texto por Paulo Pontes
“Galera, curtam cada música como se fosse a última, porque o show tem só uma hora e meia”
“Só uma hora e meia?”
Acima, diálogo que presenciei ao passar por um grupo de pessoas do lado de fora do Morumbi, algumas horas antes de o Red Hot Chili Peppers subir ao palco; abaixo, conversa que ouvi enquanto deixava o estádio Cícero Pompeu de Toledo, poucos minutos após a banda sair de cena.
“Cara, se eles não tivessem tocado tantas jams, caberia mais umas sete músicas.”
“Nossa, pode crê, mas as jams foram foda pra caralho!”.
Nos dois casos, quem começou o bate-papo estava correto: o show do RHCP teve apenas uma hora e meia e, se cortassem as jams, daria pra incluir outras faixas criminosamente excluídas do setlist (ok, talvez, não seriam sete, mas pelo menos umas quatro, cinco… ah, isso daria com tranquilidade).
Entretanto, talvez seja certo falar que, no geral, só a questão do tempo de apresentação realmente incomodou uma parcela do público, até porque as jams (como um dos interlocutores reproduzidos acima comentou), realmente foram foda pra caralho. Ou seja, a banda poderia ter incluído mais músicas sem precisar cortar esses momentos de improviso.
“Preguiça” pode até não ser a melhor palavra pra definir a situação, mas fica difícil defender (ou encontrar outra definição para) uma banda que se propõe a lançar dois discos num mesmo ano (2022), que tem praticamente 40 anos de carreira, uma caralhada de hits — além de “lados b” de respeito — na bagagem e faz uma turnê em grandes estádios com 1h30 de show. Enfim.
Isso quer dizer que a apresentação foi ruim? Calma, fã de carteirinha. Antes de descer a lenha no redator, já segue o veredito: não, longe disso! Foi um ótimo show. Curto (vale o reforço), mas muito bom. E, olha, um dos grandes responsáveis pelo resultado positivo atende pelo nome John Anthony Frusciante.
Só que antes vamos falar um pouco sobre o Irontom, banda escolhida pra abrir os shows do Red Hot Chili Peppers por aqui. O quarteto, formado em 2012 na Califórnia, é capitaneado pelo vocalista Harry Hayes (vocais) e pelo guitarrista Zach Irons, que é filho de Jack Irons, ex-baterista do RHCP. Apesar de certa desconfiança inicial, principalmente por aqueles que não conheciam o som dos caras, o Irontom conseguiu conquistar o público no decorrer do show, que contou com 10 músicas, muito bem executadas.
E o grupo conquistou tanto pelo som quanto pelo carisma, sobretudo por parte do vocalista Harry Hays, que arriscou algumas frases em português e estava visivelmente empolgado e feliz por tocar para o público paulista. Podemos dizer que a música do Irontom traz elementos de post-punk e rock psicodélico com algumas pitadas de funk rock aqui e ali. Um som que combina muito com a banda principal da noite, detalhe que colaborou com a boa aceitação.
Destaques para “Common Chaos”, “Super//Star”, “Be Bold Like Elijah” e para o excelente (e acertado) cover de “Feel Good Inc.” do Gorillaz. Um ótimo show. Ah, fica o recado pra quem for procurar a banda nas plataformas digitais: ao vivo o Irontom soa bem mais pesado e direto. E se eles colarem por aqui em alguma outra oportunidade, vale dar uma espiada.
Público devidamente aquecido para o Red Hot Chili Peppers, com apenas cinco minutos de atraso, subir ao palco do Morumbi. Flea entrou plantando bananeira, Chad Smith apareceu acenando pra geral e John Frusciante chegou na sua, de boa. E aí rolou a primeira jam, ainda sem Anthony Kiedis. Ali já deu pra sentir a qualidade do som e a entrega do trio de instrumentistas.
Evidentemente, boa parte das atenções estavam voltadas ao cara que ficou tanto tempo fora do RHCP e que há mais 20 anos não pisava no Brasil com a banda: Frusciante.. E o guitarrista não decepcionou, fez valer a espera. Que timbre, que pegada, que guitarrista. Se as últimas vindas da banda pra cá renderam apresentações mornas, a ausência desse cara pode ter sido a causa (ou pelo menos grande parte dela).
Após alguns minutos da jam, eis que Anthony Kiedis surge pra comandar o quarteto em “Can’t Stop”. Nessa, a massa que lotava o estádio já tava no papo, rendida aos quatro. É claro que rolaram algumas decisões bem questionáveis no setlist, como a desnecessária versão de “Havana Affair”, do Ramones, a morna “Here Ever After”, faixa presente no primeiro dos dois discos lançados pelo grupo em 2022 e a cadenciada “Don’t Forget Me” —, mas, de modo geral, o público estava entregue à banda, cantando cada música (um pouco menos as novas), iluminando o estádio com lanternas de celulares, pulando, gritando o nome dos músicos (em especial Frusciante) etc.
Até aqui durante a tour pelo Brasil (após o show em SP a banda ainda passaria por Curitiba e Porto Alegre), o setlist sofreu alterações drásticas. O público paulista acabou sendo positivamente surpreendido com a inclusão de “Parallel Universe”, por exemplo. Por outro lado, levou a pior com a ausência de hits absolutos, como “Dani California”, “Around The World” e “Otherside” (essa eu senti menos, confesso). Só com essas três já teríamos quase 15 minutos a mais de show (nem é muito, né, Red Hot Chili Peppers?) e pouco gente reclamaria, pode apostar.
De qualquer forma, ainda teve as ótimas “Soul to Squeeze” e “Tell Me Baby”, além das clássicas “By The Way” e “Californication”. E tome jam entre as músicas. A sensação que dá é que o RHCP está num momento só seu, como se o público fosse, literalmente, espectador, como se tivesse visitando a banda no estúdio, durante um grande ensaio em que quase não há troca ou interação, não como o motivo para os quatro estarem ali.
Mas é o que eu disse antes e ressalto, as jams são sensacionais e mostram aquilo que o Red Hot (principalmente o trio de instrumentistas) não precisa provar pra mais ninguém: que é uma banda formada por músicos muito acima da média. No final, é uma escolha, uma forma diferente que eles têm de encarar o espetáculo. É até uma fuga do padrão que estamos acostumados nesse tipo de show (talvez estejamos apenas mal-acostumados, né? Vale a dúvida).
Pra encerrar a noite, o bis veio de forma apoteótica com “Under The Bridge” e “Give It Away”. Aí é pra qualquer fã ir à loucura. E fim. Fecha a conta e passa a régua. Uma hora e meia (não me canso de lembrar). Valeu pra galera acostumada com show em estádio voltar pra casa mais cedo, né? Ah, mas o veredito já foi dado, né, e o saldo foi positivo.
Ótimo show, aula de John Frusciante (que não saia mais da banda, por favor), Flea destruindo tudo (pra variar), Chad Silva, ops, Smith (rolou cartaz transferindo o sobrenome brasileiro para o batera) cheio de carisma e Anthony Kiedis segurando bem. Alguns vão dizer que foi uma espécie de redenção pelos últimos shows em terras tupiniquins (e a banda nem precisou de muito tempo de palco pra isso, não é mesmo?). Já valeu!
– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash, assina a Kontratak Kultural e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“. Fotos: Instagram RHCP
Poxa, Paulo. Escrever um baita texto sobre o show e errar o nome da banda várias vezes é sacanagem. É ChiLi.
Opa, Victor, brigadão pelo alerta. \,,/
Ouçam música em casa. Show é pra isso mesmo…pra ver o seu ídolo em alma tocando pra você com o espírito, no momento, ao vivo….Não igual ao estudio. Pea isso vc ouve em casa comodamente com seus pets, sofá e entes queridos
Paulo, todo fã do red hot – ao menos o que se esforçou minimamente pra entender como os caras são ao vivo – tem o Live at Slane Castle como referência. Lá tem “Don’t Forget Me”, “Parallel Universe” e – pasme – “Havana Affair” – que particularmente entendi como uma homenagem do John pra mim, valendo a pena conhecer “I get Around” presente nesse álbum cover. O show tem 1h40min, como todos os outros. E, véi, as jams são característica dos 3 – de uma delas veio nada menos que “Give it Away”. Entendo que quem só os conhece pelos hits e não acompanha as fases e mudanças dos caras não compreenda, mas eu achei perfeito. Foi bem mais, mais mesmo, do que esperava e estava preparado.
Precisava tacar o pau no redator, não há escapatória hahahaha
Mas valeu a matéria, sempre bom ter contato com esse contraponto – e sim, gostaria que o Anthony desse atenção pra galera, mas sei lá, sempre foi assim hahaha
O show do Irontom foi animal! Gostaria de ter escutado algumas músicas mais famosas deles como “Kid Midnight” e “Loverboy”, mas eles tocaram “Bigshot” e fiquei satisfeito hahaha o último álbum dos caras, que serviram a maior parte das músicas das 10 tocadas, vale muito a pena conferir.
Ótimo trabalho. Abração!
Fala, Pedro. Cara, eu entendo as escolhas e não era surpresa o show “curto” e nem as jams, pelo contrário, mas acho que cabe essa crítica, sabe? Pra fã sempre é bacana, claro. Mas, vamos concordar, é uma banda que poderia fazer mais de duas horas de show sem tocar uma música ruim (e nem tô dizendo que as que coloquei como questionáveis são, sabe?). A banda tanta tanta música boa… o Mother’s Milk, por exemplo, é um puta disco, um dos melhores, mas nenhuma música no show? Esse é o lance, sabe? E vou te falar, comentei no texto, o show foi muito bom, de verdade, mas é inevitável o gosto de “quero mais”. Valeu pelo comentário \,,/
Excelente resenha, Parabéns
Sabe que sou um cara que torço um pouco o nariz pro Frusciante (e sei que não é uma opinião muito popular). Esse cara foi meu grande ídolo nas eras pré-By the Way. Mas a partir desse disco a banda acabou perdendo um bom tanto a essência mais rock pra ficar bem mais morna, melódica até demais e muito mais pop que eu acho que deveria ficar. E isso eu atribuo, infelizmente, ao John Frusciante, um tanto endeusado, mas que na real parece ter perdido boa parte da originalidade e inventividade que tinha nos anos 80 e 90 pra apostar sempre nas mesmas fórmulas de licks com padrões repetitivos e linhas rítmicas muito mais clichês e simplistas do que já havia feito no passado. Tanto é que Stadium Arcadium eu considero um álbum bem chato, apesar de uma meia dúzia de músicas se salvarem ali. Felizmente esses dois últimos de 2022 conseguiram ser melhores do que eles já haviam lançado nos últimos 20 anos, mas ainda sinto falta da pegada do Red Hot dos anos 90.
Boa análise, fui em Brasília e o set list foi phodástico com Around the world, Scar tissue e Dani Califórnia só pra começar. O set list foi massa faltando mais uns 15 min de show q daria pra tocar Can’t stop, Otherside e outras. Enfim…pra tanta espera e pelo valor cobrado 2h de show seria o ideal. Mas o RHCP eh um ícone eterno do rock mundial.
Realmente . Esperei muito pelas 3 músicas citadas … E não tocaram ! Mas foi um baita show . Decepção com o final frio e repentino .
Falou jams a matéria inteira e não explica o que é.
Zé, jam são momentos de improviso (isso está no texto) que podem acontecer dentro de uma canção (os músicos saem do tema musical e depois retornam) como também um deles iniciar um fraseado de guitarra, baixo ou mesmo uma condução de bateria, e os demais irem acrescentando sua participação.
Um dos motivos que me desanimou de ter ido, foi realmente sobre o setlist curto. Fui no show do RIR em 2019 e achei muito curto e pouco empolgante. Curto os caras, os improvisos e a presença de palco do Flea, mas um show esperado como esse, num estádio lotado, tem que ter no mínimo 2hr de show.
Concordo, Felipe! Fui ao RIR em 2019 só pra esse show deles, e sai tbm com aquele gostinho de “quero mais”. Várias músicas não muito conhecidas e senti falta de hits clássicos, como o texto a cima, cita. Enfim, amanhã (16/11) vou assistir o show deles aqui em Porto Alegre/RS e já sei que não será um show empolgante, mas ….como fã dos caras desde a adolescência (e faz tempo!! Kkkk), vou nessa!
Eu acho que quem acompanha ou pesquisou sobre o show da banda não ficou surpreso e os caras entregaram exatamente oq era esperado. Show curto, pouca interação e setlist sem todos os hits de rádio. Entendo a frustração de alguns mas acho injusto cobrar a banda como se eles tivessem feito algo errado/diferente do que eles são quando foram totalmente fiéis a sua carreira. E eu particulamente adoro que nao toquem só as modinhas, acho que faltou terem tocado mais musicas do album novo (como in the snow, fake as fuck, peace and love, etc)
Aqui em Brasília eles tocaram 2:00 e já ficamos com gostinho de quero mais imagina 1:30
Mais o show vale muito a pena iria outras vezes com certeza!
Assisti no RJ e saí frustradíssima. 1:20 h de show e zero interação do Antony e Frusciani. Flea roubou a cena o show inteiro. Ele e Chad eram os únicos q pareciam estar se entregando p show.
Valor absurdamente caro p o pouquíssimo tempo d show.
Don’t forget me definitivamente não é uma decisão questionável, pra mim foi a cereja do bolo. Música belíssima com performance incrível do Jonh.
Pro repertório maravilhoso e tempo de estrada que os caras tem, o show deveria ter durado pelo menos 5 horas, concordam? Kkk…
Estive em Brasília e posso dizer que mesmo com um tempo considerado curto mesmo e faltando alguns hits, o show foi mágico e especial. A abertura com Around the world é algo que nunca mais vou esquecer. Fã declarada e de carteirinha desses caras. Amo vocês RHCP! ❤️
Pelo valor q estão os shows hj em dia, tinha q ser 5 horas se show com camiseta e copo Stanley da banda inclusos.
Brincadeiras a parte, este é o show dos caras, seja aqui, seja em Tokio ou em Lisboa. Criou-se uma cultura de show, mas ainda não tem uma cultura de conhecer a banda.
A pessoa que fala este tipo de besteira é a mesma q vai no show do Roger Waters e reclama que ele mistura música com política. É o famoso ignorante.