Walverdes
- A História
por
Gustavo Mini Bittencourt
Algum dia perdido em 2001
Estávamos
eu, Marcelo Costa, e o Mini batendo papo por e-mail, e eu perguntando
sobre a Walverdes, como tinha começado e ele sempre contava
algo legal. Pensei e perguntei: Porque você não
escreve um breve histórico da banda? O Mini pensou, disse
que iria conversar com a banda, e ai está: Tudo o que
você precisava saber da Walverdes, banda responsável
por 90°, um dos grandes álbuns nacionais do ano 2000.
Com a palavra, Gustavo Mini Bittencourt, guitarra e voz do Walverdes:
"Tudo
começou em 93 comigo, com o Marcos, mais um amigo chamado
Luis Fernando e um pirado chamado Felipe. Nós costumávamos
ir pra dentro de um estúdio com Velho Barreiro e tocávamos
qualquer coisa durante duas horas. Algumas vezes tinha mais
gente, uns colegas da faculdade, era uma mini-festa. Eu ainda
não tocava guitarra, só cantava. Aos poucos fomos
nos concentrando em uns riffs e fizemos meia dúzia de
músicas. Daí gravamos uma demo chamada Lucky
Strike Skywalker. Tinha umas seis ou sete músicas.
Uma delas, Eu Não Falo Inglês, tocava direto
na rádio Ipanema. Eu só tocava uma corda da guitarra.
A música O Que Pedir?, que só tinha uma
nota, entrou numa coletânea em K7 do Plato Divórak.
Durante
esse ano fizemos alguns shows em colégios e no recém
surgido Garagem Hermética. Em 93 a coisa começou
a esquentar no Rio Grande do Sul. Um monte de bandas apareceu
nessa época (Space Rave, Crushers, Tarcisio Meira's,
etc). Todo mundo influenciado pela Ultramen. Não musicalmente,
mas na atitude. A Ultramen foi que começou esse treco,
nos anos 90, de gravar demo, fazer show, distribuir flyer. Eles
foram os precursores do underground gaúcho dos anos 90.
Nós montamos a Walverdes porque adorávamos ir
nos shows da Ultramen em 92. Devemos muito a eles.
No
final de 93 nós despedimos o guitarrista porque achávamos
que ele não tinha a ver com a banda, ele era meio vaselina
demais, não era rock o suficiente. É, nós
tínhamos dessas... Então eu aprendi guitarra na
marra e a gente gravou umas 14 músicas em janeiro de
94. Isso veio a ser o que eu e o Marcos consideramos nossa melhor
demo: Ogânza Bizáza. É uma zoeira
só, uma coisa bem power trio, urgente. Ao mesmo tempo
que era punk, não era aquela coisa Ramones. Puxava mais
para o Hüsker Dü, ainda que eu mal tivesse ouvido
Hüsker Dü naquela época. A base da nossa influência
era um disco ao vivo do Who (Live At Leeds) e o Every
Good Boy Deserves Fudge do Mudhoney. Ninguém entendia
o que o Who tinha a ver com aquela barulheira. Mas nós
sabíamos o quê.
Durante
94 fizemos muitos shows. Foi uma ótima época.
A cada noite, era sempre a mesma novela: tomávamos o
máximo de bebida, saíamos xingando meio mundo
e subíamos no palco. Isso nos rendeu uma fama de alucinados
e antipáticos. Nunca ninguém sabia como ia terminar
nossos shows. Era porrada atrás de porrada. Eu realmente
não me lembro de muitos desses shows por causa da bebida.
Tocamos com um bocado de bandas daqui e algumas de fora. Mesmo
com o som ruidoso da Ogânza Bizáza, tinha
uma música dela que tocava direto nas tardes da Ipanema.
A radialista Nara Sarmento, hoje jornalista cultural da TV COM,
nos adorava e tinha coragem de botar aquilo no ar.
No
meio de 94 gravamos mais uma demo. Nós fazíamos
música o tempo todo. A fita se chama Vai, Criança,
Faz a Tua Arte. Duas músicas dela (Humildade Relativa
do Ar e Breviário do Pensamento Walverdiano)
entraram na coletânea portuguesa Um Xuto na Orelha.
Uma outra, Não Vou Sair Daqui, entrou numa coletânea
de uma rádio de VItória. Kikito aos Medas
entrou na coletânea da Banguela de bandas gaúchas,
Segunda Sen Ley.
Seguimos
nessa rotina, fazendo shows e bebendo sem limites até
95. Nessa época gravamos uma demo chamada Walverdes
que é bem o embrião do tipo de som que a gente
faz agora. Mais garageiro, mais fuzztone e menos overdrive.
Essa demo tem umas músicas que eu gosto bastante, mas
ela ficou engavetada por um ano por absoluta preguiça.
E
isso nos fodeu por uns 3 anos: preguiça. Nos jogamos
nas cordas. Não 'capitalizamos' a exposição
local que tivemos por um tempo, não movemos um único
dedo pra nada. Não mandávamos releases, mal respondíamos
cartas, não fomos atrás de shows nunca. Tudo isso
por preguiça, por descaso. Outra coisa: as pessoas começaram
a encher o saco dos nossos shows esporrentos, bêbados
e desafinados. Ninguém tinha mais paciência pra
ver os Walverdes afinando no palco, decidindo qual era a música
que iam tocar, aquela enrolação toda.
No
início de 96 o Luciano Menezer resolveu montar a Barra
Lúcifer Records, lançando Lovecraft e a gente.
Até hoje não sei de onde ele tirou grana. Começamos
a gravar baixo e bateria num estúdio. Detalhe: o Felipe,
baixista original, não apareceu. Simplesmente não
apareceu e uma semana depois ligou dizendo que estava fora da
banda. Eu e o Giancarlo Morelli, segundo guitarrista recém
incorporado à banda, nos revezamos no baixo dessa gravação.
Mas,
enfim, ficou horrível e resolvemos passar para o outro
estúdio. No lugar do Felipe entrou o Bruno, que tinha
16 anos na época e precisou tirar uma autorização
no juizado de menores para ir tocar no interior com a gente.
Trocado
o estúdio, gravamos o tal primeiro CD. Saiu todo errado:
registramos músicas só porque eram novas pra depois
descobrir que elas não prestavam. Nisso daí quase
nos fodemos. A produção ficou sem graça
demais, não mostrava um quinto da nossa barulheira ao
vivo. O CD demorou um tempão pra sair, depois o cara
ficou sem grana e não fez capa.
Passamos
de 96 a 98 meio que no limbo, fazendo um show aqui e outro ali,
ensaiando de vez em quando, vendendo CDs sem capa. Só
nos mantemos juntos porque somos super amigos e saíamos
direto juntos. Mas, é verdade, a banda quase acabou.
Em jan. de 97 registramos umas músicas na demo Walverdes
ao Vivo no Japão. Em setembro de 98 gravamos as bases
(guit/baixo/bateria) do que viria a ser o EP 90 Graus.
Só fomos gravar a voz e mixar em outubro de 99. E lançamos
agora, março/abril de 2000. Uma amarração
só.
Mas
aí resolvemos voltar a nos mexer e desde então
a coisa tem melhorado, muita gente se lembra da Walverdes de
94 e um monte de gente nova está nos conhecendo. É
engraçado porque a gente acabou virando uma coisa "geração
93", o que soa como se fosse há 20 anos. Uma coisa, assim,
'old school', rarará!
Pouco
depois do meio do ano, o Gian caiu fora da banda pra ficar só
com Os Corrosivos, outra banda dele, e nós nos assumimos
como power trio.
Desde então temos feitos shows em lugares ótimos
(Goiânia, Florianópolis, Sorocaba, São Paulo),
conhecido pessoas fantásticas (que é uma das melhores
coisas de se ter banda) e nos preparado para gravar o próximo
CD. Como não registrávamos nada desde 98, já
temos uma boa parte do CD composta.
Provavelmente
vamos terminar umas músicas em janeiro e gravar tudo
em fevereiro. Provavelmente vamos gravar com o Tomas Dreher
(ele nem sabe disso) e provavelmente vamos lançar em
conjunto com a Monstro. Provavelmente as músicas vão
sair cada vez mais Walverdes. Provavelemente vai ser um disco
ainda mais rock. Provavelmente algumas pessoas vão gostar.
Provavelmente outras não. Provavelmente continuaremos
a ser os Walverdes."
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2002', por Diego Fernandes
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Links
Site Oficial do Walverdes
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