Mogwai
por
Diego Fernandes
d13g0_freejazz@yahoo.com.br
Rock Action - Mogwai
(Trama)
O Mogwai é uma banda que me
arrisco a chamar de cool, e há tempos não me vejo em condições
de apontar uma banda dessa forma (mais especificamente, desde que ouvi
Queens Of The Stone Age pela primeira vez).
São sujeitos de fama precoce,
vindos de Glasgow, Escócia, cuja sonoridade é freqüentemente
classificada como "pós-rock", o gênero musical emergente mais
cool do momento. Como ficcionista amador, me vejo obrigado a admitir que,
sim, invejo esses putos por terem pensado em nomear canções
de maneira genial como "Mogwai Fear Satan", "Puff Daddy/Punk Rock/Antichrist",
"Dial: Revenge", "Take Me Somewhere Nice", e, principalmente, "You Don’t
Know Jesus". São títulos recheados de ironia cinematográfica,
que a seu modo delineam uma leve aura de paranóia contida, projetada
de maneira esperta o suficiente para a superfície de nossas crenças.
Analisando as coisas em perspectiva
(a maior parte de seus discos é essencialmente instrumental), são
pontos a favor. Todavia, existem bandas cool cujas músicas são
tão empolgantes quanto um joelhaço nas partes pudendas (Yo
La Tengo, Superchunk, e podemos incluir aí também cerca
de 75% do catálogo da Matador). Existem bandas que não são
exatamente cool e que no entanto fazem músicas que são embaraçosamente
boas (Swell, Cake, Foo Fighters, Weezer). Claro,
existem bandas que não são cool, não fazem música
cool, nem tampouco causariam comoção se fossem despachadas
para a superfície da Lua hoje mesmo (Oasis,
Coldplay,
Aerosmith, Linkin Park, Sum 41). E existe também o Creed, mas isso
já vai além do ponto.
Qualquer pessoa mais ou menos inteirada
com o currículo do Mogwai deve achar que o título de seu
terceiro álbum é algum tipo de piada, certo? Acertei? Bom,
se é, eu confesso que não entendi. Sou meio devagar. Mas
até aí tudo bem, porque ROCK ACTION também é.
Não propriamente um defeito, só um detalhe no panorama tenso
e detalhista composto pela banda. A abertura, "Sine Wave", é
boa, emoldurada em uma lenta – e caótica -- progressão de
acordes. Se descontarmos o fato de que passaria batida em um disco do Nine
Inch Nails, é um início perfeito. Boa, embora não
entregue de cara o clima do álbum. Já "Take Me Somewhere
Nice" é um passo adiante, o inevitável vocal sussurrado realmente
te leva "para algum lugar legal", tipo o pub incandescente do encarte.
"O I Sleep", a terceira, é uma vinhetinha contemplativa, parece
ter a mera função de preparar a cama para a música
seguinte. "Dial: Revenge!", é conduzida por um dedilhado folk, que
desabrocha em um vocal bucólico, a cargo de Gruff Rhys, do Super
Furry Animals, que transpira melancolia inna scottish way de maneira convincente.
'Dial' signfica vingança em galês, produzindo um jogo de palavras
curioso. Mal se tem tempo de enxugar as lágrimas, entra "You Don’t
Know Jesus". Dissonância, barulho meticuloso, uma boa pegada de bateria,
não é coincidência que seja a faixa central do disco:
é uma epifania -- você realmente conhece Jesus? "Robot Chant"
parece um sample recortado de um filme de ficção científica,
algo como a cópula de dois robôs em algum subnível
obscuro de um cargueiro estelar. "2 Rights Make 1 Wrong" é a que
mais se assemelha a uma canção otimista no disco: um murmúrio
distorcido, uma dinâmica pulsante coroada por um arranjo de cordas
belíssimo, daqueles de te fazer ensaiar uns passinhos sobre o assoalho
puído. "Secret Pint" é o prenúncio do fim, a melancolia
cai pesada novamente, piano, um crescendo orquestral, ritmo quase fúnebre,
me perdi, ME PERDI, a voz despedaçada, fim da jornada. Ou quase.
Pelo menos para nós, brasileiros, as luzes do bar só se apagam
com "Close Encounters" (faixa extra contida na edição nacional),
um som tocante, porém não mais e não menos do que
as outras músicas até aqui – um final apenas correto.
ROCK ACTION é o som de demônios
sendo moídos. Se querem uma definição do som da banda
(sempre querem), imagine uma banda interessada em produzir canções
que digam alguma coisa (ainda que sem palavras), livres de quaisquer amarras
ou formatos pré-concebidos. Nunca tinha ouvido um disco da
banda por inteiro. Eu poderia culpar a produção sempre-na-medida
de David Fridmann, mas o fato é que eu não estou a fim de
procurar motivos para ter gostado do disco. É uma semana de cão
se dissolvendo em algo inacreditavelmente bom. É algo para se escutar
no meio do campo, olhando uma árvore morta à beira de um
açude. Ou trancado em uma garagem bolorenta enquanto a chuva cai
após dias de mormaço (como eu fiz), e achar algo de belo
em estar sozinho.
Como diz aquela música
-- também cool – tudo parece em seu devido lugar. Mas não
está. O Mogwai é uma banda de fedelhos (caras da minha idade,
vinte e poucos -- bem poucos). Deveriam estar apostando seus cartuchos
em uma banda com repertório recheado de covers de Ramones ou Limp
Bizkit, não em um grupo cujo som por vezes lembra Pat Metheny Group.
Felizmente, em alguns momentos o sentimento se sobrepõe a atitudes
meramente dissimuladas. E, na maioria deles, dispensa palavras. |