por Tiago Trigo
Indicado ao Oscar de melhor figurino neste ano, “Um Sonho de Amor” (“Io sono l’amore”, 2009) é uma produção italiana dirigida por Luca Guadagnino, que tem carreira prolífica em documentários. Este é o terceiro longa-metragem de ficção do jovem diretor, que planejou este filme por uma década com a parceira e sócia Tilda Swinton. Eles estiveram juntos em “The Protagonists”, de 1999, realizaram um documentário em 2002 e têm uma produtora.
Desta vez a atriz inglesa interpreta Emma, mãe de família tradicional e rica que vive em Milão, na Itália. Russa, era jovem quando conheceu Tancredi (Pippo Delbono), o marido, que visitava seu país a trabalho. Foi levada para a Itália, aprendeu a língua local e nunca mais voltou. É a típica dona de casa exemplar de família rica, que coordena sua vasta equipe de empregados para que tudo saia perfeito para o marido e os três filhos.
O filme começa com um jantar especial para comemorar o aniversário do patriarca Edoardo (sogro de Emma, interpretado por Gabriele Ferzetti). Ele aproveita a ocasião para anunciar que está se aposentando e passa o comando dos negócios da família para o filho e o neto, também Edoardo (Flavio Parenti). A decisão desagrada aos mais velhos, inclusive o próprio Tancredi, que não quer dividir as decisões com o filho, a quem julga despreparado.
Existe um clima de competição o tempo todo no ar, em que fica claro que nem uma derrota esportiva do neto é perdoada pelo todo poderoso avô, que exige a perfeição da família em tudo. As aparências contam muito. A tensão sobre as mudanças nos negócios funciona como pano de fundo ao longo de todo o filme para o grande conflito de Emma, a protagonista, que parece pouco interessada naquele ambiente claustrofóbico. A personagem até demonstra, discretamente, motivação para fazer o que fará. Mas a partir daí tudo acontece com muita velocidade.
Após o tal jantar, Edoardo (o neto) recebe a inocente e inesperada visita de seu melhor amigo, o cozinheiro Antonio (Edoardo Gabbriellini), que acaba abalando Emma. O intruso, que apareceu sem ser convidado, provoca algo na mãe do amigo e a desperta para a vida. Colocando em risco seu casamento, Emma deseja o amigo do seu filho, mas não parece pensar duas vezes no que deve fazer, o que seria natural para uma personagem inserida em um contexto familiar tão tradicional e careta. Afinal ela tem consciência de que ser descoberta significa explodir uma bomba no seio familiar. A ausência de dúvida e a velocidade nas ações da protagonista são questões de roteiro que incomodam, além da pergunta que fica no ar: como a mãe não conhecia o melhor amigo de um dos filhos, já que mora com ele?
As duas tensões correm em paralelo quase o tempo todo: a atração de Emma por Antonio (há uma cena plasticamente muito bonita entre os dois) e o rumo dos negócios familiares. Sem dar a menor atenção à mulher, Tancredi se concentra na venda das indústrias para estrangeiros, à revelia do jovem Edoardo, que tem uma visão romântica e acaba excluído pelo pai do centro de decisões. Ele pensa em se casar e montar um restaurante com o melhor amigo. Os planos de sociedade do filho são a desculpa que Emma precisa para se aproximar ainda mais do homem que deseja.
As tensões se encontram perto do final, quando há o clímax, extremamente dramático e um pouco exagerado, principalmente pela trilha sonora, que tenta dar um tom catártico. De qualquer forma, o exagero de tinta da última parte não estraga totalmente o filme, já que o dilema de jogar (ou não) tudo para o alto em busca da felicidade é inerente ao ser humano, o que torna fácil a identificação do espectador com a protagonista.