por Marcelo Costa
“Boa Parte de Mim Vai Embora”, Vanguart (Vigilante/Deck)
Quatro anos separam o álbum de estreia do Vanguart deste segundo registro em estúdio, mas parece que Hélio Flanders e compania passaram (neste intervalo) por todos os percalços que uma banda costuma enfrentar quando se envolve com a indústria musical – e que quase pôs fim ao Vanguart. Desmentindo a despedida, “Boa Parte de Mim Vai Embora” mostra um grupo amadurecido e afiado em um disco que flagra o momento exato em que um dos lados de um casal aponta uma faca para o outro. A tensão das relações amorosas é levada ao extremo em letras apaixonadamente sangrentas que clamam por “uma pessoa mais louca, ainda mais louca que eu” (de “Mi Vida Eres Tu”, uma das melhores faixas), avisam que “o amor não foi suficiente” (da auto-explicativa “Se Tiver Que Ser Na Bala, Vai”) e garantem que “quem acordou de um suicídio sabe bem como é ter paciência” (da faixa mais emblemática do disco, “Engole”). Sonoramente, o Vanguart segue em uma via entre a tensão do folk, a paixão por Beatles e a delicadeza de Dorival Caymmi (com o teclado charmoso de Luiz Lazzaroto mais presente) em um disco que defende que quem quer seguir em frente precisa deixar algo ir embora – o Vanguart segue deixando amores e traumas para trás num grande álbum.
Preço em média: R$ 25
Nota: 8
Leia também:
– Entrevistão (2010): Helio Flanders -> O que menos me preocupa é a necessidade de voltar (aqui)
“Coexist”, The XX (Lab 344)
Se no debute, de 2009, o XX articulou o minimalismo com suavidade e sedução, e conseguiu que um mundo caótico parasse para ouvi-los (no festival Primavera Sound, em Barcelona, 2010, cerca de 10 mil pessoas assistiram ao show deles com reverência religiosa, que contrastava com os urros de torcida de futebol ao final de cada canção), agora, com “Coexist”, o grupo pode vir a ser acusado de repetir a fórmula. Tolice. Se o ponto de partida é o minimalismo, não era de se esperar uma mudança radical na sonoridade do trio. Assim, “Coexist” sinaliza um avanço microscópico, seja na percussão que tenta tirar a atenção do ouvinte seduzido pela melodia vocal em “Angels”, seja nas batidas dançantes de “Sunset” e da metálica “Swept Away” ou na forma com que os vocais de Romy e Oliver se entrelaçam na cinematográfica e funkeada “Tides”. É o “velho” XX correndo sedutoramente uma polegada, mas vão dizer que eles nem se mexeram. Olhe de novo… com calma: talvez você esteja diante de um belo disco. E está.
Preço em média: R$ 33
Nota: 7
“Psychedelic Pill”, Neil Young & Crazy Horse (Warner)
Neil Young quer salvar o mundo. Esse desejo já havia sido exposto em sua recém-lançada autobiografia, um livro de memórias que se preocupa mais em meditar sobre o futuro do que louvar o passado, e é reforçado com “Psychedelic Pill,” um álbum épico (apenas oito músicas em 87 minutos barulhentos) que parte de outra premissa: saudando o passado, renovamos o futuro. Acompanhado da fiel Crazy Horse, Young abre o novo disco com “Driftin’ Back”, canção de 27 minutos que ousa pegar o ouvinte pelos ombros e chacoalhar. Ele critica o capitalismo citando Picasso, Maharishi e a qualidade do formato MP3, e exige dedicação do ouvinte, assim como as pessoas faziam nos anos 60. A paciência (artigo raro no século 21) será testada e premiada. Tudo sugere atenção: “A maneira como ela dança faz meu mundo ficar parado”, canta Young na faixa título. Ele volta no tempo e vasculha hotéis (“Ramada Inn”), relembra sua cidade natal (“Born in Ontario”) e a primeira vez que ouviu “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan (“Twisted Road”). Na canção mais emblemática do álbum, “Walk Like a Giant”, diz que estava tentando mudar o mundo (nos anos 60), “mas o tempo mudou”. “Psychedelic Pill” sugere que ele não desistiu. Ainda bem.
Preço em média: R$ 50 (importado)
Nota: 9
Leia também:
– “Neil Young – A Autobiografia”: um passeio por seus vícios, paixões, sonhos e medos (aqui)
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