Três CDs: Chico Buarque, Caetano Veloso e Marcelo Nova

1000 toques por Marcelo Costa

“Chico”, Chico Buarque (Biscoito Fino)
Demorou, mas, aos 67 anos, Chico Buarque envelheceu. Ele já dava sintomas de um envelhecimento precoce desde seu primeiro álbum, em 1966, quando tinha apenas 22 anos e vestia-se de terno enquanto os tropicalistas piravam em cores. Ainda assim, Chico conseguiu driblar com destreza o passar dos anos, mas o tempo, implacável, o alcançou. “Chico”, sucessor do ótimo “Carioca” (2005), é um álbum contemplativo que pouca relação tem com o século 21 – devia, inclusive, ser lançado em vinil de 78 rotações. O compositor parece apaixonado (Aurora, Aurélia, Ariela, Thais?) e, feliz, canta – como se fosse um personagem de Machado de Assis (“Eu juro a vosmecê que nunca vi Sinhá”, “Trouxe um porrete a mó de me quebrar”, “Feito avarento conto os meus minutos”) – pequenos números de bom gosto indicados para senhoras de classe média ouvir enquanto suas empregadas (ansiosas pelo baile funk) preparam o chá das comadres. Afundado em nostalgia, Chico ainda fala em Garrincha e Cartola, mas o mundo lá fora mudou. Provavelmente, ele não fez questão de perceber. Anões de jardim são mais sensíveis.

Nota: 6
Preço em média:R$ 30

Leia também:
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– Chico Buarque ao vivo no Tom Brasil, 2006, por Marcelo Costa (aqui)
– “Carioca ao Vivo”: roteiro certeiro, show bonito, por Marcelo Costa (aqui)
– Entrevista: batendo uma bola com Chico Buarque, por Daniel Cariello e Thiago Araújo (aqui)

“Multishow ao Vivo”, Caetano Veloso e Maria Gadú (Universal)
Não é a primeira vez que Caetano flerta com o mau gosto (“Narciso acha feio o que não é espelho”?), mas talvez seja este o momento mais desprovido de provocação de sua carreira. Há mais que charme em Odair e Peninha (com o primeiro ele cantou “Vou Tirar Você Desse Lugar” no Phono 73 e o segundo lhe deu uma vendagem recorde, cortesia da bela versão de “Sozinho” em 1998) e também havia uma barreira que separava o que uns chamavam de culto daquilo que outros diziam ser popular. Essa barreira ficou para trás (como prova Cidadão Instigado, Curumin, Arnaldo Antunes e Kassin), mas Caetano ainda busca usar o vulgar como provocação (por vício seu ou necessidade da indústria, sabe-se lá). Tomado como canção, “Multishow ao Vivo” tem momentos de deleite prático (Caetano cantando hinos do calibre de “Vaca Profana”, “Beleza Pura”, “O Quereres”, “Nosso Estranho Amor”, “Desde Que o Samba é Samba” e “Alegria, Alegria”, entre muitos outros ao violão) devorados pela teoria da provocação – diluída tal qual efervescente em copo da água. Já foi mais difícil engolir Caetano…

Nota: 5
Preço em média: R$ 35 (CD Duplo), R$ 35 (DVD) e R$ 70 (Blu-Ray)

Leia também
– Caetano Veloso ao vivo em São Paulo, 2009, por Marcelo Costa (aqui)
– Caetano Veloso não acredita em lágrimas, por Vladimir Cunha (aqui)
– Caetano Veloso ao vivo em São Paulo, 2004, por Marcelo Costa (aqui)
– A estética rock nem é o grande trunfo de “Cê”, por Marcelo Costa (aqui)
– Melhores do Ano Scream & Yell 2006: “Cê”, de Caetano, Melhor Disco (aqui)

“Hoje”, Marcelo Nova (Unimar)
A galera começa a entoar “Bota Pra Fuder” e Marcelo Nova, 60 anos, se emociona e devolve: “Esse é o meu grito”. Festejando 30 anos de carreira, Nova registrou um show em Goiânia que resume sua persona musical. De clássicos incontestes do Camisa de Vênus (“Hoje”, “Simca Chambord” e “Eu Não Mater Joana D’Arc”) passando por suas parcerias com Raul Seixas (“Carpinteiro do Universo”, “Rock and Roll” e “Pastor João e a Igreja Invisível”) até flagras de sua carreira solo, “Hoje” destaca algumas das canções mais emblemáticas de Marcelo Nova, coisas como “Quando Eu Morri” (aqui em versão estendida de 12 minutos), “A Ferro e Fogo” (cuja sensacional versão original, do álbum “Correndo o Risco”, do Camisa, era acompanhada de orquestra) e a matadora “A Balada do Perdedor”, em que Nova encarna um Bob Dylan às avessas parado na porta do paraíso (mas sem vontade de entrar). O formato quadrado do rock and roll (Drake Nova, filho de Marcelo, sola o tempo todo) elimina as nuances de algumas dessas canções, mas ainda assim elas parecem pequenas pepitas de ouro jogadas na lama.

Nota: 6,5
Preço em média: R$ 20 (CD Duplo) e R$ 25 (DVD)

Leia também
– Entrevista: Marcelo Nova conversa com Scream & Yell, por Marcelo Costa (aqui)
– “O Galope do Tempo”: um disco autobiográfico e existencialista de Nova (aqui)
– Marcelo Nova ao vivo no Teatro do Sesi, 2002, por Marcelo Costa (aqui)
– Eric Burdon grava músicas de Marcelo Nova, por Marcelo Costa (aqui)
– Camisa de Vênus se reúne após sete anos separados, por Marcelo Costa (aqui)
= Marcelo Nova e Clemente dividem palco punk em SP, por Marcelo Costa (aqui)

 

 

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9 thoughts on “Três CDs: Chico Buarque, Caetano Veloso e Marcelo Nova

  1. – pequenos números de bom gosto indicados para senhoras de classe média ouvir enquanto suas empregadas (ansiosas pelo baile funk) preparam o chá das comadres.
    Matou a pau! rsrsrsrsr
    Chico pra mim é gênio. Mas, como vc bem disse, é um artista do século passado.
    Vai contra a minha filosofia ouvir um disco novo do Chico em pleno 2011.
    Prefiro ouvir “Pedro Pedreiro” “Umas e Outras” “Paratodos”…
    Já seu avesso, o Caetano. Esse cara deve ser muito carente, ao contrário dos morcegos ele adora um holofote.
    Quanto a Marceleza, acho sua carreira solo bem superior as bobagens(claro que tem exceções) do Camisa.
    A Balada do Perdedor é mesmo uma puta música.
    Valeu!

    PS: Acho a voz da Gadú bonita, mas seu jeitão meio débil mental não me desce.
    E com a Som Livre empurrando pior ainda. heheh

  2. Nossa MAC essa análise do cd do Chico (que eu ainda não escutei, apesar de gostar MUITO) é um murro na boca do estômago, bicho, tá tão ruim assim? Ri pracaralho da parte da empregada ansiosa pelo baile funk.

    Fico pensando que se o Chico mudasse talvez a análise seria:

    “Chico , o último representante da MPB de qualidade mudou seu estilo e sua música contemporânea apesar de bem tocada não agrada, saudades do Chico de samambaia (que chamo vulgarmente assim) e de meus caros amigos”.

    hehehe não tem jeito, se ficar o bicho pega se correr o bicho come

  3. Comprei o dvd ‘Hoje No Bolshoi’ de Marcelo Nova na Fnac e não consigo parar de ver!!!
    Marcelo mostra em duas horas porque êle é a maior expressão do rock feito no Brasil . Desde classicos como Só O Fim, Cocaina, Carpinteiro Do Universo e inéditas O Mundo Está Encolhendo e O Odio Da Mão Que Afaga inclui uma versão matadora de Quando Eu Morri de tirar o fôlego de qualquer um. Caetano pode ser nota 5 , Chico pode ser nota 6 mas Marcelo Nova é nota 10…..

  4. parabéns pela crítica do chico, um único parágrafo sintetizando uma crítica que faz todo sentido, gostei!

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