por Marcos Paulino
Várias bandas de rock já se arriscaram a misturar gêneros musicais típicos de seus países a vocais gritados, guitarras distorcidas e baterias aceleradas. Mas os paulistanos da Huaska quiseram ir além. Depois de experimentar batidas de samba e bossa nova em algumas de suas canções, o quinteto resolveu que faria dessa fusão uma constante. Em seu terceiro disco, “Samba de Preto”, recém-lançado, o vocalista Rafael Moromizato, o violonista Alessandro Manso, o guitarrista Carlos Milhomem, o baterista Caio Veloso e o baixista Júlio Mucci lançaram mão desse conceito em todas as 10 faixas.
Numa fase em que quer deixar o underground para ganhar públicos maiores, a banda, criada em 2003, conseguiu que o disco fosse produzido pelo eclético Eumir Deodato, e ainda contou com a participação da lendária cantora Elza Soares na música que dá nome ao álbum. Mas ainda segue de forma independente, com os músicos pagando do bolso novos luxos, como assessoria de imprensa, e dividindo as tarefas administrativas. Nesta entrevista ao PLUG, parceiro Scream & Yell, Rafael fala sobre o atual momento da Huaska.
O que os integrantes de uma banda que mistura rock com samba e bossa nova escutam no dia a dia?
Os gostos de cada um são bem diferentes. E isso ajudou a buscar uma sonoridade diferente. Mas dá pra citar algumas bandas que a gente ouve, como Faith No More, Metallica, Nirvana, Deftones, Korn. São algumas das internacionais que influenciaram diretamente o nosso som. Dos compositores brasileiros, entram Tom Jobim, Chico Buarque, João Gilberto, Cartola.
Não é exatamente comum que quem escuta a primeira parte das influências que você citou goste da segunda. Como vocês chegaram à conclusão de que dava pra fundir tudo isso?
Quando montamos a banda, definimos qual seria nosso estilo. Trouxemos a batida do violão justamente porque achamos que seria a ponte entre as letras em português e o rock. No primeiro disco, essa proposta entrou em algumas músicas. Gostamos do resultado e fomos incorporando ca-da vez mais elementos do samba e da bossa. No segundo CD, entraram os elementos de percussão brasileira, o pandeiro, a cuíca. Essa brasilidade era um detalhe que acabou se tornando nossa principal característica. O “Samba de Preto” é o amadurecimento dessa sonoridade. Chegamos onde queríamos.
Misturar músicas típicas com rock em algumas faixas não é uma novidade, mas fazer disso a principal característica da banda não pode causar um estranhamento nos públicos de uma coisa e de outra?
Tocamos em eventos com vários gêneros de rock, e acabamos sendo uma surpresa boa. Nosso público é um reflexo da mistura. Temos fãs de 15 a 50 anos, de diferentes classes sociais, de gostos diferentes. Pode ser que na primeira impressão cause certa estranheza, mas quem en-tende a proposta acaba gostando do som. A aceitação, no geral, é bem grande dos dois lados.
Como é o esquema de composição da banda, pra ir juntando os instrumentos do rock com os do samba e da bossa?
Cada um leva suas ideias de melodia, de harmonia, pro estúdio e vamos construindo. Aos poucos, vamos experimentando o que cabe. Neste último CD, ficamos de janeiro a outubro só trabalhando na pré-produção. Foi tudo muito cuidadoso.
Como foi o encontro com o Eumir Deodato?
Conheci o Eumir através de um amigo que é produtor musical e me passou o contato dele. Mandei um e-mail pro Eumir com uma música do segundo disco. Ele retornou dizendo que tinha adorado, então o convidei pra participar do terceiro disco. Ele topou, e o mais legal é que abraçou mesmo o projeto, sempre fala da banda em entrevistas. Ele já trabalhou com gente como Tom Jobim, Frank Sinatra, Björk, e pudemos mostrar uma coisa nova de que ele gostou. Isso nos deixou muito felizes.
E a Elza Soares, como entrou na história?
Queríamos alguém pra cantar comigo no disco, mas não uma pessoa só do samba, e sim que tivesse a ver com o projeto. A Elza canta diversos gêneros musicais, fez experimentação do jazz com samba. E tem um timbre forte, marcante, aquela voz rasgada. Achamos que isso tinha bastante a ver com o que estávamos fazendo e mostrei pro empresário dela o single do CD. Ela topou na hora. Disse que gostava de rock e nunca tinha gravado com esse tipo de banda. Ela já até aceitou fazer uma participação num show.
A banda tem 10 anos de vida, mas ainda carece de uma exposição maior. A participação de artistas como o Eumir e a Elza tem justamente o objetivo de ajudar nisso?
Sim. Até o segundo disco, era mais underground. Uma das ideias na concepção do “Samba de Preto” era mostrar o disco pro público em geral. Sentimos uma maturidade e decidimos trabalhar bastante na divulgação. Antes, a gente colocava as músicas na internet, fazia o básico. Neste disco, queremos fazer nossa música chegar às pessoas.
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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira
Acho que é válida a tentativa, a busca por uma nova sonoridade, de uma nova mistura, de algo novo. Com relação ao resultado, achei que as músicas parecem duas músicas diferentes em uma só. As partes não se misturam, não combinam, não se tornam uma coisa só. Talvez por serem estilos tão diferentes. Acho que o caminho é misturar os dois estilos em toda a música, deixar de ter uma parte x e uma parte y. Criar efetivamente uma nova sonoridade que tenha as duas referências. Acho que o beatchoro chegou a um resultado bem interessante e pode servir de inspiração. E olha que eles misturam estilos que não são os meus preferidos.