"Má Educação",
Pedro Almodóvar
por
Marcelo Costa
Fotos - Divulgação
maccosta@hotmail.com
19/11/2004
Má
Educação, novo filme do genial cineasta espanhol Pedro Almodóvar,
exibe uma premissa bastante interessante: a de que vivemos em
um mundo que nos ensina a mentir. Em seus 105 minutos de duração,
Má Educação versa sobre o tema da premissa utilizando
como base travestis (que "mentem" a sexualidade), maus atores
(que fingem ser pessoas que não são) e, mais diretamente, um
padre que abusa sexualmente de um menino quando deveria orientar
religiosamente seu pupilo. Nos exemplos (e em outros, fragmentados
no roteiro) residem a verdadeira má educação.
Porém, é interessante lembrar de que de boas intenções o inferno está cheio. Assim, não basta uma premissa louvável para se ter, no caso do cinema, um bom filme. Não é o caso de Má Educação, um bom filme, no entanto, não dá para sair batendo palmas da sala escura. Primeiro porque o filme é denso, dark, noir e terrivelmente melancólico. A comiseração não merece aplausos, talvez respeito, no máximo admiração. Segundo: por mais que entrelace a história em diversas camadas, alternando presente e passado, Má Educação soa óbvio quando justamente deveria surpreender, mais precisamente quando o mistério é revelado e o espectador junta os cacos e, com a memória, tenta entender a verdade do todo.
Isso não quer dizer, de maneira alguma, que Má Educação seja uma obra irregular. Almodóvar constrói, com maestria, um roteiro que engloba fantasmas pessoais, polêmicas com grandes instituições e provocações sexuais, temas caros ao cineasta, aqui embalados pelo foco do que acontece atrás das lentes: o cineasta Enrique Goded (Fele Martinez) procura um ponto de partida para seu próximo filme, quando recebe a inesperada visita de Ignácio Rodriguez (Gael Garcia Bernal), uma antiga paixão de infância, época em que os dois estudaram no mesmo colégio católico e foram separados pelo padre Manolo (Daniel Giménez Cacho), que expulsou Enrique e abusou de Ignácio.
Enrique, Ignácio e o padre Manolo formam a tríade de angústias,
frustrações, vinganças e mentiras que dão vida e melancolia
para Má Educação. Gael encarna de forma inteligente "seus
personagens", mas seu grande papel no ano continua sendo o jovem
Che de Diários de Motocicleta. Em Má Educação
o ator é conduzido pelo roteiro, forte e devasso. Ignácio brinca
com Gael e Gael se adapta ao papel. O ator é proibido de descer
as profundezas de Ignácio, por isso reveste sua atuação de rascunhos.
Quando o filme acaba fica tudo mais perceptível, mas daí o filme
já acabou.
E acaba deixando o gosto de que falta alguma coisa, algum detalhe,
alguma luz. Ele traz ótimas cenas, uma premissa inteligente,
atuações excelentes e um grande roteiro, mas não impressiona
quando deveria impressionar, soando até óbvio. Para um roteiro
que veio sendo trabalhado, burilado, arrumado, escrito e reescrito
nos últimos doze anos, Má Educação não surpreende. Isso
tudo (escrito e argumentado) sem citar a genial e sublime trilogia
anterior composta por Carne Trêmula (97), Tudo Sobre
Minha Mãe (99) e Fale com Ela (02). Se como filme,
único, Má Educação parece padecer de falta de acabamento
(ou excesso), ele perde ainda mais se comparado com os três
anteriores. É só um bom filme, mas poderia ser melhor. Como?
Não tenho a mínima idéia, mas Almodóvar deve saber...
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Ballbe Boudou
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Site Oficial do filme
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