"Living With War", de Neil Young
por
Marcelo Costa
Foto: Divulgação
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02/08/2006
Neil Young é um cara que você pode confiar. O tempo vai, o tempo voa, e lá está o roqueiro despejando um grande disco quase todo ano nas lojas. Seu novo trabalho, Living With War, clama pelo impeachment de George W. Bush e analisa a guerra pelos mais diferentes prismas. O resultado é como se o rock despejasse sobre a Casa Branca uma bomba. Neil Young é um homem que merece respeito.
O roqueiro canadense - que cresceu, vive, e fez fama e fortuna nos Estados Unidos - sofreu com um aneurisma cerebral no final de 2005, mas mesmo envergando 60 anos, 45 deles dedicados ao rock and roll, conseguiu curar-se, recuperar-se e voltar à ativa com os dois olhos no presente e os dedos nas seis cordas da guitarra. E o que ele viu foi a situação calamitosa em que se encontram os Estados Unidos da América.
Com extrema urgência de quem sabe que o tempo é precioso, e
é um pecado deixa-lo escorrer pelos dedos, Young gravou um dos
discos mais importantes do rock nos dias de hoje. Living
With War foi registrado a toque de caixa, contando com Neil
nas guitarras e vocais, Chad Cromwell na bateria, Rick Rosa
no baixo (esses dois também participaram do calmo Prairie
Wind, de 2005) e Tommy Brea no trompete. Com um formato
extremamente básico, e a pressa esmurrando a porta, Young não
se preocupou em gastar tempo burilando o arranjo perfeito para
as músicas. Fez um disco tosco e vibrante, cujo peso
instrumental de um trio conciso corre lado a lado com a temática
política, que mira a testa do homem mais poderoso do mundo:
Mr. President.
Neil Young usa a temática da guerra como inspiração para, mais do que construir sua arte, exigir que o povo norte-americano abra os olhos para a violência sem escrúpulos de seu próprio governo. Com extrema sobriedade e variedade nos enfoques, o roqueiro não deixa o tema cair no populismo barato. Neil Young parte de diferentes pontos de vista para criar um dos discos mais incendiários de sua carreira, que já rendeu clássicos como Everbody Knows This Is Nowhere (1969), Rust Never Sleeps (1978) e Freedom (1990), dentre muitos outros.
As letras de Living With War desenham um país governado por homens que agem nas sombras (como conta a canção After Garden, do verso que cita a invasão no Iraque: "Não sei por que nós nos empenhamos em destruí-lo se vivemos no Jardim do Éden"), flagram a ótica de um soldado que vive com a guerra no coração e na mente (a poderosa faixa título), questionam a manipulação da mídia ("Não necessito de anúncios na TV que me digam o quão doente estou", brada o guerrilheiro em The Restless Conformer), citam Bob Dylan (em Flags of Freedom, em que Young relembra Blowin'In The Wind e o Dylan de 1963 para dissertar sobre liberdade) e contam ainda a história de dois grandes amigos separados pela guerra, e que nunca mais se encontram (Roger and Out).
Neil Young dispara contra a mídia e canta como se fosse um soldado no campo de batalha, e o principal alvo desse bombardeio não poderia deixar de ser outro: George W. Bush. O presidente é o centro das atenções em duas canções: Let's Impeach The President e Lookin' For a Leader. Os títulos de ambas falam por si só: "Vamos Derrubar o Presidente" e "Procurando um Líder". Na primeira, que começa com um trompete citando The Star Spangled Banner (o hino norte-americano, imortalizado no rock em um solo de guitarra de Jimi Hendrix no festival de Woodstock), Young não mede palavras (confira tradução na integra ao final do texto). Lookin' For a Leader, por sua vez, imagina uma pessoa - no meio da multidão - que possa devolver a honra aos norte-americanos. "Pode ser uma mulher, pode ser um negro", crava a letra, que ainda cita Colin Powell nominalmente como possível substituto na presidência, "para limpar a sujeira da corrupção e construir um país forte".
Após uma seqüência de riffs fortes, bateria marcada, e muita idéia para se refletir, Young termina Living Wiyth War à capela, com um coro de 100 vozes cantando a ufanista América The Beautiful, canção tradicional de 1893, que louva a beleza dos Estados Unidos da América.
Para não deixar dúvidas sobre seu caráter engajado, Neil Young disponibilizou o disco para audição antes do lançamento em seu site oficial. Mais: colocou quatro músicas para download gratuito no popular My Space. Mesmo sendo boicotado por 80% das rádios norte-americanas, o álbum chegou ao 15º posto da Billboard, vendendo 61 cópias em uma semana. Agora planeja dar sobrevida ao disco criando um videoclipe para cada canção. Ativismo de primeira grandeza.
Neil Young sempre fez questão de manifestar sua posição política, sendo filiado ao Partido Republicano desde os anos 80, quando era partidário de Ronald Reagan. Aqui reside uma das informações mais importantes deste lançamento: Young vota no mesmo partido de Bush. Ao invés de tentar tapar com a peneira os erros de seu partidário, o músico faz questão de mostrar que percebeu que George W. Bush não é o homem certo para governar os Estados Unidos, e que o país precisa de um novo líder, independente de partido, credo, cor ou sexo, que não mande seus filhos para uma guerra de mentira, não faça acordo com criminosos e não manipule a mídia. Uma aula de honestidade e política.
"Não necessito mais de mentiras", canta ele em certo trecho de Living With War, um CD que o coloca ao lado de nomes como Bruce Springsteen, Pearl Jam, Offspring, Green Day e muitos outros roqueiros que querem Bush fora da Casa Branca. É o rock a favor do povo e contra a violência. Neil Young é um homem que merece todo respeito. E o povo também.
"Let’s Impeach the President"
Let’s impeach the president for lying
Vamos derrubar o presidente por mentir
And leading our country into war
E levar nosso país à guerra
Abusing all the power that we gave him
Abusando do poder que lhe demos
And shipping all our money out the door
E jogando nosso dinheiro pela janela
He’s the man who hired all the criminals
Ele é o homem que contratou criminosos)
The White House shadows who hide behind closed doors
As sombras escondidas por trás das portas da Casa Branca
And bend the facts to fit with their new stories
E distorce os fatos para justificar suas novas histórias
Of why we have to send our men to war
Pelas quais mandamos nossos homens para a guerra
Let’s impeach the president for spying
Vamos derrubar o presidente por espionar
On citizens inside their own homes
Os cidadãos dentro de suas casas
Breaking every law in the country
Quebrando todas as leis do país
By tapping our computers and telephones
Grampeando nossos computadores e telefones
What if Al Qaeda blew up the levees
E se a Al Qaeda explodisse as represas
Would New Orleans have been safer that way
Será que Nova Orleans ficaria mais segura
Sheltered by our government’s protection
Abrigada pela proteção do governo
Or was someone just not home that day?
Ou alguém não estava em casa naquele dia?
Let’s impeach the president
Vamos derrubar o presidente
For hijacking our religion and using it to get elected
Por seqüestrar nossa religião e usa-la para se eleger
Dividing our country into colors
Dividindo o país em cores
And still leaving black people neglected
E ainda negligenciando os negros
Thank god he’s racking down on steroids
Graças a Deus ele está se enchendo de esteróides
Since he sold his old baseball team
Desde que vendeu seu velho time de beisebol
There’s lot of people looking at big trouble
Tem um monte de gente vendo problemas graves
But of course the president is clean
mas é claro que o presidente está limpo
Thank God
Graças a Deus
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