por Marcelo Costa
Nome musical da cena de Detroit dos anos 70 que foi completamente ignorado em sua época, passou as três décadas seguintes numa espécie de limbo de um universo paralelo musical até, no final da primeira década do novo século, ser redescoberto, ganhar um baita documentário e começar a fazer shows novamente. Você já ouviu (e assistiu) essa história antes, mas não estamos falando de Sixto Rodriguez, que inspirou o documentário vencedor do Oscar “Searching for Sugar Man” (2012), mas sim do Death, power trio protopunk de Detroit que sumiu sem deixar vestígios após um compacto em 1976 e ressurgiu em 2009 com força total.
“Infelizmente, não conseguimos tocar ao vivo em Detroit nos anos 70!”, conta o baixista Bobby Hackney em entrevista ao Scream & Yell. Quem assistiu ao brilhante documentário “A Band Called Death” (2012), dirigido por Jeff Howlett e Mark Covino, exibido no In-Edit Brasil, sabe que o quarteto fez muito barulho no quartinho da casa da família Hackney, a ponto dos vizinhos reclamarem da zoeira. Era o começo dos anos 70, e nomes como MC5 e Stooges assombravam a cena local. “Nos definiamos como hard-driving Detroit Rock and Roll”, conta Bobby, lembrando a forte influencia automobilística da indústria nos moradores da cidade.
Formada por três irmãos negros (David, Dannis e Bobby) fazendo proto punk tosco e barulhento sob o nome Death nos anos 70 na cidade da Motown dificultou a trajetória da banda, que gravou um disco cheio, prensou às próprias custas um compacto das sessões e, não conseguindo atenção, hibernou durante mais de 30 anos, até ser redescoberta por jovens na Califórnia (um deles, o próprio filho de um dos músicos que não sabia da história punk da família) e ganhar relançamentos inéditos de toda a obra por selos indies badalados como Drag City e Third Man Records (Jack White é de Detroit). “Espere até ouvir algumas das coisas que estamos trabalhando agora”, avisa Bobby. Confira o papo!
Um ano depois de shows em São Paulo e Curitiba vocês estão de volta. Como foi a experiência de tocar no país em 2016 e descobrir que o Death realmente tem um público por aqui?
Foi ótimo. Nós sabíamos que o Brasil era um lugar onde as pessoas realmente apreciam música e o fato de vocês gostarem do Death significa muito para nós.
Como eram os shows do Death em Detroit nos anos 70? A cidade da Motown entendia o som de vocês?
Infelizmente, não conseguimos tocar ao vivo em Detroit nos anos 70! As pessoas não entendiam o nosso som, e o nome Death realmente nos isolou da cena mainstream que estava acontecendo na época.
Vocês tinham conhecimento das outras bandas, como MC5 e Stooges, que estavam tocando na cidade? Ou era tudo mais isolado?
É claro que estávamos cientes do MC5, Iggy e The Stooges, e também de Ted Nugent e The Amboy Dukes, e outros. Esses caras eram nossas influências! O termo Punk não era usado na época então nós todos nos definiamos como “hard -driving Detroit Rock and Roll”.
Como surgiu o contato com a Drag City, que lançou o “…For the Whole World to See” em 2009.
A Drag City chegou até nós através do historiador de rock Robert Manis e também de meu filho, Bobby Jr., que era fã da cena hardcore / punk desde que tinha 12 anos.
O documentário “A Band Called Death” teve sessões bastante concorridas em um festival de cinema aqui em São Paulo, o In-Edit. Como foi para vocês ver a história da banda recontada na tela?
Foi extraordinário. E saber que essas pessoas foram atrás da história do Death é um sonho tornado-se realidade. É maravilhoso.
É impossível não fazer a conexão de “A Band Called Death” com “Searching For Sugar Man”, o documentário sobre o Sixto Rodriguez. O que acontece com Detroit (risos)? Há mais tesouros musicais que vão vir à tona?
Bem, é Detroit, você sabe. Todos nós fomos grandemente tocados e influenciados pela cena musical da cidade, e não seria surpreendente para nós que outros tesouros musicais fossem descobertos. Quem sabe?
O single “People Save the World”/”RockFire Funk Express” saiu pela Third Man Records, do Jack White, que também é de Detroit, certo? Como rolou esse lançamento?
Foi coisa do Ben Blackwell, sobrinho e parceiro do Jack White. Tocamos lá na Third Man Records, em Nashville, em fevereiro passado, enquanto estávamos em turnê pelo sul dos Estados Unidos.
Em 2015 vocês lançaram “N.E.W.”, o primeiro álbum de inéditas da banda depois de tanto tempo. Como foi voltar ao estúdio como Death?
Foi ótimo. E ainda é… espere até ouvir algumas das coisas que estamos trabalhando agora.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.