado sobre a gravação de diversas faixas do período (o CD 3, por exemplo, praticamente decupa toda a gravação de “Like a Rolling Stone” em 20 faixas); e, por fim, uma sonhada Collector’s Edition trazia em 18 CDs e 9 compactos de 7 polegadas praticamente todo o material gravado por Dylan no período somando quase 20 horas de gravações (vendido a 600 dólares na época do lançamento, essa caixa limitada e numerada – abaixo – hoje em dia pode ser encontrada entre R$ 4 mil e R$ 10 mil).
Via de regra, as críticas reforçam que o volume duplo mais simples compila os melhores momentos dos 18 CDs (a curiosidade mais interessante dos 20 tracks de “Like a Rolling Stone”, por exemplo, está presente no CD duplo, um fragmento em arranjo de valsa que mudou o rumo da gravação), mas o box sêxtuplo traz itens interessantes para fãs principalmente no CD 2 (com variações de “It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry”) e no CD 5 (com takes de “Visions of Johanna”, “She’s Your Lover Now” e “Leopard-Skin Pill-Box Hat”). Ou seja, a versão dupla funciona realmente como um Best Of dos dois boxes seguintes, mais indicados para fãs e completistas. Porém, ouça com atenção essa versão dupla, pois ela aprofunda o olhar de maneira muitas vezes poética sobre vários clássicos do período mais fértil da carreira de Dylan. Para mim, um dos pontos mais altos das “Bootleg Series”.
agosto 23, 2018 No Comments
Dylan com café, dia 77: Basement Complete
Sempre pairou uma magia mística sobre as “Basement Tapes”, as fitas gravadas das sessões de Bob Dylan na companhia da The Band tocando no porão de uma casa rosa entre junho e outubro de 1967, um ano após Bob sofrer um acidente de moto e tirar férias das turnês até 1974. O primeiro a desdizer essa mística foi o próprio Robbie Robertson: “As sessões foram feitas com bom humor. Era algo entre o ultrajante e o cômico. Foi um tanto irritante quando as músicas começaram a ser pirateadas. Lançamos o disco (em 1975) na base do ‘já que estão documentando isso, que seja em boa qualidade’”. Do outro lado, o crítico Greil Marcus dizia que “certas linhagens fundamentais da linguagem cultural americana foram resgatadas e reinventadas” naquelas sessões. Hummm.
Veja bem, o material era de qualidade tão duvidosa que ao selecionar canções para o álbum duplo lançado em 1975, Robbie incluiu oito canções da The Band entre as 24 faixas, quatro delas nem gravadas no porão da Big Pink, para tentar levantar a qualidade do álbum. Em seu texto na The New Yorker em 1999, Alex Ross dava a real: “Dylan estava farto do papel de messias e produziu dezenas de números dolorosos da velha escola (no porão da Big Pink)”. Dúvidas? Em novembro de 2014, dentro das Bootleg Series, a Columbia Records enfim liberou a integra das sessões totalizando 138 músicas divididas em seis CDs, e como bem definiu a crítica de Sasha Frere-Jones na The New Yorker, “para cada momento de revelação há cinco descartáveis”.
Ou seja, é possível dizer que existem no máximo uns 25 números que realmente interessam neste compêndio, o que lança luz muito mais sobre os exageros da crítica da época do que, necessariamente, sobre o próprio material, já que Dylan & The Band não o estavam gravando com a finalidade de lança-lo, e sim de registrar demos para serem oferecidas a outros artistas e se divertirem destroçando clássicos do rock e do folk (de John Lee Hooker a Johnny Cash, de Hank Williams e Pete Seeger a Curtis Mayfield). Observado e ouvido com distanciamento, “The Bootleg Series Vol. 11: The Basement Tapes Complete” é um passatempo interessante (principalmente para Dylan e a The Band). Criticamente não deve nem ser levado em consideração, pois não exibe um milésimo da genialidade pré (“Bringing It All Back Home”, “Highway 61 Revisited” e “Blonde on Blonde”) e pós (“Blood on The Tracks”) “Basement Tapes”. São alguns grandes músicos se divertindo num porão. E só. Divirta-se também, mas sem exageros (de preferência seguindo esse faixa a faixa esclarecedor publicado no site oficial de Dylan em 2014).
agosto 20, 2018 No Comments