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Dylan com café, dia 25: Infidels

Bob Dylan com café, dia 25: A turnê de “Shot of Love” terminou em novembro de 1981 e Bob tirou 1982 para descansar (re)interessado em suas raízes judaicas. A melhor definição: “Ele é um judeu confuso”, disse um rabino. O bar mitzvah de seu filho Jesse aconteceu em Israel e a ex-Sara bateu lá a foto que estampa a capa (na parte interna original, Dylan visita o Monte das Oliveiras). Para o disco, buscando uma mudança radical, Bob tentou Frank Zappa para produtor e, diante da recusa, sondou David Bowie e Elvis Costello antes de efetivar Mark Knopfler na função ao lado dele e na banda que tinha “apenas” Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo) na cozinha, e o ex-Stones Mick Taylor voando nos riffs.

O resultado é “Infidels” (lançado em novembro de 1983), um dos dois discos definitivos de Dylan nos anos 80 (o outro será lançado em 1989). Uma polêmica cerca a versão final do álbum: Bob gravou tudo com Mark Knopfler, que fez uma pré-mixagem e precisou sair em tour com o Dire Straits, prometendo voltar para encerrar o trabalho. Bob não só não o esperou como regravou alguns vocais e mudou o tracking list final, deixando de fora canções que, a posteriori, se transformariam em ícones de bootlegs (o duplo “Outfidel Intakes (Power and Greed and Corruptable Seed” é o mais famoso – e facinho de achar). Com o mea-culpa, Bob Dylan: “Muitas das canções de ‘Infidels’ eram melhores antes de serem mexidas, e, é claro, foi eu quem mexeu nelas”.

Prejudicou o disco? Um pouco, mas nem taaaanto assim, ainda que seja um imenso pecado “Foot of Pride” (que Lou Reed recuperou no “The 30th Anniversary Concert Celebration Bob Dylan”) e “Blind Willie McTell” terem ficado de fora de um álbum que versa sobre um mundo à beira de uma catástrofe e como cada pessoa lidaria com o final dos tempos. O messias charlatão “Jokerman”, a obra-prima do disco, abre o álbum versando sobre como tolos (e o próprio Dylan) podem ser manipulados pela religião e por políticos populistas (no clipe repleto de referências, o então presidente Ronald Reagan encarna o personagem calhorda). “Neighborhood Bully” soa Velvet Underground enquanto a acusatória “License To Kill” questiona a arrogância dos homens através do imperialismo e sua predileção pela violência.

Certo dia, Bob encontrou Leonard Cohen para um café. “Quanto tempo você demorou para fazer ‘Hallelujah’?”, perguntou. “Alguns anos”, respondeu Cohen, que emendou: “E você fez ‘I and I’ em quanto?”. Dylan respondeu: “15 minutos”. E que baita canção. Mick Taylor sola lindamente em “Sweetheart Like You”, segundo clipe do disco, outro grande momento ao lado de “Don’t Fall Apart On Me Tonight”, ou o amor em tempos de cólera. Saca a cena de “Casablanca” em que Ilsa abandona Rick devido ao avanço do exército nazista e eles prometem “nós sempre teremos Paris”? É esse momento transformado numa balada com a gaita de Dylan fatiando o coração em pedacinhos bem pequenos e, na dúvida, deixando o bottleneck de Knopher refazer o mesmo serviço só para garantir. “Ontem é apenas uma lembrança. Amanhã nunca é o que deveria ser”, encerra Dylan.

Especial Bob Dylan com Café

 

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