"A Amarga Sinfonia do Superstar", Superguidis
por Marcelo Costa
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06/08/2007

Ahhhhh, a juventude. Quando "Superguidis", primeiro álbum do quarteto gaúcho, surgiu na terceira posição do Prêmio Scream & Yell, no ano passado, me surpreendi. Quem são esses guris que estavam impressionando tanta gente? Ouvi o primeiro álbum na seqüência, mas a resposta precisa aconteceu meses depois, no palco do Studio SP, com uma apresentação irrepreensível. A dissonancia das guitarras, a entrega dos vocais, a gestualização rocker do corpo subindo sobre o microfone para cantar canções sobre romances que ocupam a mente, a melhor forma de se passar os anos, falta de dinheiro, bugigangas de camelô dadas como presente e malevolosidades. Um show para lavar a alma.

"A Amarga Sinfonia do Superstar" é a segunda vinda dos Guidis. Com produção de Phillipe Seabra (Plebe Rude) e mixagem/masterização de Gustavo e Thomas Dreher, os Guidis evoluem sem deixar para trás suas principais caracteristicas. Seabra gravou um primoroso som de guitarras, que brilhavam já no primeiro álbum, mas pareciam inferiores às apresentações ao vivo. Agora não. Os riffs (em que eles acreditam) estão ali, ao lado da voz, numa sinfonia rock de fazer sonhar. Agora não há, claro, o apelo da novidade do álbum de estréia. E acrescenta-se um pouco da maturidade da vida na estrada – e na mídia.

Essa maturidade recém adquirida em contraponto com a inocência deslavada de antes decepcionou alguns fãs de primeira hora. Bobagem. "A Amarga Sinfonia do Superstar" é Superguidis em sua essência. Se os riffs estão mais cristalinos, as letras continuam desbravando o universo juvenil com uma coragem pouco vista no cenário nacional. "Por Entre As Mãos", canção que abre o disco, traz um dos melhores refrões do ano: "Você é o meu melhor naufrágio", canta Andrio com toda a força dos pulmões. Em "Mais Do Que Isso", eles recusam a posição de gênios (indies) prestes a invadir as ondas do rádio com outro ótimo refrão: "Eu quero fazer tudo o que você faz, mais do que isso eu sei que não sou capaz.

A inocência explícita de "A Exclamação", "O Cheiro de Ôleo", "Os Erros Que Ainda Vou Cometer" e "Nunca Vou Saber" (do verso "Já sou velho demais, mas não tão esperto, como eu queria ser"), entre muitas outras, com suas histórias de "bicicletas aro 15, tênis com cheiro de chiclete", são o bastante para nos fazer lembrar desses anos que voam sem parar – e que muitas vezes nem percebemos que se passaram. Entre os destaques do álbum estão uma regravação – mais encorpada – de "Ainda Sem Nome" (do segundo EP dos gaúchos, de 2004) e a poderosa "Mais Um Dia de Cão", que havia sido liberada em fase de pré-mixagem para download no Popload, de Lúcio Ribeiro, e agora surge ainda mais forte com sua poesia juvenil movida a guitarradas. Desta vez não vai ser estranho se esse disco aparecer em diversas listas de melhores do ano...

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