Neil
Young - Ao Vivo no Rock in Rio III
por
Marcelo Costa
Foto: Divulgação
O
melhor show do Rock in Rio 3 teve o menor público do
festival, 125 mil pessoas. Na hora que o bardo canadense Neil
Young subiu ao palco, a 1h20 da manhã, a Cidade do Rock
devia ter menos de 100 mil felizardos. Esse antagonismo (melhor
show/menor público) é uma prova terrível
do quanto o grande público se apega ao marasmo e a formulas
pré–concebidas. Um filósofo justificaria que a
sabedoria reside na minoria. Bem, eu não sou filósofo,
eu sou roqueiro, e faço parte de um pequeno grupo que
gosta de guitarras barulhentas. E foi para esse público
que Neil Young se apresentou em uma madrugada perfeita de sábado
para domingo, lixando-se para fórmulas e receitas.
Para quem se liga em paixão rock and roll, o show de
Neil Young e sua Crazy Horse (banda de irmãos, de sangue)
foi, mais do que qualquer outro show do RiR 3, o rock em sua
quintessência, em sua forma mais primitiva e mais arrebatadora,
apoiada em belas melodias que se arrastavam em barulho e zoeira.
Foi como se estivéssemos em um pequeno pub tomando um
porre. Tá, eu concordo, o som estava baixo, cortesia,
aliás, de todos os principais shows do festival, mas
estava deliciosamente sujo.
Neil entra no palco vestindo jeans, camiseta e chapéu
de palha. Consigo, três velhos amigos que excursionam
com ele há mais de 32 anos, sua banda de fé, irmã
camarada, a Crazy Horse, com Ralph Molina na bateria, Billy
Talbot no baixo e Poncho Sampedro na guitarra. Velhos senhores
especialistas em fazer barulho. E o barulho começa com
a acelerada Sedan Delivery. Na seqüência,
o clássico Hey Hey My My, que já tinha
sido tocada nesse festival uma semana antes, pelo Oasis, em
versão acelerada, mas menos barulhenta. Com Neil, a cadência
diminui, o volume das guitarras sobem e o público acaba
sendo fisgado pela letra que diz que o rock and roll nunca vai
morrer. Se depender desses caras, não mesmo.
Love and Only Love surge com longa introdução
esbarrando os três minutos e ultrapassando, ela toda,
nos 13 minutos de duração. Começam as jams
sessions. Começa o delírio do público que
ganha o primeiro presente da noite, Cinnamon Girl que
não estava no set list e surge de improviso amparada
por um ôôôôô puxado por Neil.
O curto set list de sete canções ainda traz a
esporrenta Fuckin Up e a maravilhosa Cortez, The Killer,
com uma longa introdução arrepiante e mais de
13 minutos (novamente) de pura emoção.
Para finalizar, uma dobradinha para fazer o coração
de fã parar: Like a Hurricane e Rockin In The
Free World. A primeira surge, realmente, como uma tempestade
e traz consigo os backings de Pegi (a mulher de Neil) e Astrid
(irmã) no refrão, uma canção/estrela
em noite clara, um carinho como Neil dizendo "We Love You
Rio". Os teclados aparecem aqui, ali, e a guitarra corta
a atmosfera com um riff matador. A canção quase
acaba, a microfonia impera, as cordas estão arrebentadas,
mas Neil insiste e leva a canção para mais cinco
minutos de desconstrução (ela durou "só"
16 minutos) em que a reação do público
foi de aplaudir, só restando ajoelhar. Já Rockin
In The Free World veio mais lenta que a versão do
álbum Freedom, contagiando novamente o público
que gritou "Neil Young – Neil Young" no coro de pedido
de bis mais arrepiante e sincero de todo o festival. Ele voltou
e tocou Powerdefinger, Down By The River e Welfare
Mothers, que encerrou sua microfonia as 3h10 da madrugada.
Não teve fogos de artificio, não teve monstro
entrando no palco, não teve tradutora chorando, não
teve bolo de aniversário, não teve nem telão.
Só havia um baixo, duas guitarras e uma bateria. Precisava
mais?
Dizem que teve gente que chorou em Buenos Aires, dois dias antes.
Não é difícil imaginar. O rock realmente
não morreu e esteve no Rio de Janeiro vestido de jeans,
camiseta e chapéu de palha. Neil, deixe de bobagem, somos
nós que amamos você.
O melhor show dos três Rock In Rio.
Site
Oficial de Neil Young
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