texto por Bruno Lisboa
fotos de Alexandre Biciati e Bárbara Moreira
Desde a década de 80 que Minas Gerais vem produzindo música pesada de qualidade em suas mais variadas vertentes. E por mais que o Sepultura tenha alcançado o estrelato mundial (merecido), no underground mineiro também se encontram muitos artistas fazendo do barulho grande arte que merecem total atenção, caso de Eminence e o Pense.
Por mais que ambas tenham construídos trajetórias diferentes (a primeira na segunda metade dos anos 90 e segunda na década seguinte) e sejam de segmentos e públicos diferenciados, os grupos decidiram reunir forças para uma apresentação conjunta na Autêntica, em Belo Horizonte.
Formada por Bruno Paraguay (vocais), Alan Wallace (guitarras), Davidson Mainart (baixo) e Alexandre Oliveira (bateria), o Eminence apresenta uma carreira em constante evolução sonora, com seis álbuns de estúdio que musicalmente vão do groove metal ao metal core.
No palco da Autêntica, a banda mostrou o que sabe fazer de melhor: brutalidade sonora em performances que primam pela entrega física. O set list da noite privilegiou o disco mais recente, o ótimo “Dark Echoes” (2021), mas também abriu espaço para resgatar faixas de trabalhos anteriores como “Day 7”, do disco “The God of All Mistakes” (2008).
Se a cena metal é terreno fértil para o discurso reacionário, o Eminence fez do show um manifesto contrário a onda conservadora ao trazer para o palco uma bandeira com os dizeres: “Não há lugar para homofobia, fascismo, racismo, sexismo e ódio”. Ao longo de cerca de uma hora e meia de apresentação, o bom público presente correspondeu a altura a apresentação com inúmeras rodas de pogo – algumas delas, inclusive, protagonizadas pelo público feminino a pedido da banda.
Na sequência foi a vez do Pense mostrar que a banda segue forte. Com três bons discos de estúdio lançados, o grupo vem numa boa toada produtiva a cada novo trabalho. “Realidade, Vida e Fé”(2018), o disco mais recente, é, de longe, o álbum que concilia o que a banda tem a oferecer de melhor: uma sonoridade enérgica que ao serem associadas a letras com mensagens políticas (em prol da esperança de novos tempos, da coletividade e da força interior presente em cada um de nós) tornam-nas ainda mais importantes para a atualidade.
Apesar de viverem um bom momento na carreira, a banda formada em 2007 passou por um breve período de hiato em 2022 devido a mudança na formação. Ítalo Nonato abandonou as guitarras e assumiu os vocais e Judá seguiu como baixista com a entrada do trio formado por Daniel Avelar (guitarras), Alexandre Magno (bateria) e Raphael (guitarras), que assumiu a árdua missão de manter viva a banda. A partir daí, expectativas foram criadas sobre como seria o retorno do grupo a ativa. E a espera valeu a pena.
Quem esteve presente na Autêntica pode perceber que, num curto prazo de tempo, a banda conseguiu manter o foco. De fato, o Pense de hoje em nada deve a formação anterior. Afinal, como se pode vislumbrar, o que era marcante na formação anterior segue vivo na atualidade: o formato catártico e preciso das performances ao vivo. O potente single mais recente (“As Cores São Bem Diferentes”) também fez parte do show e deixou claros sinais de que a banda tem largo potencial para seguir em frente.
Banda e público realizaram um espetáculo em alta sinergia, digna dos shows clássicos de hardcore, com inúmeros stage dives, rodas de mosh ininterruptas e canções cantadas em uníssono. Na reta final do show, Bruno Paraguay retornou ao palco e fez uma aparição surpresa ao cantar “Eu Não Posso Mais”, gerando um dos pontos altos da noite, marcada por boas performances ao vivo de bandas que ainda tem muito à mostrar.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. Alexandre Biciati é fotógrafo: www.alexandrebiciati.com / – Bárbara Moreira é fotógrafa: https://eusoubabs.myportfolio.com/work