Cosmotron - Skank
por
Rodrigo James
http://jameslog.blogspot.com/
15/07/2003
O caminho para a maturidade de um
artista é árduo e cheio de vias tortuosas, mas seu final
geralmente é claro, assim como seu ponto de partida. O mais importante
nesta jornada, para o artista, talvez nem seja chegar ao final dela, mas
perceber que a metade exata é o que interessa. São poucos
os que percebem isto, mas no caso do Skank, por exemplo, ele não
só foi percebido, como assimilado de maneira magistral durante o
processo de composição e confecção de seu sétimo
álbum, "Cosmotron".
Se no álbum anterior de inéditas,
"Maquinarama", o Skank havia dado uma guinada de 180 graus em sua carreira
na direção do rock, em "Cosmotron", a vontade de arriscar
foi maior do que qualquer fórmula de mercado, apesar de Samuel,
Henrique, Lelo e Haroldo saberem como poucos no Brasil pop o que é
necessário para agradar gregos, troianos, novalimenses e belorizontinos.
A metade da tal jornada aqui é
nítida. Partindo de uma origem de ritmos jamaicamos, como reggae,
dub e dancehall no passado, o Skank vislumbrou um caminho que fazia a junção
da sonoridade beatle com a do Clube da Esquina. Neste processo, se deparou
com sons de bandas como Wilco,
Radiohead e – ironia
– do Oasis. O resultado é
um dos álbuns mais coesos que se tem notícia no pop brasileiro
recente e que, ao se apropriar de referências das melhores estirpes,
chega a um denominador comum que não é outro senão
o próprio som Skank, com algumas pitadas daqui e de acolá.
As duas canções que
melhor simbolizam isto são "Supernova" e "Dois Rios". Enquanto a
primeira evoca "Tomorrow Never Knows", a segunda parte da "Um Girassol
da Cor do Seu Cabelo" para desembocar em "Strawberry Fields Forever". Talvez
a única referência ao antigo som Skank seja a faixa "Nômade"
e sua sonoridade dub, que poucas vezes eles mesmos foram capazes de fazer.
Não por coincidência, "Nômade" tem a participação
especial de Paco Pigalle – antigo amigo da banda.
Outros destaques do disco, a bela
"Formato Mínimo" e sua letra que usa e abusa de proparoxítonas,
a bossanova "É Tarde" e a emocionante "Por Um Triz" bebem também
nas mesmas fontes, enquanto "Pegadas na Lua" pede emprestado os climas
da banda de Jeff Tweedy. Além destas, pelo menos mais umas três
são sérias candidatas a hits – uma prova de que fazer pop
com qualidade não é proibido, nem impossível. Basta
saber fazer. É bem simples. Acreditem.
Se a partir de agora, o Skank vai
levar adiante o caminho aberto aqui, é uma outra questão,
mas desde já seu nome está escrito no panteão dos
que captaram a mensagem principal a mensagem principal dos princípios
pop e souberam utilizá-la de forma magistral. "Cosmotron" é
um álbum atemporal, assim como havia sido "Maquinarama". Com uma
única diferença : é bem mais audaz.
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