2004, o ano Brian Wilson na música pop
por Marcelo Costa
Foto - Guy Webster / Divulgação

maccosta@hotmail.com
18/10/2004

2004 tem tudo para ser o ano Brian Wilson na música pop. O ex-líder do Beach Boys recuperou o disco perdido mais famoso de todos os tempos, Smile, saiu em turnê mundial (que chega a São Paulo em 07 de novembro) e ainda encontrou tempo para quebrar um silêncio de seis anos ao lançar um novo disco de canções inéditas, Gettin' In Over My Head, que conta com participações de Eric Clapton, Elton John e Paul McCartney. Não é pouco para um senhor de 62 anos, que mudou a história da música pop, 38 anos atrás quando lançou Pet Sounds (1966), considerado por muitos como o melhor disco de todos os tempos e fonte de inspiração e desafio para que os Beatles ultrapassassem seus próprios limites em Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (1967).

Brian Wilson surgiu para a música pop nos Beach Boys, no ínicio dos anos 60. Sua vida artística e pessoal é tão cheia de sucessos quanto de frustrações. A banda nasceu com o trio de irmãos Brian, Carl e Dennis, mais o primo Mick Love e o amigo Al Jardine, enaltecendo a vida na Califórnia: o sol, a praia, as garotas. Conforme o grupo foi arrebatando legiões de fãs, ganhando inúmeros discos de ouro e cravando nas paradas de sucesso algumas canções inesquecíveis - como Fun, Fun, Fun, Help Me Rhonda, I Get Around e Surfin' USA (entre muitas outras) -, a musicalidade de Brian Wilson foi aumentando. O músico começou a ver o estúdio de gravação como um instrumento a mais na criação das canções. Enquanto a banda fazia shows pelo mundo, Wilson, sozinho, aprofundava seus experimentos musicais. O resultado foi o aclamado Pet Sounds. Com Pet Sounds e Sgt Peppers, a música pop adentrou o território da arte, deixando de ser analisada como uma música descartável, apelativa e efêmera. Após 66/67, o rock nunca mais foi o mesmo. E Smile seria o próximo passo de Brian.

Smile, o tal álbum perdido, quase acabou com a vida do líder dos Beach Boys. Foram vinte anos de terapia psiquiátrica e reabilitação das drogas. Quando abandonou o projeto, em maio de 1967, Smile seria um concorrente de peso a posição de melhor disco daquele ano, cabeça-a-cabeça com Sgt Peppers, dos Beatles. Mais do que isso, seria um passo a frente de Pet Sounds. Porém, atrasos no lançamento, a devoção obsessiva pela perfeição, pressão da gravadora e o alto consumo de drogas colocaram Brian em crise. Depressivo, o músico abandonou o disco, a banda, os amigos e se internou em um hospital, vítima de um colapso nervoso.

A decisão de abandonar Smile foi dura para Brian. O músico passou os anos seguintes em depressão, sem compor material inédito, tocando eventualmente com os Beach Boys em shows e só voltando ao mundo pop em 1988, com um álbum solo, seu primeiro disco em mais de vinte anos. De lá pra cá, a volta de Wilson foi gradual, mas cresceu nos últimos anos com o lançamento de um disco de inéditas (o bom Imagination, 1998), um álbum duplo ao vivo gravado no Roxy Theatre (2000), uma versão de Pet Sounds registrada ao vivo no Royal Albert Hall, em Londres (2002), e, agora, Smile (2004) e, Gettin' In Over My Head.

No começo de 2003, Brian Wilson decidiu ouvir os tapes abandonados de Smile, convidou o letrista e parceiro Van Dyke Parks para recuperar a obra e, com auxilio da esposa Melinda e de Darian Sahanaja, líder da banda que o acompanha desde 1999, finalizou o disco. Smile é uma ópera pop dividida em três longas suítes musicais, cada uma delas tendo como inspiração uma pop song inesquecível de Brian Wilson: Heroes & Villains, Surf's Up e Good Vibrations. O álbum vem sendo apontado pela crítica internacional como um dos grandes discos de todos os tempos, o que não surpreende em se tratando de Brian Wilson. A textura das melodias, os belíssimos arranjos vocais, a inspiração em Gershwin, Miles Davis, Phil Spector, soul, folk e pop music fazem de Smile um disco praticamente perfeito. Se levarmos em conta, ainda, que comparado diretamente com Pet Sounds (dito melhor disco da história da música pop), Smile soe mais inventivo, grandioso e abrangente, é natural que o disco seja apontado como uma obra-prima musical. Brian Wilson queria escrever uma pequena sinfonia para Deus, um disco que transpirasse amor. E conseguiu.

Tanta louvação sobre Brian Wilson é plenamente justificada. O músico é considerado um dos maiores por gente como Bob Dylan, Neil Young e Elton John. Para o beatle Paul McCartney, God Only Knows, do clássico Pet Sounds, é a melhor música escrita em todos os tempos. Para o cineasta Cameron Crowe (Quase Famosos, Vanilla Sky e Vida de Solteiro), a genialidade de Brian está na "tristeza intoxicante e dócil de suas melodias. Sempre que posso fazer um filme, coloco uma cópia Pet Sounds nas mãos dos atores e digo que ali está o que é viver, o que é crescer. Esta é a magia de Pet Sounds". Esta é a magia de Brian Wilson.

Em março de 2001, Brian Wilson recebeu uma homenagem em Nova York, registrada no DVD An All-Star Tribute To Brian Wilson. Paul Simon, Go-Go's, Elton John, Billy Joel, David Crosby, Carly Simon e Aimee Mann, entre outros, cantaram canções dos Beach Boys e falaram sobre Brian Wilson. Sir George Martin, produtor dos Beatles, viajou de Londres para Nova York apenas para registrar seu testemunho sobre um dos maiores artistas que a música pop já conheceu. "Enquanto John e Paul escreviam as canções, Ringo e George interpretavam e eu produzia Revolver, ele, sozinho, fazia tudo isso em Pet Sounds. Ele nos desafiava. Sem Pet Sounds não haveria Sgt Peppers", reconhece George Martin, completando que "nos anos 60, o melhor da música pop tornou-se a música do povo". Com Smile, Brian Wilson apresenta um fragmento desta época, um documento da vida feliz na América dos anos 60. Uma ópera-pop em três movimentos. Todo o projeto fez renascer, também, o documentário Beautiful Dreamer: Brian Wilson and the Story of Smile, sobre o difícil parto do álbum. A direção é de David Leaf, amigo desde aquela época de Brian, e traz informações recentes que mostram que, mesmo após todo esse tempo, a cobrança pessoal foi tanta que Brian Wilson quase se internou neste ano após retomar o trabalho.

Smile, que chega às lojas brasileiras nesta semana, deixa de ser o disco perdido mais famoso de todos os tempos para ser apontado como disco da semana pelo jornal Sunday Times, o álbum do mês do jornal The Observer, "o melhor que o rock produziu em todos os tempos" pelo The Guardian, "o melhor da música pop no século 20" pelo New Music Express. Ao fim dos shows de apresentação de Smile em Londres, em fevereiro passado, três mil pessoas aplaudiram ininterruptamente por cinco minutos o que a crítica britânica apontou como uma execução de uma "complexa e sofisticada sinfonia americana". "Nada poderia nos preparar para isso", enalteceu o jornal Daily Telegraph.

O Brasil terá a oportunidade de passar uma noite com Brian Wilson, dia 07 de novembro, no Tim Festival, que acontece no Jockey Clube, em São Paulo. Brian irá tocar Smile na integra, além de canções do álbum Pet Sounds e hits da carreira dos Beach Boys. O músico pediu para que a organização do festival disponibilizasse cadeiras para o público. Será um show de quase 3h de duração. Um show para ficar na história. Os convites, no entanto, já se encontram esgotados. Além do show, três álbuns de Brian Wilson aportam nas lojas brasileiras (Smile, Gettin' In Over My Head e Live At The Roxy Theatre). 2004 tem tudo para ser o ano Brian Wilson. É o melhor da música pop voltando ao povo. Sorriso.


Três discos de Brian Wilson chegam ao País
por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
18/10/2004

Três lançamentos antecipam a vinda de Brian Wilson ao País. A gravadora Warner coloca no mercado brasileiro o aguardado Smile e o inédito Gettin' In Over My Head enquanto a BMG presenteia os fãs com a edição de Live At The Roxy Theatre, disco duplo que registra shows de Brian Wilson em 2000 cantando clássicos dos Beach Boys e de sua carreira solo, além de covers como Be My Baby.

Smile é o tal disco perdido que Brian não chegou a finalizar em 1967, abandonando o projeto pouco antes dos Beatles lançarem Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. O disco é dividido em três longas suítes em que a harmonia vocal, aliada aos inventivos arranjos, faz do disco uma grande sinfonia pop. Em comparação direta com Pet Sounds, Smile é mais abrangente, complexo e grandioso. Abre com as harmonias vocais de Our Prayer/Gee, como se Brian estivesse realmente orando, e desemboca em Heroes & Villains, um dos grandes momentos da parceira de Brian Wilson com o letrista Van Dike Parks.

O "segundo movimento" do disco é aberto com a bela Wonderful, impressiona com a dobradinha Song For Children/Child Is Father of the Man e emociona na maravilhosa Surf's Up. Para o terceiro movimento, Brian deixou um de seus últimos grandes hits, Good Vibrations, que fecha o disco sob os aplausos do público. Em entrevistas, Brian diz que decidiu abandonar o disco em 1967 porque era um álbum muito a frente de seu tempo. "O público não estava preparado", acredita. Ainda assim, mesmo com o silêncio de 38 anos, Smile continua soando como um álbum visionário, espetacular e arrebatador.

Se Smile é o ano de 1967 ecoando em 2004, Gettin' In Over My Head, é o inverso. O primeiro álbum de inéditas de Brian em seis anos é uma declaração de amor aos sixties. Após uma bonita harmonia vocal, Elton John rasga a voz em um delicioso rock, How Could We Still Be Dancin, solando ao piano enquanto Brian Wilson marca presença nos backings. A belíssima Soul Searchin une a voz do falecido irmão Carl a de Brian em uma canção perfeita para embalar casais em um salão. You've Touched Me é outro rock de inspiração sixtie enquanto a faixa título é uma balada inspirada. City Blues é uma das grandes canções do disco. Traz Eric Clapton arrasando na guitarra em uma melodia que trafega entre o rock sixtie, o progressivo, o blues e o soul. Já Desert Drive lembra os Beach Boys de ínicio de carreira.

A Friend Like You registra, para a posteridade, o primeiro dueto de um ex-Beatles com um ex-Beach Boys. Brian escreveu a música após encontrar Paul McCartney em um concerto beneficente. Tempos depois, Paul decidiu colocar sua voz na música. O velho Macca também tocou guitarra acústica na música. A Friend Like You é um bonito atestado de esperança e amizade, remetendo a algo dos Beatles na melodia, como se Brian quisesse homenagear o amigo. Os sixties ainda rendem lindas canções, como a suave Rainbow Eyes, a pop Saturday Morning in The City e a balada Don't Let Her Know She's Angel.

O duplo ao vivo Live At The Roxy Theatre traz trinta músicas que passeiam pelo extenso repertório de Brian Wilson, indo de clássicos da primeira fase dos Beach Boys (I Get Around, California Girls, Do It Again), passando pela fase psicodélica do grupo (Caroline No, God Only Knows, Good Vibrations) até canções de sua carreira solo (Love and Mercy). Em certo momento do show, Brian diz que irá cantar sua "canção favorita em todo o universo", dando a deixa para a bateria marcante da clássica Be My Baby, de Phil Spector, preencher o ambiente. A edição nacional de Live At The Roxy Theatre ainda tarz duas canções bônus que não estavam presentes na versão estrangeira do álbum: Help Me Rhonda e Wouldn't It Be Nice.

Smile, Gettin' In Over My Head e Live At The Roxy Theatre chegam as lojas brasileiras nesta semana.

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Site Oficial de Brian Wilson