por Gab Piumbato
“What Were You Hoping To Find?”, Vistas (Retrospect Records)
Certos discos são uma alegria e um enfado. No caso de “What Were You Hoping To Find?” a resposta é banal: mais do que isto. Num festival, ouvir os escoceses dos Vistas antes da banda principal pode dar aquele gás após horas de espera. Mas no conforto do lar tanta energia soa entediante. A partir dum certo momento todas as músicas parecem a mesma. Uma vez é bom, mas 12 é um pouco demais. Imagine 42 minutos. Nenhuma canção é ruim e nenhuma canção é excepcional. Os Vistas não pretendiam oferecer nada além. Mas mediano não é o que se espera de uma banda indie de Edinburgo. A solução é espalhar estas canções numa playlist aleatória e deixar o acaso tocar uma delas. Então de repente os Vistas podem ser melhores do que são.
Nota 5,5
“Lost Futures”, Marisa Anderson & William Tyler (Thrill Jockey Records)
Basear um disco instrumental de violão na teoria cultural de Mark Fisher pode soar um tanto quanto pretensioso. A esta altura da temporada, ninguém quer saber o significado preciso do conceito de “espectrologia”. Mas não é preciso saber os argumentos contra o sistema capitalista, a concentração de renda nas mãos de pouquíssimos triliardários, conhecer o primitivismo americano de John Fahey, nem ter lido o excelente “Realismo Capitalista: é Mais Fácil Imaginar o fim do Mundo do que o fim do Capitalismo?” (editora Autonomia Literária). Para se conectar com a beleza deste disco, basta estar vivo no Brasil em 2021. Aliás, viajar nas nostálgicas paisagens sonoras de Marisa Anderson e William Tyler é um dos melhores empregos do seu tempo nos 25 minutos que compõem este disco. Do riff hipnótico de “Something Will Come” aos dedilhados de “At The Edge of The World”, este breve álbum é um respiro para a poluição mental dos nossos tempos. Durante meia hora é possível acreditar que outro futuro, mais simples, é possível.
Nota 7,5
“Great Big Wild Oak”, Skirts (Double Double Whammy)
As canções de Alex Montenegro, a compositora da banda Skirts, descem fácil como uma bebida fresca num dia quente. “Swim”, com o seu ar lo-fi e uma guitarra lap steel de comover até o coração mais ressecado, se destaca no conjunto: três minutos de pura tranquilidade e felicidade musical. Você já se lembrou de respirar hoje? Estas músicas são tão vitais quanto o sol. Ouvi-las é como ver uma flor desabrochar em slow motion. Não é o tipo de beleza agressiva que entorta pescoços. Aqui pede-se tempo e paciência, o que ninguém tem para dar. Mas se você não encontra um espaço desse em si, como pode exigir dos outros? O psicólogo James Hillman acreditava que todos temos uma imagem essencial, única, que nos impele para o nosso destino. É o que ele chamou de “teoria do fruto do carvalho”. Sem dúvida Alex Montenegro já sabe o que veio fazer no mundo.
Nota 8
– Gab Piumbato é jornalista e autor da melhor discografia comentada de Bob Dylan em português (aqui)