Entrevista: Um bate papo com as Fin del Mundo sobre caipirinha, a vida na estrada e o novo disco, “Hicimos Crecer un Bosque”

entrevista de Bruno Capelas
colaboraram Igor Muller e Marcelo Costa

Dona de um dos melhores shows do festival Se Rasgum 2024, a banda argentina Fin del Mundo soube neste ano o que é viver na estrada: foram 32 shows, entre viagens ao Brasil, México, Espanha, França e Suíça. A experiência de tocar em tantos palcos pelo mundo, muitas vezes para plateias sendo apresentadas ao seu som naquele instante, fez a banda ganhar cancha e confiança, além de se divertir muito debaixo dos holofotes.

Agora chega a hora de conferir o resultado de uma temporada entre aeroportos, hotéis e passagens de som em “Hicimos Crecer un Bosque” (2024), o recém-lançado segundo álbum do grupo formado por Lucia Masnatta (guitarra e voz), Yanina Silva (baixo e vocais), Julieta Heredia (guitarra) e Julieta Limia (bateria). Vindas da Patagônia, as quatro passeiam por dream pop, shoegaze, post-rock e sonoridades dos anos 1980, em um resultado tão charmoso quanto viajante.

Às vésperas do lançamento do novo trabalho, as quatro explicam que o disco é uma consequência não só da confiança ganha nas turnês, mas também de uma busca da música como escape da realidade. “Para nós, compor esse disco foi um espaço de refúgio, especialmente com o que temos vivido na Argentina. Estamos em uma situação ‘no muy linda’. A música foi um lugar onde encontramos o que necessitamos, a companhia entre amigas e falar, tomar uns vinhos e nos divertir”, disserta a vocalista Lucia.

Nesse papo rápido na coxia do Se Rasgum, em Belém, após um show consagrador enquanto o pessoal do DIIV desmontava seus equipamentos, as argentinas falam mais sobre turnês, crescimento enquanto banda e sugerem nomes novos para escutar na cena argentina. Elas também se derramam de amores pela comida brasileira e torcem logo para voltar para cá para provar “o açaí de verdade” e muitas caipirinhas. Saúde!

Esta é a segunda turnê que as Fin del Mundo fazem pelo Brasil. O que mudou na banda desde a primeira passagem por São Paulo, em março?
Lucia Masnatta: Nós tomamos mais caipirinhas! (risos)

Julieta Limia: Nós temos mais músicas novas, também. Neste show que fizemos agora, trouxemos pelo menos cinco músicas que estão no novo disco, “Hicimos Crecer un Bosque”. São canções que estamos trabalhando e que saem no dia 18 de outubro. Acho que é a principal diferença, assim como tocamos mais tempo desde então.

Vocês têm excursionado muito nos últimos meses. Como a banda evoluiu com essa vida na estrada?
Julieta Heredia: É um período de muito treinamento! Tocamos na Europa por duas semanas e agora estamos no Brasil, depois vamos ao México. São muitos shows seguidos e isso nos deixa afiadas.

Yanina Silva: Acho que também temos mais confiança de tocar ao vivo. Nós estamos nos divertindo muito mais no palco e isso cria uma conexão com o público.

É algo que dá pra notar facilmente!
Yanina Silva: Sim, nós nos divertimos muito! Quando há um festival com “buena onda”, onde todos trabalham para que o som funcione, isso faz muita diferença. É o tipo de coisa que faz um artista se sentir confortável e pronto para dar o seu melhor. Acho que é um trabalho coletivo, não só dos músicos, mas também de quem cuida da infraestrutura.

E o que vocês fizeram por aqui, em Belém?
Julieta Limia: Não tivemos muito tempo! Chegamos hoje, e fez muito calor. Queríamos conhecer o mercado (Ver-o-Peso), mas desistimos para dormir um pouco, porque não dormimos nada em São Paulo (nota: onde elas tocaram na noite anterior). E hoje vamos ter de sair às 2h da manhã para ir para o México. Não gosto de fazer isso, é sempre bom conhecer as cidades em que tocamos, mas hoje infelizmente não tivemos tempo.

Yanina Silva: Esperamos que da próxima vez a gente consiga ter mais tempo aqui!

Julieta Limia: Nós sempre queremos ter mais tempo para comer a comida brasileira! Conseguimos experimentar alguma coisa, mas há frutas, disseram que há muitas frutas para comer por aqui.

Yanina Silva: E muitos sorvetes!

Sim, os sorvetes daqui são incríveis! Especialmente os daqui de Belém, com frutas do Norte do Brasil!
Julieta Limia: Ah! Sério? E o açaí! Queremos provar o verdadeiro açaí que se prova aqui. Teremos que voltar.

Lucia Masnatta: Teremos que voltar para comer o açaí. Sou muito fã do açaí doce, mas preciso comer o de verdade.

O que esse disco“Hicimos Crecer un Bosque” traz de diferente para o que vocês gravaram anteriormente?
Julieta Heredia: Estamos mais confiantes como artistas, com mais certeza sobre as nossas músicas. Acho que pudemos trabalhar mais as canções, elas também são mais rápidas e nós nos divertimos mais ao executá-las. É um disco cheio de coros, em que todas cantam ao mesmo tempo. E já estamos nos divertindo muito ao vivo tocando essas músicas.

No texto de apresentação, há uma sugestão de que “Hicimos Crecer un Bosque” seja um disco conceitual. Como assim?
Lucia Masnatta: Para nós, compor esse disco e a música foram espaços de refúgio, especialmente com o que temos vivido na Argentina. Estamos em uma situação “no muy linda”. Nós nos encontrávamos para compor e a música foi um lugar onde encontramos o que necessitávamos, a companhia entre amigas e falar, tomar uns vinhos e nos divertir.

Julieta Limia: “Hicimos Crecer un Bosque” é a realização disso em torno da música. É um lugar onde podemos nos encontrar, passar um tempo bom e aplicar toda nossa criatividade.

Yanina Silva: Acreditamos que é muito importante o conceito de comunidade. Não é sobre uma árvore, mas sim sobre um bosque – e fazer crescer a própria comunidade através de laços que se criam pela música, laços que vamos formando em diferentes lugares, como aqui no Brasil. Aqui nos recebem tão bem, é muito bonito.

Por falar em comunidade, como andam as bandas na Argentina?
Julieta Limia: Temos a sorte de que na Argentina surgem bandas incríveis a todo o tempo. E há muita cooperação entre elas, mesmo que sejam de gêneros diferentes. Todas dividem os mesmos palcos e se ajudam muito. É o que precisamos agora nesse momento do país.

Que sugestões vocês têm para nós escutarmos?
Yanina Silva: Plenamente, Nadar de Noche, Pelly Peligro, Buenos Vampiros, Si No Muere…

Julieta Limia Há muitas bandas boas mesmo nesse momento! Os Buenos Vampiros são uma banda que tem feito muito barulho agora. Vocês têm que ir para Argentina vê-los!

E quando vamos voltar a ver vocês no Brasil?
Lucia Masnatta: Não sabemos!

Julieta Heredia: Não temos certeza ainda, mas estamos tentando algo para março ou abril de 2025, nessa época. A parte boa é que estamos perto de vocês, então é fácil voltarmos aqui.

Julieta Limia: E estamos muito felizes porque sempre nos recebem muito bem aqui no Brasil. Nós não sabíamos que íamos chegar em São Paulo e haveria 600 pessoas para nos ver tocar. É uma loucura! Nos sentimos muito abraçadas pelo público!

Pra encerrar: caipirinha ou fernet cola?
As quatro, em uníssono: Caipirinha!

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista. Apresenta o Programa de Indie e escreve a newsletter Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais. Colabora com o Scream & Yell desde 2010.

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