Entrevista - Walverdes
por
Marcelo Costa
Email
Foto: Raul Krebs / Divulgação
05/12/2005
A campainha toca. Abro a porta e Marcos Rübenich e Gustavo "Mini"
Bittencourt entram em meu apartamento. Mini segue direto até
a caixa Todo Caetano, em busca de um disco antigo do
músico baiano. "Um amigo gravou pra mim, mas não fez a capa.
Acho que é esse Temporada de Verão", comenta. "É
muito bom", completa. Em seguida, pega a lata com toda a primeira
fase dos Paralamas do Sucesso, tira o álbum Bora Bora
e diz: "Esse é um puta disco". Enquanto isso, Marcos "investiga"
o box quadruplo Thirty Years Of Maximum R&B, com raridades
do The Who.
Ao lado do baixista Patrick Magalhães, Marcos (bateria) e Mini
(guitarra e voz) formam o Walverdes, uma das bandas mais barulhentas
e poderosas ao vivo do rock cantado em português nos últimos
doze anos. Na noite anterior a esta entrevista, o trio havia
deixado o público do Rose Bombom, em São Paulo, meio surdo e
muito feliz ao fechar a noite de lançamento da gravadora Mondo
77, com um show no volume máximo. "O som estava absurdo", comenta
Mini. "Se a gente fosse uma banda como o CPM 22, que sei lá,
toca quatro, cinco vezes por semana, acho que a gente ia ficar
surdo", completa o guitarrista.
Após ter lançado os elogiadissimos 90º e Anticontrole
pelo selo goiano Monstro Discos, o Walverdes estréia casa nova
e lança Playback pela gravadora paulista Mondo 77, que
abre as portas apostando suas fichas não só nos gaúchos, mas
também nas bandas Banzé e Violentures. "Se juntar o melhor do
90º e o melhor do Anticontrole vai dar o Playback.
Tem aquela coisa mais simples e punk do 90º e uma certa
elaboração do Anticontrole", analisa Mini. No fundo,
ainda é rock pauleira, conciso e eficiente. Tá, eu não resisto:
Playback é rock barulhento para ser 'apreciado' como
mandava as recomendações de encartes dos antigos bolachões de
vinil: "Ouça no volume máximo". Mini e Marcos falam um pouco
mais sobre Playback para o S&Y, dizem que
queriam fazer um disco tão bom quanto Bad Ass Rock and Roll,
do MQN, e deixam a responsa de ultrapassar a qualidade de canções
e gravação nas mãos dos goianos de agora em diante. Confira
o papo.
Playback - Há algum conceito, alguma mensagem por
trás desse nome? O que motivou a escolha?
Mini - Não. É só o nome de uma música. A gente sempre pegou
o nome de uma música (para título de disco), se bem que o 90º
não é assim. Mas nesse caso é o nome de uma música do disco.
Marcos - O engraçado é pensar no jeito que a gente toca e pensar
em playback... é uma piada.
Mini - Não foi intencional, mas no fim acaba ficando isso.
Marcos - A gente nunca vai fazer playback. Não tem as mínimas
condições.
Mini - Mas é mais por causa da história da letra, do cara cantando
na frente do espelho...
As músicas são todas novas?
Mini - São novas no sentido de que nunca haviam sido registradas,
mas na verdade são todas músicas que a gente vem tocando a dois
ou três anos nos shows. A gente vai tocando elas ao vivo e vai
se acostumando, mexendo. Tem uma música chamada Eu Não Dou
Explicação que a gente tocou ela por dois anos de um jeito
e com uma letra nos shows. Quando a gente foi gravar, colocamos
um outro pedaço na música e ainda fizemos outra letra. Teve
só uma música que foi feita entre o último show e as gravações...
Marcos - Até o jeito de cantar a gente mudou na hora...
Mini - É verdade.
Marcos - (Eu Não Dou Explicação) Ficou meio Spiritualized...
Mini - Meio Come Together... mas não foi intencional.
Depois que a gente ouviu é que percebemos: 'Parece Spiritualized'
(risos). Ter também é uma música que a gente nunca tocou
ao vivo. Ela é bem diferente das outras. A gente fez, ensaiou
uma ou duas vezes, e gravou. É uma música lenta e longa...
É uma das poucas em que a letra é só do Patrick...
Mini - É. Têm algumas outras que a gente fez junto.
O Anticontrole é de 2002. Porque tanto tempo para
lançar um disco novo?
Marcos - Porque é difícil, né (risos). Tem que arranjar grana...
Mini - Condições de gravação... mas eu acho até que, para nós,
é um período bom. É um período de fazer as músicas, tocar nos
shows. Tudo nosso é espaçado. A gente não é uma banda grande
que toca toda semana. A gente toca duas ou três vezes por mês.
Os shows são espaçados, os nossos ensaios são espacadissimos.
A gente ensaia muito de vez em quando. Então quando a gente
pensa em gravar o disco tem que arrumar uma grana pra gravar.
No caso do Anticontrole, a gente gravou tudo aos pedaços,
bateria num dia, baixo no outro. O Playback começou assim
e a gente estava gastando muita grana. Como o Anticontrole
foi todo gravado em computador, decidimos gravar o Playback
todo em rolo, analógico. Então a gente pegou o gravador emprestado
do Michel, que era baterista da Video Hits, e começamos a gravar
na casa do Iuri Freiberger (produtor). Gravamos seis músicas.
Só que as outras seis músicas a gente decidiu gravar em um outro
estúdio, profissional. Esse processo todo foi bem demorado,
durou uns sete/oito meses. E então a gente viu que a parte que
estava gravada em rolo estava muito inferior a parte gravada
em estúdio. Porque, enfim, o jeito que a gente gravou em rolo
foi muito tosco. Gravamos na casa do Iuri. O Marcos gravou a
bateria na lavanderia da casa do Iuri, que até tinha um som
excelente, mas... sei lá, se fosse uma banda como o Nirvana
gravando em rolo, eles iam ter compressor e uns equipamentos
que nós não temos. Foi ai que decidimos: não vamos lançar esse
material. Vamos dar um jeito de ir atrás de grana. E ainda teve
o fato da gente ter ouvido o disco do MQN (Bad Ass Rock And
Roll) no meio desse processo...
Marcos - É verdade. (risos)
Mini - Foi o Iuri que gravou e ele nos mostrou. E estava muito
foda. E então chegamos a conclusão que não dava mesmo para lançar
o nosso daquele jeito. Porque nós e o MQN temos meio que uma
relação Beach Boys x Beatles. Eles gravaram um disco melhor
que o Anticontrole e a gente tinha que gravar uma coisa
boa também (risos). Jogamos fora toda essa parte pré-gravada.
E o engraçado é que acabamos saindo da Monstro (Discos) por
conta de todo esse lance. A culpa é toda do MQN (risos). É culpa
do Fabrício (Nobre) (mais risos). O lance é que fomos atrás
de recursos para gravar o disco e foi ai que entrou a Mondo
77 na parada. Eles ofereceram a possibilidade de bancar a masterização
em São Paulo. Não foi exatamente uma coisa agradável sair da
Monstro, mas eles entenderam a história. Foi uma saída amigável.
O legal é que a Mondo 77 está entrando com uma proposta legal...
Mini - É. Ainda mais com a Inker cuidando das bandas, da divulgação...
O 90º já tem uma puta produção, mas com o Anticontrole
vocês deram um salto em qualidade...
Mini - Cara, tu usou a expressão perfeita...
Mas isso fica bem evidente comparando um disco com o outro.
Tenho aqui o primeiro de vocês (Walverdes, 1996)...
Mini - Que é indecente (risos)...
Mas tem coisas legais ali. Se vocês regravassem o disco com
a estrutura que vocês têm hoje...
Mini - Eu não regravaria todas (risos), mas nessas sessões a
gente regravou, mas não lançou, Again. Está numa coletânea
em CDR com várias bandas que foi feita para a Mono, a marca
de camisetas do Patrick...
O Anticontrole apresentou vocês para um grande público
sendo eleito disco do ano em várias publicações. Vocês tinham
alguma expectativa quando o lançaram?
Mini - Não, cara. A gente tinha certeza que queria fazer um
disco bom. O 90º já era melhor do que o primeiro, mas
ele foi gravado toscamente, em condições não tão boas. O mérito
da qualidade do Anticontrole é todo do Iuri. Porque também
foi gravado sem as condições técnicas ideais, mas o Iuri se
esmerou na produção. Quando pegamos o disco para ouvir, pensamos:
"Legal, esse é o nosso cartão de visitas. Agora temos um disco
que tem a ver com nossos shows". Ele foi realmente nossa carta
de intenções. E abriu portas para shows. O disco foi muito bom
para pessoas que não costumavam ver a banda ao vivo. Tem umas
músicas ali que são mais melódicas como Viajando na AM, Acordando
Sequelado, mesmo Anticontrole não é uma música mais
embalada. É um disco que não é só barulheira e isso foi muito
bom.
Qual a expectativa com o Playback, afinal agora já
existe uma certa cobrança...
Mini - A intenção com o Playback era fazer algo melhor
que o Anticontrole. O Anticontrole ficou bom porque
o Iuri se descabelou para mixar e tudo mais. A gente queria,
agora, fazer um disco direito desde o inicio. O que acabou acontecendo,
musicalmente, é que as músicas são... o Anticontrole
é tri-bom, mas tem várias partes de solinhos, uns rococos, que
nos simplificamos no Playback. É uma característica nossa.
Acho que o Playback ficou exatamente como nós tocamos
o Anticontrole ao vivo. Mais condensado.
Achei o disco bem direto, até nas letras...
Mini - Isso não foi propriamente intencional, mas acho que foi
um processo que aconteceu naturalmente. Na verdade, acho que
se juntar o melhor do 90º e o melhor do Anticontrole
vai dar o Playback. Tem aquela coisa mais simples e punk
do 90º e uma certa elaboração do Anticontrole.
O Playback até tem algumas coisas que não são tão cruas
assim, uns detalhes... Cara, tudo isso que estou te falando
são elaborações que eu faço depois que ouço o disco pronto.
Não é uma coisa que a gente conversa, que a gente define: "acho
melhor fazer assim, vamos fazer um som mais comprimido". Não.
Então como funciona o ato de compor músicas no Walverdes?
Mini e Marcos - A gente chega, liga os instrumentos e toca.
Mini - O nosso processo de fazer música é muito simples. Geralmente,
ou eu ou o Patrick trazemos algum riff de casa, dois ou três
riffs, e começamos a tocar no estúdio. Rola umas jam sessions.
E a jam session evolui para um esqueleto e... está feita a música.
Por isso que é importante frisar que tudo isso que eu falo é
uma elaboração minha depois de ouvir o disco pronto. Antes não
têm nada disso. A gente vai tocando, tocando e tocando. Ai depois
que eu paro e ouço... Eu gosto dessas análises, de pegar o 90º,
o Anticontrole, 'isso tem a ver com isso'. E daí que
me caem essas fichas...
É bem o lance de pegar o produto pronto, finalizado, em mãos,
porque até então não deixa de ser uma idéia que está sendo elaborada,
mas ainda não foi registrada.
Mini - É, mas é engraçado porque não é uma coisa que a gente
conversa e decide. "Ah, agora vamos mudar as coisas". Não. Quando
a gente vê, saiu assim. E funciona superbem.
Vocês não ficam surdos tocando tão alto?
Marcos e Mini - Já era para estar...
Os ensaios são assim também?
Marcos - A gente não toca tão alto em estúdio quanto o show
de ontem
(Nota do Editor: na festa Mondo 77, no Rose Bombom)...
Mini - É que ontem estava muito absurdo.
Eu tinha avisado que o som do Rose Bombom era bom pra caralho...
Mini - É muito bom mesmo.
Marcos - E nós ainda tivemos o Iuri operando o som.
Como não ficar surdo???
Mini - Eu acho que é porque somos uma banda independente que
não toca quatro vezes por semana (risos). Se a gente fosse uma
banda como o CPM 22, que sei lá, toca quatro, cinco vezes por
semana, acho que a gente iria ficar surdo. Meu pai me deu uma
vez um material sobre isso, uma reportagem que dizia que as
células do ouvido, se você der um tempo para elas descansarem,
elas se recuperam...
'Rock pauleira, conciso e eficiente'. Ainda vale?
Mini - Acho que ainda vale.
Porque vocês têm 13 anos de banda, e já viram dezenas de
modismos passarem. O rock gaúcho veio e foi. O som dessas bandas
acaba influenciando? O som de vocês é tão característico...
Mini - Mas influencia sim.
Mini e Marcos - Queens on The Stone Age é uma grande influência.
Mini - Cada disco que sai do Supergrass é uma influência pra
gente. Não é uma influência direta, mas tem coisas... o Anticontrole
tem umas coisas meio Supergrass. O que mais de coisa nova?
Marcos - Até coisa velha, cara. Eu, por exemplo, demorei para
escutar Black Sabbath. Fui ouvir seis, sete anos atrás, e é
uma grande influência. Eu acho que é uma coisa que aparece também...
Mini - O próprio Nebula...
Marcos - É, a gente tocou com eles, ficou olhando os shows...
Mini - Mas ao mesmo tempo acontece uma coisa engraçada. A gente
pegava algumas coisas do primeiro disco, das demos, e falava:
"Bah, isso aqui é muito stoner", apesar de não ter stoner ainda,
mas era um reflexo do que a gente ouvia, o Bleach do Nirvana,
Melvins, Kyuss...
Marcos - A última música do primeiro disco, Again, é
muito stoner...
Mini - E tudo é um reflexo do que a gente ouvia na época. Então,
o "rock pauleira, conciso e eficiente" foi só uma maneira de
não sermos chamados de outra coisa. Na falta de algo melhor...
(risos)
Não dá para confiar no Walverdes?
Mini - Dá, cara. Dá sim.
Marcos - Não (risos)...
Mini - Essa letra (Teu Amigo) tem dois pedaços, e o primeiro
pedaço não tem nada a ver com o segundo pedaço. E o segundo
pedaço era sobre os comentaristas políticos do Rio Grande do
Sul. Um era o Lasier Martins, o outro era o Diego Casagrande.
E também tinha o Bibo Nunes. E a gente dizia: "Não dá
pra confiar no teu amigo Bibo Nunes" (risos). Dai, eu e o Patrick
decidimos tirar, e o Marcos achava legal. Só que tudo na banda
é na base do "dois a um" (risos). Tudo que dois querem, um tem
que aceitar e ficar meio puto. Mas a gente não sabia o que colocar
no lugar, e o Patrick deu a idéia de colocar os nossos sobrenomes.
Eu achei engraçado. O interessante é que a primeira parte da
letra não tem a nada a ver com isso tudo. Nela eu falo: "Não
dá para confiar em quem faz você pensar". É uma opinião particular
minha de que não dá para confiar no raciocínio matemático. Porque
tem coisas que tu pensa racionalmente e só dá merda depois.
É útil em muitas ocasiões, como para fazer contas, mas em certos
assuntos não é bom ser tão racional.
Como está a cena gaúcha? Vocês têm tocado por lá?
Mini - A gente têm tocado regularmente lá... tem épocas melhores
que as outras. Cara, são 13 anos. A gente já passou pelas mais
diferentes fases. Teve o inicio, em que era tudo uma maravilha.
A gente fazia show direto, era todo mundo louco. Tinha muita
banda legal, tinha a Garagem Hermética. Tinha um lance bem de
cena. Depois deu uma queda, e a cidade meio que morreu, mas
a gente continuou tocando. Umas épocas mais, outras menos, mas
a gente continuou. Depois teve uma época em que a gente ficou
meio borocoxo. Eu estava tocando com a Tom Bloch, os guris tocando
com o Wander Wildner, dai a gente voltou e fez o 90º
e começamos a fazer shows de novo.
Quem está desde o inicio da banda?
Mini - Só eu e o Marcos. O Patrick entrou no lugar do Bruno...
Marcos - O Bruno gravou o Anticontrole e foi pra...
Mini - ...Nova Zelândia. Ele gravou todas as linhas de baixo
numa segunda à tarde e na terça ele foi para a Nova Zelândia.
E o Patrick era amigo do Bruno, ele mesmo indicou: "Bah, coloca
o Patrick no meu lugar". A gente passou por todas essas ondas.
Nós tocamos com todas essas bandas em todos os estilos que surgiram
lá desde 93 até agora. A gente tocou com os mods, com as bandas
parecidas com Weezer, com os punks, com HC, com grunge, com
noise... a gente deve até ter tocado com bandas de reggae (risos)...
E a fase regueira do Walverdes?
Marcos - Era só viagem de maconheiro mesmo (risos).
Mini - Não foi uma fase propriamente dita. A gente fez um ensaio
com um amigo na percussão e foi tão bom que a gente resolveu
fazer outro e deixar gravando. Deixamos gravando todo o ensaio,
duas horas, numa mesinha de quatro canais de cassete, que tenho
em casa. Depois ouvi e separei os pedaços que prestava. E cada
um virou um pedacinho de música. E uma delas virou uma música
que a gente ainda toca...
Marcos - E nem é reggae. É um dub tosco meio influenciado
por aquelas faixas instrumentais do Beastie Boys, aquela fase
Check Your Head...
Mini - Tentando, né... (risos)
E agora, o que fazer daqui pra frente?
Mini - Show, show, show! Agora estamos tentando marcar show.
A Inker também. Um dos nossos objetivos é tocar no Nordeste,
e ir pra lá demanda uma grana, mas a gente quer ir, quer fazer
com que os shows dêem grana suficiente para bancar as viagens.
E lá é preciso fazer vários shows.
O Leonardo Panço fala bastante sobre isso no livro dele,
que é preciso muita brodagem, porque é difícil fazer com que
as coisas rolem lá pra cima...
Mini - É mesmo, mas esse lance da Mondo 77 com a Inker tem o
objetivo de tentar profissionalizar esse lado. Nós estamos uma
semana em São Paulo fazendo divulgação e, pela primeira vez,
não ficamos em casa de amigos. Estamos em hotel e temos uma
produtora trabalhando junto com a gente. É uma tentativa interessante
da gravadora de fazer a coisa toda fluir. E a nossa parte nisso
é tocar direito nos shows...
E alto...
Mini - E alto. (risos)
'Playback', Walverdes (Mondo
77)
por
Marcelo Costa
05/12/2005
A rigor, o Walverdes segue na contra-mão do que costumamente
acontece no rock'n'roll. Enquanto a maioria das bandas começa
barulhenta e vai amaciando a pauleira e experimentando novos
sons com o decorrer dos anos, o trio simplifica as canções sem
perder a violência e faz uma ode ao barulho com Playback,
quatro álbum oficial do grupo, e terceiro com as mãos de Iuri
Freiberger na produção.
Seja Mais Certo abre com bateria monstruosa e excelente
letra (direta) de Mini. "Seja mais certo e veja que assim /
Tudo começa e tudo tem fim / Seja mais certo, esteja errado
/ E veja que tudo está do mesmo lado". Altos e Baixos
mantém o clima inicial, com o vocal disputando atenção com as
guitarradas. Insistente, abre com distorção, riff circular
e bateria em ritmo de massacre. A letra é simples, direta.
O trio de canções que abre Playback é direto, punk, uma
avalanche de barulho que não ultrapassa os dez minutos.
O clima fica um pouco mais lento em Ter, faixa mais cadenciada,
com Marcos atacando os pratos, mas volta a ficar violento na
faixa mais porrada do disco, Sexta-Feira, um hardcore
com riff matador. Teu Amigo destaca o baixo de Patrick
enquanto Eu Não Dou Explicação traz Mini cantando "Eu
estou aqui agora / O Agora está aqui" sobre uma base pesadíssima
de baixo e bateria.
Tudo o Que Não Pode Ser e a faixa título mantém o clima
de festa punk no ar. "Leu o Mate-Me Por Favor e se emocionou
/ Quis ser o Iggy Pop, mas seu Carlos não deixou", diz a letra
de Playback. Uma boa melodia vocal marca Sabendo Que
É Assim é A Vida, que abre caminho para o trecho final do
álbum. Guitarras repetidas embalam a divertida Não Vou Sair
Daqui ("Não vou sair daqui / Porque tem comida de graça
/ Por isso que eu gosto de casamento / Porque tem comida de
graça") enquanto uma letra nonsense destaca a ótima Saturno
e tudo se encerra com a bastante apropriada Quando Tudo Explodir,
que ainda traz uma coda escondida após alguns minutos de silêncio,
um dub instrumental gravado ao vivo em um ensaio.
Se Anticontrole tinha mais canções melódicas, assobiáveis,
com destaque nos riffs de guitarra, o grande nome de Playback
é Marcos Rübenich. O baterista esmurra seu kit variando os andamentos,
demarcando o território da porrada e fazendo a cama perfeita
para Patrick varrer tudo com seu baixo encharcado de distorção
e para que Mini desfile um bom repertório de letras e
riffs. Se a idéia era fazer um disco melhor que o excelente
Anticontrole e um passo à frente de Bad Ass
Rock and Roll, do MQN, o Walverdes conseguiu um pouco mais:
Playback é o disco mais barulhento, violento e conciso
da música brasileira em 2005.
Leia Também
"90º", do Walverdes, por
Marcelo Costa
A História do Walverdes,
por Gustavo 'Mini' Bittencourt
'Walverdes - Entrevista,
2002', por Diego Fernandes
"A Pré-História
do Walverdes", por André Takeda
"Anticontrole",
do Walverdes, por Fernando Rosa
Links
Site Oficial do Walverdes - Download das faixas Seja Mais Certo e Sabendo na seção de MP3
|