The
Byrds
Pássaros Onipresentes
Por
Carlos Eduardo Lima
Foto: John Chiasson / Divulgação: Roger McGuinn
e sua Rickenbaker
01/02/2002
É
provável que você nunca tenha ouvido uma música
sequer dos Byrds e isso é muito ruim. Ruim porque eles
foram a banda de rock mais influente da história da música
pop, perdendo, na humilde opinião deste que vos escreve,
apenas para os Beatles. Exagero? Senão vejamos: Os Byrds
têm sua carreira dividida pelos críticos em dois
períodos bem distintos. O primeiro, conhecido como sendo
a fase áurea do grupo, compreende o tempo entre 1965
e 1968. O segundo período vai de 1969 até 1973
e é visto como a decadência da banda por motivos
vários.
A
coisa começou mais ou menos assim. Jim McGuinn e Gene
Clark se encontraram num buraco qualquer de Los Angeles durante
um show do primeiro. Gene achou o set de McGuinn, composto por
canções folk tradicionais e algumas covers dos
Beatles, surpreendente. Decidiram apresentar-se em dupla, mantendo
o repertório original e logo tiveram a adesão
de David Crosby. Como toda formação iniciante,
sob o nome de Jet Set, gravaram uma demo que não chegou
aos ouvidos de ninguém, mas que começaria uma
história na maioria das vezes bastante vitoriosa. Pouco
tempo depois, eles gravaram um single para a Elektra, sob o
nome de Beefeaters, com a ajuda de músicos de estúdio.
Nada acontecia. McGuinn decidiu mudar seu nome para Roger, agregou
ao trio o baterista Michael Clarke e o bandolinista Chris Hillman,
que deveria assumir o baixo, mesmo não sabendo tocar.
Já como Byrds, os cinco resolveram dar um passo audacioso
na carreira. Gravar uma música do ídolo maior,
Bob Dylan, como se os Beatles (segundo ídolo maior) estivessem
tocando. O resto é a tão falada história.
Os Byrds foram catapultados para o sucesso, para as paradas,
para o front contra a invasão britânica, e para
as badalações. Mr Tambourine Man, a música
de Bob Dylan que os sujeitos rearranjaram estourou nos dois
lados do Atlântico, propulsionada pelo timbre inconfundível
da guitarra de 12 cordas de Jim McGuinn e pelas harmonias vocais
do grupo. Fizeram fãs famosos, inclusive, numa curiosa
via de mão dupla, os próprios Beatles, especialmente
George Harrison e, glória suprema, Bob Dylan em pessoa.
Os Byrds passaram a ser conhecidos como os "Beatles americanos".
Logo contratados pela Columbia, lançaram em 1965 o disco
Mr Tambourine Man, recheado de composições
de Clarke e covers de Dylan e Peter Seeger, num estilo que se
chamaria folk-rock a partir do estouro de Turn! Turn! Turn!,
disco de 1966, impulsionado pela cover homônima de Seeger.
Outra música desse disco que ficou marcada foi Eight
Miles High, que com seu título meio junkie fez sucesso
no circuito alternativo de Los Angeles e San Francisco, mas
acabou sendo boicotada pelas rádios devido às
alusões às drogas.
A
partir daí, os Byrds começariam a lidar com um
fator que prejudica qualquer banda. O entra e sai de músicos.
Gene Clark, principal compositor e segundo vocalista, deixaria
a turma por não suportar voar. Todas as turnês
traziam a mesma situação: enquanto Clark ia de
carro ou trem, a banda ia de avião e chegava muito mais
cedo. Como quarteto, os Byrds gravaram Fifht Dimension,
disco com um pé pesado na psicodelia nascente, mesclando-a
com folk. A faixa-título, John Riley e I See
You são clássicos desse período e mostram
os vocais a cargo de McGuinn, Crosby e Hillman. O melhor disco
da banda, Younger Than Yesterday, de 1967, já
mostrava um Crosby mais atuante e sobressaindo-se muito mais
que o próprio McGuinn. Em músicas geniais como
So You Wanna Be A Rock'n'Roll Star ou My Back Pages
(outra cover de Dylan), o trabalho dos Byrds encontra dimensões
nunca alcançadas.
Maturidade total, folk rock encharcado de psicodelia e inovações
de timbre por parte de McGuinn e Hillman. O disco seguinte,
The Notorious Byrds Brothers começou a ser gravado
na base da porrada, literalmente. Crosby batia em McGuinn, que
batia em Hillman, que batia em Crosby. Saldo final: Crosby deixaria
a banda no meio das gravações para formar o Crosby,
Still & Nash, junto com Stephen Stills e Graham Nash, tendo
agregado, no ano seguinte, Neil Young, sendo o Crosby, Still,
Nash & Young um dos supergrupos da época. Gene Clark foi reconvocado
para finalizar o álbum e não permaneceu, além
do pacífico baterista Michael Clarke também pedir
o boné. Mesmo assim o disco ainda manteve a qualidade
dos trabalhos anteriores.
De 1968 em diante, muita coisa mudaria na trajetória
dos Byrds. McGuinn e Hillman conceberam a idéia de gravar
um disco duplo, onde a banda mostraria suas versões para
vários estilos de música pop, desde o jazz, passando
pelo blues e chegando ao country. Para isso, recrutaram as seguintes
pessoas: o baterista Kevin Kelly e o pianista Gram Parsons,
que mudaria todos os planos. Parsons, nascido Cecil Ingram Taylor,
em 1945, era um ex-estudante da badalada Universidade de Harvard
e fã obsessivo de música country. Ele contaminou
os outros Byrds e os convenceu a gravar Sweetheart Of The
Rodeo em 1968, onde a banda forjou o termo country-rock.
Isso dividiu os fãs da banda, apesar do folk rock dos
Byrds sempre ter se aproximado das tonalidades mais country,
aqui eles assumiam isso de forma definitiva.
Mas Parsons, sujeito errático por natureza, deixaria
os Byrds seis meses após seu ingresso na banda e levaria
consigo nada mais nada menos que Chris Hillman, o principal
autor das músicas da banda. Juntos eles formariam o Flying
Burrito Brothers em 1969, onde Parsons ficaria até 1970,
para sair em carreira solo um ano depois e morrer de overdose
em 1973. McGuinn se viu completamente perdido e os Byrds, apesar
de não encerrarem suas atividades, tornaram-se a banda
de apoio de Roger. Com o guitarrista Clarence White agregado
ao grupo, eles ainda gravariam The Ballad Of Easy Rider
(1969), Byrdmaniax (1969), Untitled (1970) e Farther
Along (1972), álbuns renegados na época, mas
que agora estão sendo reavaliados e tendo a importância
reconhecida, principalmente pela capacidade criativa de McGuinn,
um sujeito pacato, mas extremamente competente com uma Rickebacker
12 cordas nas mãos.
Em 1972, com a morte de Clarenc White, os Byrds praticamente
deixaram de existir. Em 1973, McGuinn, Hillman, Crosby, Gene
Clark e Michael Clarke gravariam o Reunion Album, mas
sem uma centelha da criatividade dos primeiros discos. Seguidores
dessa cartilha: Tom Petty, REM, Replacements, Big Star, Eagles,
America, Crosby Stills And Nash, centenas de milhares de bandas
contemporâneas do calibre de Teenage Funclub e Yo La Tengo,
além de outros tantos artistas que passaram a fundir
o rock e country. Um legado que impressiona tanto pela importância
quanto pela total falta de conhecimento da maioria do público
consumidor de rock. Ainda há tempo de correr atrás
dos relançamentos dos onze discos principais dos Byrds,
entre 1965 e 1972, feitos pela Columbia/Legacy, com faixas extras,
sobras de estúdio e lados-B, sem falar no importantíssimo
Live At Fillmore February 5 - 1969, concerto inédito
da banda, somente agora liberado por McGuinn. Boa viagem.
Carlos
Eduardo Lima é colunista da revista Rock Press.
|