por Marcelo Costa
A Brasserie de l’Abbaye des Rocs foi inaugurada em 1979 em Montignies-sur-Roc, uma vila da pequena cidade de Honnelles na região da Valônia belga. Lançada originalmente em 1991, a Blanche des Honnelles é uma Wheat Beer diferenciada, pois parece um choque do estilo Witbier (principalmente por não ser blanche e sim âmbar) com o estilo Amber Ale (pela intensa sugestão caramelada de malte). Ainda assim, a receita une três cereais (cevada, trigo e aveia) com casca de laranja, coentro e gengibre. De coloração âmbar com turbidez média e creme branco de média baixa formação e permanência, a Blanche des Honnelles um perfil aromático de características maltadas que a aproxima de uma Amber Ale, com sugestão de mel, caramelo e pão doce. Há pouca presença cítrica, mas o gengibre se destaca com o coentro batendo ponto de forma suave. Na boca, mel e caramelo com leve sugestão picante que remete a pimenta do reino e gengibre. Os cereais se sobressaem novamente, dominando o conjunto, que termina doce e picante e retorna caramelado e adstringente.
A Abbaye des Rocs Blonde (La Nounnette na Bélgica) é uma Belgian Tripel de 7.5% de álcool e coloração âmbar caramelada, com creme branco de média formação e permanência. No nariz, o álcool salta à frente impulsionado pela sugestão de condimentação, derivada da levedura belga, e divide a atenção do bebedor com algo que remete intensamente a nozes. Após este primeiro impacto alcoólico é possível perceber caramelo, açúcar mascavo, frutado (banana e laranja além de nozes), pão doce, cravo, pimenta do reino e leve sugestão de madeira. Na boca, há aumento de percepção cítrica (casca de laranja) e reforço de condimentação (cravo e pimenta do reino). A doçura remete a caramelo e açúcar mascavo, mas o frutado referente a nozes (que impressiona no aroma) é tímido. O final é adocicado, cítrico e picante (tanto de condimentação quanto de álcool). No retrogosto, caramelo, retorno de nozes e calor. Surpresa.
A Abbaye des Rocs La Montagnarde é uma Belgian Strong Ale de 9% de graduação alcoólica, coloração âmbar caramelada (um pouquinho mais escura que a La Nounnette) e creme levemente bege de média formação e permanência. No nariz, complexidade: há sugestão frutada (nozes, mas um pouco mais tímida que na La Nounnette), doçura caramelada (eles se apressam a avisar no site oficial que, ao contrário de boa parte das Strong belgas, essa não recebe adição de candy sugar), toffee, especiarias (cravo e pimenta do reino), leve sugestão de madeira e vinho do Porto. Na boca, a textura é sedosa (quase licorosa) e o álcool está mais presente do que no aroma, trazendo consigo amargor. Há ainda doçura caramelada, leve sugestão de nozes e de vinho do Porto mais condimentação. O final é picante, caramelado e alcoólico. No retrogosto, leve sugestão de nozes, açúcar mascavo e bastante aquecimento.
Fechando o quarteto com a grande estrela da Abbaye des Rocs, a Brune, uma Belgian Strong Ale cuja receita reúne sete tipos de maltes, três estilos de lúpulo (um belga, um tcheco e um alemão) e levedura belga alcançando 9% de graduação alcoólica. Como todas as cervejas da casa, aqui também não há adição de candy sugar. De coloração âmbar escuro e creme bege de boa formação e média permanência, a Abbaye des Rocs Brune apresenta um aroma com bastante frutado (nozes, ameixa e, mais timidamente, framboesa) em primeiro plano. O perfil aromático ainda traz caramelo, toffee, cravo, pimenta do reino e leve sugestão de Jerez (e pouca percepção de álcool). Na boca, textura menos licorosa do que o esperado e entrada frutada (nozes e ameixa) com um toque de Jerez. O álcool corteja, delicadamente, enquanto a doçura caramelada e a condimentação (cravo e pimenta do reino) distraem o palato. O final é maltado, condimentado e frutado (com leve picancia de álcool). No retrogosto, amor. <3
Balanço
A Blanche des Honnelles me soou meio confusa, primeiro por não ser blanche, e depois por não trazer as características de witbier que a adição de casca de laranja e coentro (e o nome) sugestiona. Os três cereais adicionados na receita se sobressaem aos temperos, mas isso também pode ser característica da idade da garrafa: a validade está marcada para fevereiro de 2015, e pode ser que as características cítricas possam ter desaparecido. Do jeito que está parece mais uma (boa) Amber Ale. A Abbaye des Rocs Blonde foi uma agradável surpresa, com um perfil complexo que valoriza tanto o álcool (aparente) quanto o lado frutado (nozes) e a levedura belga. Ótima para estes dias natalinos. La Montagnarde segue a linha da Blonde, com um perfil aromático complexo e um paladar que não chega a altura, mas ainda assim é muito bom, com álcool, nozes, caramelo e condimentação disputando a atenção do bebedor. Fechando o quarteto, a Abbaye des Rocs Brune é uma aula de equilíbrio num conjunto completo e cativante, em que o álcool é um convidado de luxo. A melhor da casa.
Blanche des Honnelles
Produto: Wheat Beer
Nacionalidade: Bélgica
Graduação alcoólica: 6%
Nota: 3,24/5
Preço em São Paulo: R$ 15 – 330 ml
Abbaye des Rocs Blond La Nounnette
Produto: Abbey Tripel
Nacionalidade: Bélgica
Graduação alcoólica: 7,5%
Nota: 3,46/5
Preço em São Paulo: R$ 15 – 330 ml
Abbaye des Rocs La Montagnarde
Produto: Belgian Strong Ale
Nacionalidade: Bélgica
Graduação alcoólica: 9%
Nota: 3,42/5
Preço em São Paulo: R$ 15 – 330 ml
Abbaye des Rocs Brune
Produto: Belgian Strong Ale
Nacionalidade: Bélgica
Graduação alcoólica: 9%
Nota: 4,02/5
Preço em São Paulo: R$ 15 – 330 ml
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