Três perguntas: Renata Swoboda fala sobre seu novo single e clipe, “Meu Dengo”

introdução por Diego Albuquerque
Faixa a faixa por Renata Swoboda

Renata Swoboda é uma cantora e compositora catarinense com larga experiência e muitas histórias para contar. Suas primeiras músicas surgiram enquanto aprendia os primeiros acordes do violão. Quando criança, sua família se mudou para os Estados Unidos e lá Renata absorveu o soul e o grunge, grandes influências para seu som.

Renata tem algumas experiências expressivas para contar: seu primeiro videoclipe, “De Quando”, ganhou destaque na programação da saudosa MTV levando-a logo a pisar em palcos cariocas como revelação da Nova MPB da época no Festival Oi Levada. Na sequência, Renata convidada para abrir os shows de nomes como Gal Costa, Simone, Angela Roro, Maria Gadú e vários outros artista

Agora Swoboda (seu sobrenome tcheco) está de volta com um novo clipe de um som novo e inédito, feito com toda a liberdade de tempo possível. “Meu Dengo” versa sobre amores e desamores em tempos de política que nos separa. Foram mais de 10 anos de experimentos sonoros e agravamento extremo na polarização política do Brasil até a canção ficar pronta e nascer. E foi só num rolê pelo Nordeste que finalmente a música achou suas camadas.

O resultado é uma mistura que varia entre termos como MPB marginal e pop chapado. É como se Alcione tivesse dado um tempo em Olinda fumando um beck com algum gringo muito doido. Uma prensa de música brasileira, nordestina e do mundo. Para entender um pouco mais, Renata fala sobre “Meu Dengo” na conversa abaixo.

A letra de “Meu Dengo” parece ter uma profundidade emocional e introspectiva. Você pode nos contar mais sobre o que a inspirou e como o processo de composição se desenrolou?
Era uma vez dois amigos fazendo faculdade de música. A gente sentava nas graminhas atrás da biblioteca para trocar uma ideia entre as aulas, fazer uma fumacinha e um som. Um abençoado dia ele me contou que tava de lance com uma gata que foi super cruel com ele porque ele tava usando a camisa do VOTO NULO, ela até xingou ele. E assim surgiu a música… ele começou o refrão “Oh minha preta, que eu chamo de bonita, fez cara feia pro meu samba sem partido…” E o refrão fizemos bem juntinhos tipo um diálogo mesmo, ele disse: “canto com as minhas pregas, canto com o meu suor”, eu disse: “nas ruas sou mais um que grita para que as ruas fiquem bem melhor”, ele: “eu não jogo as tuas regras 10% da conta vai pro goró”! E ‘vai pro goró’ foi meio que uníssono hehe. E eu falei “essa vai pro meu repertório, Rafa”! Na hora ele disse “é tua”! E fui terminando ao longo do tempo. O mais louco é que 10 anos depois eu fui entender na pele o que ele sentiu, pois a pessoa que eu mais adorava com todo meu coração foi extremamente cruel comigo por conta da mesma música. Mas isso é papo para o próximo lançamento… Um lamento.

O clipe tem uma estética retrô e psicodélica muito forte, com efeitos de cores vivas e sobreposições. De onde veio a ideia de misturar essas referências visuais com a sonoridade da música?
A história do clipe é muito interessante, pois eu tava numa mostra de curtas em Recife e dois clipes meus foram exibidos. E eu me apaixonei pelo curta “Em Trânsito”, do Marcelo Pedroso. Na hora eu falei “é isso! A música Meu Dengo fala sobre isso!” Anos e anos apostando na indústria automobilística, carros, petróleo… uma hora tudo ia pegar fogo! A gente trocou uma ideia lá mesmo e nosso pensamento em torno de questões políticas foi muito parecido. Não aguentei, uns dias depois perguntei se podia fazer uma releitura do curta para fazer um videoclipe da música e ele topou na hora, foi um queridão.

A psicodelia, tanto na música quanto nas imagens, muitas vezes remete a uma busca interior ou espiritual. Como esses temas se relacionam com a sua visão de mundo e sua arte?
Sim, a busca interior sempre vem, pelo amor ou pela dor, pelo desdém ou pelo amém. Essa busca está intimamente relacionada por uma busca mais significativa e afinada pelos sons, que transborde essa pulsação interior. No caso de “Meu Dengo”, eu estava nos anos mais utópicos e lindos dessa vida bandida e foi uma parceria com meu melhor amigo, deve ser por isso que ficou tão especial. Um dia vou soltar uma canção que fiz sobre minha experiência com a ayhauasca, mas essa ainda está em desenvolvimento, é pra outra entrevista ou quem sabe outra dimensão.

– Diego Albuquerque é o criador do blog Hominis Canidae, um dos maiores repositórios de discos brasileiros da última década. O blog foi criado em 2009, no Recife, e divulga novos artistas e nomes indies da música brasileira, de norte a sul do país.

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