Em noite de tempestade em São Paulo, Shawn James abre turnê brasileira com cachaça e um show poderoso

texto de Alexandre Lopes
fotos de Fernando Yokota

A noite de sexta-feira começou com a mais forte chuva em São Paulo dos últimos 30 anos, com ventos a uma velocidade recorde de 107,6 km/h, segundo a Defesa Civil, o que causou o desabamento de árvores, problemas nos semáforos, queda de energia em diversos pontos da cidade e muita confusão na linha amarela do metrô. Vários bairros ficaram sem luz e energia (quatro dias depois, a situação se mantém em muitos pontos da capital), uma situação que os paulistanos já parecem aceitar como parte da rotina, resultado de anos de gestões municipais ineficazes — especialmente da atual, marcada por um prefeito quase inexistente. Contudo, essa atmosfera de adversidade se dissipou rapidamente quando Shawn James e sua banda subiram ao palco do Carioca Club, às 20h46.

A introdução de “Dust to Dust” transformou o local em uma realidade paralela, permitindo que o público deixasse de lado (ao menos por um tempo) os percalços da vida urbana. Acompanhado pelo violinista Sage Cornelius, o baterista Rob Kennedy e o baixista Zack Sawyer, Shawn conquistou a plateia, que se deixou envolver pela energia do grupo. “The Curse of the Fold” foi a primeira a unir as vozes do público, e Shawn expressou sua gratidão, ressaltando a saudade que sentia da participação dos brasileiros.

A conexão entre plateia e músicos se intensificava a cada canção, especialmente após “The Stones Cried Out”, onde ele mencionou que a apresentação em São Paulo no ano anterior havia sido uma das melhores da turnê e que essa noite poderia ser ainda maior. O palpite se confirmou com as reações a “The Thief and the Moon”, seguida pela emocionante “Eating Like Kings”, dedicada ao amigo Baker (Gravedancer), revelando um lado mais sensível de Shawn.

As palmas e gritos continuaram durante “I Want More” e “Burn The Witch”, com a participação da plateia sendo um dos momentos mais marcantes da noite. Após isso, o vocalista apresentou a banda e o técnico de som, pedindo aplausos aos bookers da turnê e à tour manager/fotógrafa/”faz tudo” Michelle. A primeira parte da performance foi encerrada com “Orpheus”, dando lugar a um momento acústico com atmosfera intimista, começando com “Muerte Mi Amor”, apresentada por Shawn e Zack no violão, seguida pelo cover de “That’s Life” de Frank Sinatra, interpretada apenas pelo vocalista.

O ápice veio com o hit “The Guardian (Ellie’s Song)”, antes da surpreendente versão de “The Number of the Beast”, do Iron Maiden (que foi tema, inclusive, de nossa conversa prévia com Shawn), que deixou fãs da banda de metal em êxtase (sim, eles estavam lá com suas camisetas do mascote Eddie). Shawn abriu seu coração novamente, dedicando “Midnight Dove” à sua irmã que venceu um câncer e “Through The Valley” a todos que se sentem de alguma forma deslocados. Visivelmente emocionado com a resposta calorosa dos fãs, ele tirou o chapéu e agradeceu, enquanto respondiam com gritos de “Shawn, eu te amo”.

O clima festivo aumentou com doses de cachaça sendo compartilhadas entre os músicos, e Sage exclamou “vocês são do caraaaalho!”. Clássicos como “Ain’t No Sunshine” (Bill Withers) e “Like A Stone” (do Audioslave, com uma esperta adaptação do solo de Tom Morello para o violino) trouxeram ainda mais exaltação da plateia. A banda então passou para uma sonoridade de show de rock mais tradicional, apresentando “The Wanderer” e “No Blood From A Stone”. Shawn serviu mais cachaça aos colegas, brindando ao melhor público que já tiveram em São Paulo, com empolgados gritos masculinos de “gostoso” vindo dos espectadores.

Após mais de vinte canções, a apresentação seguia para sua parte final. Shawn retornou ao violão para tocar uma versão de “Bad Moon Rising”, do Creedence Clearwater Revival. Em arranjos mais pesados, “Hellhound” e “Haunted” foram recebidas com fervor, transformando a apresentação em um show de rock de arena. Às 23h04, a inesperada “Chapter II: Hunger” fechou a noite batendo mais de duas horas de performance. Assim que a última música terminou, o público se atirou ao palco em busca de autógrafos em camisetas, bonés e discos, entregando presentes para a banda, que precisou ser avisada pela tour manager para que se retirassem e permitir que os técnicos desmontassem os equipamentos. E Shawn James se despediu, já adiantando que pretende voltar a São Paulo no próximo ano para repetir a(s) dose(s).

– Alexandre Lopes (@ociocretino) é jornalista e assina o www.ociocretino.blogspot.com.br
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br



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