texto de Homero Pivotto Jr.
fotos de Fernando Gomes | ALRS
Tem uns matando o rock por aí. Já a Ultramen revigora o estilo ao trabalhar seu potencial com as novas gerações no show UltraKids (para crianças). Na terceira edição do formato, apresentado na quarta-feira (9/10), no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, a banda entreteve baixinhos e crescidinhos com uma performance de gente grande. Em cerca de 90 minutos, o grupo desfilou uma sequência bem costurada, e de boas sacadas, com clássicos de sua discografia e releituras de conhecidas canções infantis.
A analogia com a derrocada do rock, no início do texto, é reducionista. Porque o grupo gaúcho na ativa desde 1991 nunca foi só isso. A formação de guitarra, baixo, bateria e voz está lá, mas ganha força com percussão, DJ e teclados – evidenciando elementos de black music, reggae, rap, samba, pop e até sons tradicionais do RS.
Uma travessura que se mostra eficiente há mais de 30 anos e tem capacidade de levar a herança musical eclética ao distinto público. Mais legal foi presenciar isso em um evento gratuito, num palco consagrado das artes no Estado, oportunizando a alguns entrarem pela primeira vez naquele espaço tão cheio de histórias – meu filho, inclusive.
Tonho Crocco (vocal), DJ Anderson (toca-discos), Leonardo Boff (teclados), Pedro Porto (baixo), Zé Darcy (bateria), Chico Paixão (guitarra); N Jay (MC e percussão) merecem estrelinha (daquelas que a profe dá quando o aluno fazia bem o dever).
O que se viu no imponente salão do Theatro São Pedro foi uma bagunça comedida, com gritinhos, palmas, mãos pra cima e movimentação constante. Isso, enquanto a banda, nitidamente, se divertia ao tocar.
No show Ultra kids, o que se diferencia de outras aparições da Ultramen ao vivo são as brincadeiras: a didática apresentação dos sons de cada instrumento e como eles soam, a introdução sobre o que é rap e outras lições para a criançada, as coreografias ou a gincana com convidados especiais (o ex-percussionista Marcito e o rapper e produtor Curuman). O afeto também ganhou destaque.
Na audiência, estavam pais faceiros por dividirem o momento com os pequenos. Do lado dos músicos, vimos o tecladista Leonardo chamar o filho Bernardo para tocar teclado em ‘Dívida’ e Tonho declarar que ama os filhos Martina e Santiago, que assistiam o cantor com a família.
Hits infantis reforçaram o clima de recreio. Tipo ‘Borboletinha’ à la Bob Marley, ‘Baby Shark’ fundida com ‘Tubarãozinho’, ‘Pintinho Amarelinho’ e ‘Fazendinha’ (do Mundo Bita). Não faltaram também as composições autorais conhecidas, do naipe de ‘Coisa Boa’, ‘Preserve’, ‘General’, ‘Grama Verde’, ‘Peleia’, ‘Esse é o meu compromisso’, ‘Erga suas mãos’ e ‘Santo Forte’.
Menção honrosa para o merchandise, que teve uniforme de Ultra Kids (camisa e máscara estilizadas com a temática do espetáculo, parecendo roupa de herói). Baita ideia!
O projeto de tornar temas do cancioneiro pop gaúcho acessível à plateia infantil é do professor de música Bob Bopsin, que participou da apresentação tocando violão, cantando e animando a galera.
O evento fez parte do Sarau do Solar Especial, com promoção da Assembleia Legislativa do RS) e de caráter colaborativo para arrecadar doações ao coletivo RS Música Urgente (pelo pix solidário: emergenciamusicars@gmail.com).
Adaptando um tema da Ultramen com o guitarreiro Luis Vagner: quando criança e música se encontram, rolam coisas boas.
– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.