Mobilize / Virginia Creeper -
Grant Lee Phillips
por
Marcelo Costa
Foto: Divulgação Sum Records
maccosta@hotmail.com
17/08/2004
Grant
Lee é um caso clássico na história do rock and roll. Um début
inacreditável de tão sensacional e, posteriormente, a rejeição
da indústria e a volta por cima. Tudo começou em 1993, quando
– em meio ao turbilhão grunge – Grant Lee lançou (com sua
banda – Grant Lee Buffalo) um dos álbuns fundamentais dos
anos 90, o sensacional Fuzzy.
A ovação da crítica e a paixão do público ainda marcaram Mighty
Joe Moon (1994), o álbum seguinte, porém Copperopolis
(1996) e Jubilee (1998) não reeditaram a qualidade
dos dois primeiros discos. O resultado foi uma dispensa da
gravadora, de modo triste, em 1999, quando Grant Lee soube
que da demissão lendo uma nota na internet.
O trauma fez com que o músico acabasse com o Bufallo e amargasse
um ano de reclusão. O retorno, sutil, aconteceu com o quase
acústico Ladies Love Oracle, que era vendido apenas
na web. Em 2001 saiu Mobilize, com Lee travestido de
Napoleão na capa, e agora o músico retorna inspirado com Virginia
Creeper. Tanto Mobilize e Virginia Creeper
ganham edição nacional via Sum Records.
Em Mobilize, Phillips coloca a eletrônica a serviço
do folk. Barulhinhos, bateria eletrônica e efeitos estranhos
permeiam as 14 excelentes faixas do álbum (a edição nacional
traz dois bônus tracks). O vocal encanta logo na primeira
faixa, See América, que começa ao violão. O arranjo
vai agregando teclados, efeitos e bateria eletrônica. A bela
voz duela com os efeitos em Humankind, uma das grandes
canções do álbum. Em Spring Released, a influência
do Beach Boys aparece enquanto vocais sobrepostos flutuam
sobre a cama de teclados, gaita e programação eletrônica.
Já em Virginia Creeper, Grant Lee Phillips opta por
banjo, ukulele, acordeom, bandolim e violino para rechear
os arranjos de onze canções arrebatadoras. Com uma superbanda
no encalço, o músico enfileira nomes femininos nos títulos
das canções (Mona Lisa, Lily A Passion, Calamity Jane,
Josephine on The Swamps e Suzanna Little) em que
um violino aqui (na sublime Mona Lisa), um acordeom
ali (Calamity Jane) e um quarteto de cordas acolá (Far
End of The Night) tornam tudo muito bonito. Para ninguém
ter dúvidas, Lee mostra a origem de todo o álbum na cover
de Hickory Wind, do clássico Sweetheart of The Rodeo
(1968), do The Byrds. A
parceria de Gram Parsons com Bob Buchanan (Internacional Submarine
Band) fecha Virginia Creeper transformada da batida
country original em quase uma marcha rancho.
Mobilize irá impressionar mais os fãs do Bufallo enquanto
Virginia Creeper deverá emocionar fãs de Grant Lee.
Quem optar pela boa música deve se satisfazer com dois bons
álbuns de um cara que conheceu o sucesso, o desprezo e soube
retornar com a moral em alta. Da série coisas que valem uma
vida.
Em tempo: a gravadora London Records lançou, em 2001, a coletânea
dupla Storm Hymnal. Gems From The Valty Of Grant Lee Buffalo.
Cada um dos quatro álbuns foi representado com quatro músicas
no CD 1. Já o segundo disquinho compila material raro e versões
acústicas para canções como The Shining Hour, Wish
You Well e Soft Wolf Tread. O clássico Fuzzy
foi lançado no Brasil em 1999 e ainda pode ser encontrado
em algumas boas lojas.
Site Oficial Grant Lee Phillips