"Quarteto Fantástico"
por Marcelo Miranda
Fotos - Divulgação

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12/07/2005

A recente onda de filmes de super-heróis vem fazendo sucesso não apenas pelo bom senso dos produtores em adaptar fielmente os personagens dos quadrinhos, mas por também inserirem no contexto de cada trabalho questões além da mera ficção. X-Men mostrava mutantes superpoderosos lidando com o preconceito numa sociedade futurista e racista. Homem-Aranha tinha na descoberta dos poderes aracnídeos de Peter Parker a metáfora perfeita para a adolescência – e na morte do tio, na posterior batalha com o pai do melhor amigo e na relação perigosa com a paixão de infância a idéia de amadurecimento. Hulk explicitava, pelos olhos e força de um monstro verde, a agonia do cientista que não pode controlar seus próprios experimentos, tendo ainda como grande tema o relacionamento tumultuado entre pais e filhos. Batman Begins coloca na tela o desenvolvimento mental e físico de um homem obcecado e obstinado, cujo único propósito, muito maior do que a vingança pelo assassinato dos pais, é limpar as ruas de Gotham City da marginália que a infesta, utilizando para tanto seus medos mais profundos.

Quarteto Fantástico não é exceção a estes exemplos. A maior ameaça enfrentada pelo grupo não é a vilania maniqueísta de Victor Von Doom, o Dr. Destino, mas a cultura da celebridade. Em tempos de pós-Big Brother elevando pessoas vazias e estúpidas a categorias de gênios, torna-se emblemático a chegada de um filme que traz - de subtema - exatamente essa necessidade do público em possuir seus heróis e querer saber e entender qualquer assunto relativo às suas vidas, por menos que elas tenham a oferecer. No caso de Quarteto Fantástico, apenas um personagem vê como positivo o assédio, e não à toa é exatamente o mais inconseqüente e infantil de todos. Johnny Storm, o Tocha Humana, acha o máximo receber tamanha atenção de quem ele não conhece. Para Reed Richards (o Sr. Fantástico) e Sue Storm (a Mulher-Invisível), é tudo puro aproveitamento. Ben Grimm, o Coisa, é o que mais sofre: é ele a figura chamativa, e sempre a mais "circense" e espetacular.

E mais emblemático ainda é perceber que, apesar de tocar em pontos de grande interesse neste assunto, Quarteto Fantástico não passa de uma aventura boba e ligeira, sem novidade alguma e, mais grave, totalmente desinteressante. Os fãs dos quadrinhos vão gostar com mais afinco que um espectador “comum”, menos pela qualidade cinematográfica do filme e mais pela pura e simples transposição à tela grande de criações clássicas e antológicas do mestre Stan Lee (autor das primeiras histórias do Quarteto, cuja revista original é publicada desde 1961). Se for para buscar algo de realmente positivo no filme dirigido por Tim Story (responsável por Táxi), sobram pouquíssimos elementos a serem destacados – se tanto.

Não parece haver um problema único. A falha da produção está no conjunto. Roteiro, direção, elenco, efeitos, tudo precário demais. Senão, vejamos: o enredo segue a estrutura mais usual deste tipo de trabalho, sem ao menos se preocupar com alguma lógica interna e levado por diálogos beirando a idiotice. Os acontecimentos se sucedem totalmente ao acaso, sem que nada se encaixe com coisa alguma. Não há uma verdadeira ameaça a ser enfrentada, inexiste um conflito, exceto as rixas entre dois antigos amigos (Reed e Victor). Mesmo a tendência à comédia não consegue fazer com que se deixe de lado a pura falta de rumo. Além disso, o filme contém a referência aos quadrinhos mais deslocada e despropositada dos últimos tempos: Alicia Masters, originalmente uma sensível artista plástica cega que se apaixona pelo Coisa, torna-se aqui, em rápida aparição, uma vulgar mulher de boteco que avança gratuitamente nas pedras de Ben Grimm. Lamentável.

A direção de Story não ajuda, com cortes totalmente sem sentido e (mal dos males!) falta quase absoluta de cuidado na transição de um plano a outro – pode parecer imperceptível, mas qualquer espectador médio sente que algo não funciona muito bem à medida que o filme caminha. Os atores, contaminados pela falta de tato de tudo que lhes está ao redor, simplesmente aparecem em cena, eliminando um mínimo contato com o público, necessário para que projetos como este funcionem. E os efeitos especiais, de especiais não têm nada, principalmente nos momentos em que Johnny Storm está com o corpo totalmente em chamas – o resultado não é muito melhor do que o Tocha Humana toscamente em 3D da "versão maldita" do Quarteto Fantástico, filmada em 1994 e jamais lançada por conta de sua ruindade trash.

E o que fica, então, que mereça algum comentário positivo? Talvez a beleza e sensualidade de Jessica Alba (mas ela está bem melhor em Sin City). Ou quem sabe o carisma e visual do Coisa, com boas sacadas herdadas dos quadrinhos. Ainda assim, Quarteto Fantástico não é tão ridículo quanto Mulher-Gato nem tão inócuo quanto Elektra, mas passa perto. Se os realizadores seguissem certos filmes anteriores e trouxessem mais à tona o papo da celebridade e exploração do sucesso alheio, mesclando isso à trama, ainda que de forma satírica, talvez o filme subisse de nível. Ou talvez não. Bastava ter trocado toda a equipe de produção por alguma mais competente.


Links
Site Oficial do filme O Quarteto Fantástico

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