entrevista de Luiz Mazetto
Desde a sua criação em 2019 por Chris Spencer e Jim Coleman, o Human Impact já chama a atenção. E não apenas por inicialmente contar com integrantes que tocam ou já tocaram em bandas icônicas de Nova York como Unsane, Cop Shoot Cop e Swans, mas por terem lançado um dos melhores discos daquele já longínquo ano, que parece ter ficado em outro século depois de tudo que aconteceu de 2020 para cá.
De lá para cá, a banda lançou mais alguns EPs e passou por mudanças importantes em sua formação. Chris e Jim continuam à frente da guitarra / vocal e teclado / samplers, respectivamente, mas agora ganharam a companhia do baterista Jon Syverson (ex-Daughters), e do baixista Eric Cooper (ex-Made Out of Babies), que também tocam com Chris na nova versão do Unsane e substituem no Human Impact a dupla Phil Puleo e Chris Pravdica, que antes tocava no Swans ao lado de Michael Gira.
Lançado no início de outubro, mais uma vez pela Ipecac Recordings, o segundo full da banda, “Gone Dark”, consolida o quarteto como um dos principais nomes de noise rock/metal da atualidade. Com um som mais “vivo” e pesado do que nos trabalhos anteriores, o grupo entrega um dos melhores álbuns de 2024.
Na entrevista abaixo, Chris fala sobre o novo disco do Human Impact e como foi sua gravação no Texas, explica a mudança de formação na banda, comenta sobre a fase atual do Unsane e relembra um pouco sobre o início de carreira com o grupo na efervescente cena de Nova York dos anos 1980, além de revelar como conheceu Derrick Green antes do vocalista entrar para o Sepultura. Confira a seguir!
Você viveu muitos anos em Nova York e agora está na Califórnia. E os outros integrantes do Human Impact vivem em diferentes lugares do país também, certo?
Sim, estamos em todos os lados. O Jim (Coleman, efeitos e sintetizadores, ex-Cop Shoot Cop) vive em Savannah, na Georgia, O Jon (Syverson, baterista, ex-Daughters) está no Maine e o (Eric) Cooper (baixista, ex-Made Out of Babies) em Austin, no Texas. Então nós estamos em todas as diferentes costas, em todos os lugares.
E como é isso para você? Porque você esteve com o Unsane em Nova York por décadas, como uma “unidade fechada”, digamos. O quanto é diferente agora para você ter uma banda que fica espalhada por todo o país?
Bem, uma coisa com o Unsane é que estávamos tendo problemas para nos encontrarmos com a banda nos últimos tempos porque o Vinny (Signorelli), nosso baterista, se mudou para o México. E o Dave (Curran), nosso baixista, mudou-se para a Itália. Então eram três países diferentes (risos). Foi realmente como “Oh meu Deus”. E então você tinha que juntar todo mundo para conseguir tocar. Era apenas ridículo.
E essa foi uma das razões que fez você querer seguir com diferentes projetos?
Bom, eu e o Jim Coleman somos bons amigos há muito tempo. Seguimos caminhos separados por um período, fazendo muitas turnês. O Jim tocava em uma banda chamada Cop Shoot Cop (nota: clássica banda noise de Nova York dos anos 1980/90), então eles também estavam em turnê, nós não nos víamos, e os anos se passaram, mas eu e Jim somos amigos desde antes de estarmos nessas bandas. E eu sempre quis ter uma banda com ele. Para mim, ele é uma espécie de gênio. Quando o Cop Shoot Cop acabou e o Unsane ainda estava tocando, cheguei a tentar colocar o Jim na banda, por volta de 1997. Mas os outros caras apenas disseram “Não, não”. Nós estávamos trabalhando pra cacete, fazendo turnês o tempo todo. Então era algo que poderia atrasar um pouco a nossa agenda, de qualquer maneira. Mas eu sempre quis estar em uma banda com o Jim. Ele foi ver um show do Unsane no Saint Vitus, no Brooklyn, em 2017 e veio falar comigo, algo como “Ei, não nos vemos há algum tempo. Você quer escrever algumas músicas comigo?”, e eu fiquei, tipo “Sim, claro”. Então quando eu terminei aquela turnê, nós começamos a enviar ideias um para o outro e a meio que escrever algumas coisas juntos. Então o Phil Puleo e o Chris Pravica, do Swans – aliás, o Phil também tocou no Cop Shoot Cop – ficaram disponíveis de repente, porque o Michael Gira, líder do Swans, decidiu que queria uma nova formação para a banda. E o Jim, que mantinha contato com eles, disse “Ei, temos um baixista e um baterista” e eu também os conhecia há bastante tempo. Começamos a tocar essas músicas com eles, fizemos um monte de coisas, lançamos o disco e aí a pandemia aconteceu e encerrou tudo. Tínhamos três ou quatro turnês para fazer, todos os tipos de coisas e de repente nada disso estava acontecendo. E a pandemia durou mais do que qualquer um pensava. As turnês foram adiadas, adiadas mais uma vez e depois canceladas. Fizemos uma turnê pelo meio oeste dos EUA no meio do inverno e então veio a Ômicron, aquela variante da Covid. Então você estava no meio do inverno, com a Ômicron circulando, todo mundo usando máscaras nos shows, todo mundo ficando doente, incluindo o Jim. Então tivemos uma turnê europeia depois que tudo meio que voltou a abrir, mas a Covid ainda estava por aí e o Jim ficou doente, provavelmente no segundo terço da turnê e acabamos tendo que cancelar 6 shows no final da turnê porque o Jim estava muito doente. Então, de qualquer forma, me desculpe pela longa história, mas em um nível muito básico, eu sempre quis tocar em uma banda com o Jim e a Ipecac estava disposta a lançar todas as coisas que fizemos.
Neste novo disco do Human Impact, você tem o Eric (Cooper) no baixo e Jon (Syverson) na bateria, que também tocaram recentemente com você numa “nova versão” do Unsane em que vocês fizeram shows focados apenas nos primeiros materiais da banda.
Sim! Durante a pandemia, eu, o Jon e o Cooper começamos a tocar. E o meu empresário do Unsane conseguiu de volta os direitos de todas as coisas, todas as músicas. Então ficamos pensando “Ok, vamos relançar as primeiras coisas”. E eu encontrei o Jon e o Cooper depois de um ensaio e falei “Por que não tocamos as primeiras coisas do Unsane e talvez a gente possa sair para fazer alguns shows?”. Mas isso acabou sendo como três ou quatro turnês (risos). Nós fizemos um show e, de repente, foi como se todas essas pessoas quisessem que fôssemos tocar essas músicas para elas. Então fizemos isso. E aí surgiu a turnê do Human Impact na Europa e eu apenas disse a esses caras, porque somos realmente bons amigos: “Ei, nos ajudem aí fazendo a turnê do Human Impact”. Então eles fizeram os shows e, obviamente, você sabe, depois foi algo como “Ei, pessoal, vamos fazer um novo disco de Human Impact”. Porque já fazia um tempo, durante a pandemia nós meio que ficamos “Uh, que porra é essa?”. Aí eu comecei a fazer as coisas com o Unsane e depois voltei ao Human Impact.
E como essa nova formação influenciou vocês neste álbum? Porque o primeiro disco é um pouco mais industrial, atmosférico, enquanto esse novo é um pouco mais pesado. É como uma mistura dos últimos discos do Unsane com a atmosfera que o Jim traz para as músicas, mas vocês também têm algumas melodias. E o Jon é um baterista que toca muito pesado, meio no estilo do John Bonham. Por isso, queria saber como essa formação nova da banda o influenciou para escrever essas músicas?
Esse disco foi escrito de maneira muito diferente dos lançamentos anteriores da banda (que incluem um full de estreia e alguns EPs). Os anteriores eram como eu e o Jim enviando ideias um para o outro e tudo isso, e então nos reuníamos por duas semanas, ensaiávamos por tipo uma semana com as novas músicas e depois íamos para o estúdio para gravar por uma semana. Já neste disco eu toquei bastante com o Jon e o Cooper. Os dois estavam em Austin, Texas, na época em que o Jon se mudou. Eu estava muito por lá, eu tenho uma cabana na floresta no meio do nada no pântano que posso ir de vez em quando. Mas então eu, o Jon e o Cooper tocávamos muito. E nós fizemos várias turnês juntos e tocamos ao vivo o tempo todo. Então, com este disco nós queríamos fazer mais como uma versão ao vivo. No primeiro disco as ideias eram enviadas entre nós, mas neste disco nós estávamos na mesma sala escrevendo e trabalhando em ideias juntos ao vivo. E isso obviamente é muito mais propício para um disco que tenha esse som mais “ao vivo”. Acho que isso realmente ajudou a trazer algo diferente, isso apenas torna tudo mais poderoso. Todo mundo tem tempo para elaborar suas ideias e realmente desenvolver elas. Para mim, é muito melhor do que ficar juntos por uma semana e depois gravar. Desta forma, ficamos trabalhando por alguns meses e apenas tocando por diversão. Então, quando chega a hora de gravar, todo mundo sabe exatamente o que quer fazer. O Jon é um baterista incrível, o Cooper é um ótimo baixista. E, como eu disse, somos todos bons amigos. Eu, Jim, Coop e Jon. Então, você pode realmente sentir isso. Eu acho que somos todos próximos como amigos e também musicalmente.
Bem, você sabe, além do nome da banda, é claro, esse novo disco tem algumas músicas com títulos como “Collapse”, “Lost All Trust”, “Reform” e “Destroy to Rebuild”. Eles têm todos, é claro, uma visão muito pessimista e sombria sobre o estado do mundo atualmente. Houve algo especificamente que o influenciou a escrever essas letras nesses últimos quatro anos de caos no mundo e nos EUA?
Estou apenas escrevendo sobre as merdas que eu vejo ao meu redor e o que eu penso sobre isso. Sinto que todo esse sistema é meio frágil e potencialmente qualquer um como…Por exemplo, agora, se você quisesse realmente foder com o sistema e talvez ser um revolucionário, alguma coisa, você teria mais sorte sendo um hacker do que você teria sendo um louco armado (risos). Sabe o que quero dizer? É só que o mundo realmente mudou. E eu realmente apenas escrevi mais sobre o que eu vejo, mais sobre todos nós como humanidade e menos sobre eu e meus problemas estúpidos. É mais uma visão maior. Há coisas em que eu posso dizer o que sinto apenas como um indivíduo, mas em um nível maior, eu acho que realmente abordei dessa maneira, olhando para as coisas em uma escala mais ampla.
E como foi para você, porque além de ensaiar, você também gravou este álbum em Austin. Já estive em Austin uma vez e é uma cidade muito diferente de Nova York, obviamente, muito bonita e cheia de natureza. O quanto foi diferente para você estar neste ambiente depois de tantos anos em Nova York para criar música?
Eu não sei, eu passei muito tempo viajando, obviamente, fazendo turnês e todas essas coisas. Honestamente, desde o início com o Unsane, uma vez que começamos a fazer turnês sem parar, nós fazíamos 10 meses de turnê ao ano por vários anos. E você não está em Nova York o tempo todo. Tipo, essa é a sua casa, você vai para casa e é o mesmo lugar ferrado. Mas Nova York também mudou. Agora eu volto para Nova York e fico tipo “Uau, cara, este lugar é quase como um…foi esterilizado até certo ponto, é muito amigável ao consumidor”. Então Nova York mudou. Mas gravar em Austin foi ótimo. Gravamos em um estúdio chamado Cedar Creek, que é legal. Fica na parte central de Austin, mas eles realmente têm um grande prédio feito de madeira. Quando você grava, tudo possui um som muito cheio. E madeira é muito melhor do que ladrilhos de som. Isso realmente adiciona um calor a todo o som. Como o estúdio fica em Austin e Austin é um centro musical desde sempre, eles têm uma tonelada de equipamentos incríveis, equipamentos vintage no Cedar Creek. E era um lugar muito bom. Tínhamos uma coisa em que estávamos tentando fazer tudo analógico para obter o som da fita também, mas o deck de fita quebrou depois de um dia. Então, nós apenas mudamos para o digital, mas estava tudo bem. Acabou saindo tudo bem, porque Andrew Schneider, o cara que gravou o álbum, é muito, muito inteligente com tudo isso. Você sabe que ele vai pegar as coisas e fazer um reamp com elas. Tipo, pegar a trilha e colocar em um amplificador. Ele tem muitos truques que usa para fazer as coisas soarem realmente cheias e pesadas.
Austin também é conhecida por sua cena punk clássica nos anos 1980, como MDC, The Dicks e Big Boys. Quando estava crescendo e começando o Unsane, você conhecia e curtia essas bandas?
A cena de Austin? Não, honestamente eu realmente não sabia muito sobre isso. Quer dizer, eu conhecia essas bandas, obviamente, mas apenas em um nível maior, em que você ouvia sobre elas em Nova York. Mas não, eu estava meio que tentando tocar no CBGB em Nova York. Nós começamos lá em uma noite de segunda-feira. Então era mais sobre a cena de Nova York definitivamente. Eu não estava realmente exposto às bandas de Austin. Austin era um lugar incrível para tocar e também uma cidade muito legal. Musicalmente eu conhecia essas bandas e tinha ouvido um pouco, mas não era tão próximo delas quanto talvez de coisas como Sonic Youth ou algo assim.
E de quais bandas vocês eram mais próximos em Nova York naquela época, além do Swans e do Cop Shoot Cop, por exemplo?
Pussy Galore, Sonic Youth e bandas como Railroad Jerk, Reverb Motherfuckers, que não são muito conhecidas pelas pessoas. Você tinha meio que uma cena grande lá e também vinham bandas de outras cidades, como o Mudhoney, o Nirvana ou algo assim, e elas tocavam nos mesmos lugares de merda que a gente – como o CBGB ou o The Pyramid. E, na verdade, algumas vezes eles pediam nosso equipamento emprestado, porque a cena era pequena a esse ponto (risos). Toda a cena estava dentro de um raio de cerca de 10 quarteirões, talvez 20, sabe? Mas todos nós nos conhecíamos, sabe? E nós dividíamos um espaço de ensaio com o Pussy Galore, que era uma banda em que o Jon Spencer tocava.
E você disse que começou a tocar no CBGB nas noites de segunda-feira. Este era o pior dia que você poderia ter, eu imagino. Era assim mesmo?
Ah, era o pior dia. Sim, nós começamos nas noites de audição, que eram às segundas-feiras. E basicamente não tinha ninguém lá e você tocava bem rápido, você fazia o seu set, e então quem quer que estivesse trabalhando – como o Hilly (Kristal, fundador da casa de shows) ou a filha dele, a Lisa – tinha que escrever um pequeno parágrafo sobre cada banda. Estranhamente eles escreveram um parágrafo muito bom sobre nós. E então eles nos deram uma vaga às terças-feiras, depois às quartas-feiras, quintas-feiras e sextas-feiras. E nós tocamos lá tantas vezes que fechamos o círculo. No final da turnê, tocamos lá em uma segunda-feira à noite, que seria a noite de audição, mas na verdade o Unsane era a atração principal e os ingressos esgotaram. Então foi como se tivéssemos feito um círculo completo de segunda à segunda-feira e passado por todos os outros dias da semana para chegar lá. Mas, no final, nós finalmente chegamos lá.
Aliás, eu vi alguns vídeos de vocês tocando lá no CBGB no fim dos anos 1980, início dos 1990 e você usava sua Telecaster, que virou uma marca registrada. Você sempre imaginou seus sons com essa guitarra, sempre pensou nela como uma guitarra para esse tipo de som mais punk, noise? Porque normalmente as pessoas não imaginem ou pensam na Telecaster como uma guitarra para esse tipo de som.
Sim, ninguém nunca pensa. No começo, as pessoas ficavam tipo “Oh, meu Deus, como essa guitarra soa tão pesada?”.
E teve alguma banda ou artista que te influenciaram nesse sentido? Porque você criou um som específico de noise rock, que foi seguido por muita gente nas últimas décadas. Havia algo em especial que você estava procurando quando começou?
Mais o meu gosto pessoal. Eu sempre pensei que parte disso era não copiar ninguém, mas fazer o que você quer, tipo como eu gostaria que o som fosse e como eu queria que essa música soasse e outras coisas. E, ao longo do caminho, você recebe ajuda, de pessoas como o Andrew Schneider. Quando eles gravam essas coisas, eles sabem o que eu estou procurando. Mas sim, então não há realmente alguém que tenha me influenciado ou que tenha me feito querer tocar dessa maneira. Era apenas meio como eu gostaria que soasse.
Você agora você tem a sua própria gravadora (Lamb Unlimited), com a qual está relançando os primeiros trabalhos do Unsane. Por isso, queria saber como foi lançar de verdade em 2021 o primeiro disco da banda, “Improvised Munitions”, que acabou não saindo originalmente no fim dos anos 1980 por problemas com a gravadora quando o disco já estava pronto.
Foi ótimo. Foi muito divertido porque eu era realmente quase uma criança. Bom, uma criança não, mas eu tinha 18, 19 anos quando escrevi essas músicas, Então, poder voltar e escutá-las, é por isso que eu meio que comecei a tocá-las, porque as ouvi e fiquei tipo “Ah, meu Deus, isso era tão divertido”. É muito divertido tocar essas músicas porque, novamente, é algo que eu realmente queria que soasse assim e realmente tentei levar para onde eu queria. Então, poder voltar e revisitar o material foi incrível, muito divertido. E eu queria tocar ao vivo. É por isso que saímos em turnê com o Jon e o Cooper. Porque eles tocaram essas músicas tão bem, acho até que eles tocaram melhor do que a gente tocava na época. Eu odeio dizer isso, mas eles tocaram tão bem e foi tão divertido que eu fiquei tipo “Nós temos que fazer isso, vamos fazer isso”. Então, sim, para responder à sua pergunta: foi incrível. E acho que liricamente talvez eu tenha me desenvolvido muito ao longo dos anos a partir dessas primeiras coisas, porque eu nunca quis ser um vocalista. Eu era um guitarrista, mas alguém tinha que cantar, então eu meio que assumi esse posto. Mas acho que me desenvolvi. E, ao mesmo tempo, poder ouvir de novo aquele disco inicial que não havia sido lançado foi ótimo.
Falando em discos e gravadoras, você mencionou que a Ipecac estava disposta a lançar os discos do Human Impact desde que você começou a banda. Há quanto tempo você conhece o Mike Patton e o Greg Werckman da gravadora?
Na época que o “Visqueen” foi lançado, acho que uns seis meses antes disso, nós estávamos tocando em um festival na Bélgica e o Fantômas também ia tocar em um outro palco. Eu conheço o Buzz Osborne, do Melvins (que também tocava no Fantômas com Mike Patton), então eu estava conversando com ele e o Mike Patton estava sentado lá. Estávamos apenas sentados em uma mesa do lado de fora, meio que comendo e apenas curtindo. E o Mike meio que se inclinou e ficou tipo “Ei Chris, o Unsane gostaria de lançar um disco?”. Então começou aí, mas não lembro exatamente quando o “Visqueen” foi lançado (nota: o disco saiu em 2007). Mas eu meio que os conheço desde então, e a Ipecac sempre foi uma gravadora muito boa para se trabalhar. O Greg Werckman e o Marc Schapiro também dirigem a gravadora. Eles meio que fazem o trabalho pesado, as principais coisas para o Mike. Então eu lido com eles e eles são todos muito legais, muito bons. Eles são realmente legais, se o disco gerou algum dinheiro, eles simplesmente enviam direto para você. Você não precisa ir atrás deles para ver qual é a sua contabilidade. Tipo, eu não vou mencionar quem fez isso, mas houve outras gravadoras que foi algo como “Ei, pessoal, o que está acontecendo?”. E então eles falam “Oh sim, acho que vocês ganharam algum dinheiro”. E você fica tipo “Ah cara, qual é?”. A Ipecac é como se fosse uma versão maior da Amphetamine Reptile, do Tom Hazelmeyer, que é muito legal. Eles estão sempre no ponto em tudo: distribuição, divulgação, pagamento das bandas. E tudo é feito com um aperto de mãos, você nem precisa de um contrato, todo mundo é honesto. O que é muito melhor, porque na indústria da música há muitas pessoas que só querem ferrar as bandas.
Além do Human Impact, em que toca com pessoas de diferentes bandas como Cop Shoot Cop, Daughters e Made Out of Babies, você também já tocou em outras bandas como Celan, com o Niko, do Oxbow, e já teve um projeto com o Steve Austin, do Today is the Day. Há mais alguém com quem você gostaria de colaborar e que ainda não conseguiu gravar?
Obviamente seria divertido fazer algo com o Buzz (risos). Mas não sei. Com o Steve Austin, por exemplo, foi como se… bom, ele tem um estúdio em casa. Então eu falei algo como “Ei cara, vou até aí e vamos escrever algumas coisas e fazer algo”. E as coisas com o Celan, eu conheci um cara chamado Ari Benjamin Meyers, que toca teclados, sintetizadores e coisas assim. Ele tocou por um tempo no Einstürzende Neubauten, então ele tinha conexões para entrar no estúdio deles em Berlim. Então foi parecido com o lance do Steve Austin. Foi como “Ok Ari, vamos nos reunir e gravar a porra de um disco no estúdio dos Neubauten”. O que foi incrível, foi tão divertido. Então, esses são apenas projetos que eu faço com meus amigos apenas porque é algo que eu adoraria fazer, mas eu realmente não consigo pensar em outras pessoas, é difícil dizer. É basicamente quando surge a oportunidade de fazer algo. Porque você não pode forçar para fazer algo se não for para acontecer de forma orgânica.
Como eu sou do Brasil, eu queria saber se você conhece alguma banda ou artista brasileiro.
O meu amigo Derrick (Green) que canta no Sepultura (risos). Eu o conhecia quando ele costumava trabalhar como segurança em um bar em Nova York, eu o via o tempo todo, com os dreads grandes e tudo mais. Mas ele é apenas um velho amigo. Então com certeza o Sepultura e sei que eles são certamente uma das maiores bandas daí. Mas essa é a minha formação em rock brasileiro, é um pouco limitada.
Me diga três discos que mudaram sua vida e por que eles fizeram isso.
Eu diria o “Generic Flipper” (1982), do Flipper, o “Raw Power” (1973), do Stooges, e o “Junkyard” (1982), do Birthday Party.
Uau, ótima lista!
Ah, é? Eu não sei (risos). Porque eles são discos muito crus, implacáveis e realmente originais em termos musicais para a época deles. Para mim, isso é o que você deveria fazer sempre na música. Ou seja, fazer algo que você curta, não o que outra pessoa fez. Fazer o seu próprio lance, em vez de tentar ser outra pessoa, que é algo que infelizmente muita gente faz.
Bem, esta é a última pergunta. Você basicamente criou esse subgênero de noise rock com o Unsane, tocou com muitos amigos em projetos realmente ótimos e agora está lançando o segundo disco com o Human Impact. Então eu queria saber do que você mais se orgulha em sua carreira?
Uau. De certa forma, em um nível geral, eu diria que tenho orgulho de ter feito o que queria fazer e de ter sido capaz de fazer exatamente o que eu buscava. Assim, em um nível de décadas, eu pude fazer exatamente o que eu queria e, de alguma forma, tudo deu certo. Então essa seria a coisa da qual tenho mais orgulho. Fora isso, eu realmente gosto de poder trabalhar com meus amigos e todas essas pessoas diferentes e outras coisas e fazer todos esses projetos e ter a liberdade de fazer isso como músico. Então é isso aí. Eu acho que isso realmente resume tudo. Eu poderia dizer pequenas coisas específicas como este show, aquele show ou algo assim. Mas realmente acho que em um nível geral é realmente apenas fazer o que você ama e poder fazer isso, não de forma bem-sucedida, mas de forma underground. Eu nunca quis estar em uma banda grande, acho que isso envolve muita pressão e muita estupidez comercial (risos). Então eu prefiro ser mais puro e menor, em uma banda menor.
– Luiz Mazetto é autor dos livros “Nós Somos a Tempestade – Conversas Sobre o Metal Alternativo dos EUA” e “Nós Somos a Tempestade, Vol 2 – Conversas Sobre o Metal Alternativo pelo Mundo”, ambos pela Edições Ideal. Também colabora coma a Vice Brasil, o CVLT Nation e a Loud!